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A NOVA PROPAGANDA BRASILEIRA
Acadêmico: Roberto Duailibi
Nas redes sociais ninguém é feio, nem gordo, nem malsucedido. Todos se apresentam sem problemas familiares, financeiros, nem com mazelas amorosas.




A propaganda sempre viveu de ciclos e um bom caminho para entender essas mudanças de fases é observar o que diz a garotada. Refiro-me ao que dizem os jornais, as TVs, as emissoras de rádio, a mídia digital e, claro, as redes sociais. Sobretudo as redes sociais, pela acessibilidade democrática, são o espelho das ruas e até onde pode ir a idiotice humana. Esse exercício, aparentemente simples, é, na verdade, um complexo caminho para se chegar ao que de fato as pessoas estão procurando como consumidores da boa propaganda. Para ser bem-sucedido numa campanha, numa agência, é preciso ter essa capacidade de interpretação, a sensibilidade aguçada para sentir qual será de fato o melhor caminho. É preciso perceber o que dá e o que não dá para continuar fazendo.
É preciso, antes de mais nada, dizer que há uma tênue linha entre o sucesso e o desastre. De repente, uma ideia, uma iluminação, insight, aparentemente genial, pode revelar-se um desastre se a opinião pública a entender de forma preconceituosa ou politicamente incorreta. Talvez por isso haja excessiva cautela na aprovação de campanhas por parte dos clientes. Diante de tais riscos, não lhes tiro a razão. O poder de um levante, um movimento contrário, pode pôr em risco não apenas a campanha, mas a própria existência de uma marca ou empresa. Hoje, o cuidado com a reputação é plenamente cabível e temos aí no mercado centenas de exemplos ruins para justificar o comportamento excessivamente cauteloso.
De antemão, contudo, as fórmulas prontas e exaustivamente usadas até hoje parecem dar sinais de que entraram definitivamente na UTI. Por exemplo, o uso indiscriminado da mulher como objeto do desejo, como apenas um instrumento machista para se vender cerveja ou outros produtos. Ou ainda o personagem que fica gritando para anunciar ofertas populares de móveis e eletrodomésticos. Isso fere aos ouvidos, irrita as pessoas e, certamente, desagrada a ponto de a propaganda exercer o papel contrário ao seu objetivo. Outra coisa que ninguém aguenta é propaganda chata, sem bom gosto criativo, com humor cansado. O comportamento das pessoas nas redes sociais, em suas análises políticas, em suas preferências, está transformando o Brasil. De repente, todo mundo sentiu que pode usar as redes para expressar seus desejos e opiniões. As redes sociais, mais do que veículos de comunicação, se transformaram em divãs, onde todos sentem a necessidade de mostrar o que comem, com quem saem, lugares que frequentam, viagens etc. É um pouco os 15 minutos de fama. Falam de comportamento, de vida, de esporte, brigam por política, por futebol. Tiram 200 fotos para escolher a melhor e postam nos seus perfis como quem fala que aquela é a forma como ela quer ser vista por todos.
Os pets têm destaque especial, assim como as árvores e flores. Passeios bucólicos, baladas e lugares paradisíacos têm a preferência da maioria, assim como pratos em restaurantes elegantes. Então, se a propaganda é o reflexo da sociedade em que vivemos, é preciso que haja sempre e a todo momento uma sintonia entre o que se produz nas agências e essa geleia geral em que vivemos. Não cabe a quem cria apenas dar de ombros, discordar. Pessoalmente pode até pensar diferente, mas a quem faz propaganda é mais relevante entender o que vai na cabeça da maioria. O que as pessoas dizem, como se relacionam, o que querem ouvir e o que querem ver. Ainda que suas realidades sejam diametralmente diferentes, o consumidor quer ser tratado como consumidor e quer receber as mensagens que lhe agradam, a seu modo. Quem entender isso tudo, quem tiver esse lampejo, quem colocar em prática essa nova realidade, certamente sairá na frente.



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