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DISCURSO DE RECEPÇÃO PELO ACADÊMICO RUBENS TEIXEIRA SCAVONE
Acadêmico: Benedito Lima de Toledo
"Escritor Luiz Carlos Lisboa.Sede bem-vindo, orgulhosos estamos de vossa presença. Acolhido fostes mediante direito de conquista"

Meu primeiro encontro com Luiz Carlos Lisboa já vai distante, aconteceu em certa noite de 1973, no auditório da Câmara Brasileira do Livro, quando o ora empossado recebeu o prêmio Jabuti, ante o trabalho desenvolvido através da imprensa na difusão da cultura. Foi o primeiro contato, físico destaco, pois de longa data já o conhecia, perseverante, na faina constante e profícua, no jornalismo carioca e paulista.

Agora, ante a produção exaustiva e multifária de Lisboa, reavalio a distinção que lhe foi concedida e não tenho dúvidas em lhe outorgar, retrospectivamente, mais dois prêmios, com absoluta justiça, mais dois Jabutis, como ensaísta e contista.

Meu vínculo com o novo acadêmico ocorreu em circunstância singular, envolvendo mais duas pessoas. Conexões intelectuais, que possibilitaram minha aproximação do laureado: Maria de Lourdes Teixeira, minha mãe e seu companheiro, José Geraldo Vieira.

Maria de Lourdes morreu embalada pelos livros e pela escritura, na paz ideal de quem - em seu derradeiro reduto, sob a brisa dos ramos e a luz de inverno - encontrou lenitivo supremo não apenas no ler e no escrever, mas em seu amor pela solidão. A mesma "mãe solidão", como nomeava o poeta Milosz, solitude que lhe conferia o mais elevado grau de percepção das coisas e do mundo, como escreveu em sua autobiografia, pouco antes de embarcar na última viagem, tripulando sua Carruagem Alada.

E foi por ela e seu companheiro que fui levado - dezenas de anos atrás - ao já mencionado Milosz, ou mais precisamente ao poeta lituano Oscar Venceslas Lubics-Milosz, nascido em 1877, no castelo medieval de Czéreia.

Afoguei-me assim no volume 17, da Coleção Poétes d aujourd hui, das edições Pierre Seghers - adquirido por José Geraldo empolgando-me numa poética que de pronto me subjugou, desvendando-me escaninhos inéditos de sensibilidade e estética. E, sobretudo, renovando minha convicção incipiente de que a poesia era em verdade a kind of unconscious autobiography, como considerava Robert Penn Warrem, reconhecendo no poeta a mesma e autêntica força criadora cumprida pela natureza.

Muitos e muitos anos passados, morta minha mãe, antecedida por José Geraldo, eis me só, em plena madrugada do Cerro Azul, acassalado à vasta biblioteca, entretido na faina piedosa e sagrada de escolher dentre os milhares de livros, aqueles que deveriam acompanhar-me para sempre, em São Paulo, pois já não mais suportava o vazio agônico que campeava pelo Cerro, a quase angústia que provocavam as duas ausências.

Assim deparei com o livro de Milosz, agora encadernado em pelica branca, com os dourados amortecidos pelo tempo. Tomei do volume, percorri-lhe as páginas, procurando os poemas amados: a rainha Karomama, Dans un pays d enfance, Tous les morts sont ivres, Symphonie de Setembre...

E, subitamente, do interior do livro escapa para o chão um recorte de jornal que me aprestei em recolhe-lo: Um eremita fala de amor, texto assinado por Luiz Carlos Lisboa, Jornal da Tarde, 7 de maio de 1985.

Escolhi a mais confortável poltrona, enfrentei Lisboa: Milosz reverberou na memória, renasceu o encantamento longínquo, a presença fantasmática de minha mãe invadiu o ermo relvoso do Cerro e, desde as primeiras linhas do artigo, foram dois sensíveis que me possuíram, na floresta de Fontainebleau: o paulista por adoção e o lituano. Ambos tomados sob a inspiração de Francisco de Assis...

Li e reli, não sei quantas vezes o recorte do jornal, Luiz Carlos Lisboa, em 124 linhas revelou a essência do autor das Confissões de Lemuel, dizendo da vida, da poética e da prosa do lituano, destacando-lhe o apego à solitude, auto-imposta pelo autor dos Cânticos da primavera, o eremita de Fontainebleau, que havia eleito o isolamento, a maneira do poverello de Assis, em santa vigília, alimentando aves e pequenos animais, evitando morrer de frio, pois se morresse, como poderia resgatar o mundo?

Milosz, como se definiu, em Méphiboseth: Maintenant, je peux dire que jai vécu parmi les hommes. Je sais comment ils aiment: je sais comment ils pleurent. Mais rien ne vaut la solitude...

A mesma solidão decantada por Lisboa, a mesma implorada por minha mãe e, por Deus, obtida.

Compreendi a paixão de Maria de Lourdes por Milosz, e o motivo pelo qual o recorte foi conservado com tanto carinho, inserido no escrínio certo, em meio aos poemas de quem clamava: Solitude, ma mére, reditesmoi ma vie!

A decisão foi imediata: procuraria Lisboa, entregar-lhe-ia o volume e o texto. José Geraldo e eu já havíamos assimilado a poética tranqüila e rarefeita, a beleza evolada já havia se gravado na memória e, minha mãe, já usufruíra da harmonia e paz da segregação. Nas mãos de Lisboa o volume estaria bem guardado, reconhecimento e homenagem, da mãe, do companheiro e do filho, a quem tão bem acolheu o poeta, Milosz, "grande senhor do país dos lobos e das neves", ressuscitando o solitário engolfado de amor, num escrito de invejável sensibilidade, emanado de alguém que certamente amava a solidão.

Senhores acadêmicos, minhas senhoras e senhores.

Se alguém merece os privilégios desta Casa e da imortalidade acadêmica, esse alguém é o atual ocupante da Cadeira número 6, digno sucessor do ilustre e saudoso Honório de Sylos. Alguém que, em manifestações múltiplas e constantes mergulhou fundo no oceano infinito da literatura, condição da qual se tornou acólito submisso e brilhante.

Vária e numerosa a obra do empossado, cujo balanço momentoso - transcende a simples tarefa informativa, próprio do jornalismo, ao qual integrou-se de longa data.

Superando a atividade, quase sistemática, do rewiewer - que sempre exerceu com proficiência invulgar - Luiz Carlos Lisboa se concentrou sobretudo a certa profussão de textos que excedem a crônica ou o simples artigo; produção incomum, autênticos ensaios, legítimos patterns de cultura. Que, em conjunto, e em progresso contínuo, insinuam a paidéia, adequada ao dromos do nosso tempo, cuja característica radical é o reconhecimento holístico do conhecimento, tangenciando ainda a dramática relação humana, confluindo com a realidade planetária.

Submisso ao seu módulo de humanismo integral, esbanja Lisboa não apenas a sensibilidade aguçada mas ainda erudição invejável e a criativa. Ou sejam os ingredientes fundamentais contidos no conceito de literatura, manifestação superior de expressão, aceitando-se o entendimento modelar helênico.

Assim, tranqüilo, sutil, engenhoso e perseverante, avança Lisboa tentando decifrar as faces infindas do enigma humano.

A espécie aturdida pela ciência, confusa ante a experiência religiosa, tomada pela violência, seduzida pela Arte, achincalhada pela política, dominada pela fantasia, amparada pelo utópico, seqüestrada pelas paixões, possuída pela verdade, consolada pela filosofia, assediada por demônios, temente da morte, ensandecida pela dúvida, fascinada pelas espirais galácticas, embalada em sonhos.

E, em especial, drogado o terrestre por certa melodia de Mahler, pela divina proporção de Luca Pacioli, magnetizado pela Voyage au bout de la nuit, de Céline ou algum pensamento de Mestre Eckhart sobre a Divindade, ou mais ainda estigmatizado pelo teatro de Marivaux ou as santas tarefas de São Pacômio ou Basílio.

Atento o novo Acadêmico às incongruências atrozes e não raro perversas que se apoderam da humanidade, alheia ao princípio evangélico de não resistir ao mal, trágica essência do rastro humano, que nos leva a acreditar que a Terra é realmente fiscalizada por centenas de demônios (distribuídos em hierárquicas incontáveis, que atendem aos mais esdrúxulos apelidos - Rofocale, Lusifuge, Satanachia, Bafomé, Marchosias, Belzebu, Vassago, etc.) bem especificados por James Blish, quando faz da ficção científica o meio pavoroso de levantar a capacidade humana em dissiminar todos graus de malefícios.

Estas, a grosso modo, as cogitações de Lisboa, matéria prima para seus ensaios sintéticos, atilado e sensível, enfático, anuindo com Píndaro ao escolher certo verso que resume o sensório do empossado, epígrafe de um de seus trabalhos: "Se no céu aprender é ver; na Terra aprender é lembrar-se”.

Daí a denominação da obra de Luiz Carlos Lisboa: Olhos de ver - Ouvidos de ouvir, no qual reuniu muitos dos textos decorrentes daquilo que nomeamos de conexões humanas planetárias. Integrado o autor ao Novo Testamento: "Quem tem olhos de ver que veja; quem tem ouvidos para ouvir que ouça", aforisma que poderia concentrar a tragédia ecológica e o horror terreno desencadeado neste fim de milênio.

Grande parte das escrituras dessa obra relaciona-se com o terceiro planeta solar, degradado progressivamente pelo neurofungo evoluído, predador e devastante.

Mais do que objurgatórias os textos assumem a condição de nênias, réquiem para Gaia devastada, pranto funerário ante a face indeterminada da natureza, que vai se despedindo aos poucos das benesses propisciatórias do fenômeno vital: florestas que se extinguem, animais que agonizam, cantos de cetáceos azuis que emudecem, águas que assimilam venenos, ecossistemas que se desagregam, troposfera inundada de tóxicos que ignoram o direito de respirar. Gea, entidade viva, gangrenando aos poucos, em anúncios de certa primavera mortal.

Um bem desvalorizado é o título da matéria inaugural de Olhos de ver, Ouvidos de ouvir, Lisboa, tecendo considerações sobre a idéia da Arte, afirma que a mente criadora exibe-se pela permanente investigação, buscando novas perspectivas para o espírito humano. A mente criadora, para Luiz Carlos Lisboa, é aquela que se revela pela pesquisa constante, pois as chamadas "verdades definitivas" repugnam os lídimos criadores. Assim os autênticos artistas, com missão a cumprir, só podem nutrir-se da mais completa liberdade, condição unívoca, capaz de gerar, como Arte, a invenção literária.

Ora, os escritos, os conjuntos de idéias concentradas nos ensaios de Lisboa, evidenciam primariamente a investigação irrefreável, flagrante que, por evolução elementar a expansiva, haveriam de conduzi-lo à ficção descompromissada, centelha ocorrente, límpida, nos domínios artísticos.

É dentro dessa inevitabilidade, no aperfeiçoamento do processo, que acolhemos a ficção, os contos contidos no volume Ante-Sala, quando o autor alijando-se do especulativo real e graças ao inventar constante, arroja-se às narrativas, que bem pouco tem a ver com o conto, nos moldes clássicos, digamos maupassantiano.

A maioria da ficção do empossado encharca-se do alheiamento do mundo, redusubmetidas as coisas reais ao tênue e insistente olhar contemplativo, significante todavia em termos emotivos. Desse ângulo seus personagens são mais espectadores do que atores, em sua maioria imersos em puro drifiting - expressão fascinante, admirável, intraduzível que nos consigna aos domínios do devaneio e do onírico, vida intermediária; quando o tema e o espaço ondulam apenas, desprovidos de limites nítidos - como a janela, explodindo em luz da capa do livro - sugerindo o débil fio de enredos vagos, o movediço, o instável, estímulos que se cruzam por fendas cambiantes de realidade. O insubstancial se impõe através das minúcias: lanternas vermelhas dos carros, o vazio confortável, os botões da registradora, o grande copo cristalino, o par de olhos em periscópio, a pedra enrugada do promontório, o sapato da mulher caído na calçada, a melodia composta pelo ritmo do trem, a folha de tinhorão, a jovem olhando-se no vidro da janela, o estalar do fecho da bolsa, o não macular o gesto com o excesso de palavras, os desenhos dos ficus, a imobilidade da rosa de papel, a cadeira de balanço de Matilde, o chiado das cigarras, a cravina e a violeta.

E, pairando sobre os contos, o mistério metafísico do drifiting, nevoa e brumas sobre a vida, a impostura dos sonhos, o bailado levitante da fantasia, a "meia tontura", o conto remebrança.

O anti-climax é da essência ficcionária de Lisboa. O existir tremula, ilusório como película cinematográfica, na multiplicidade de fotogramas, imagens isoladas, estáticas, ávidas de interpretações.

Luiz Carlos Lisboa se decide pelo imoto, apatia de circunstâncias, explorando a magia do instante, quase sempre perpassado de angústia, insinuando personagens inconsistentes, de Andrei Tarkovskij, já que falamos em fotogramas.

Nas amostras de sua humanidade a grande parte das criaturas está congelada, o abúlico é fluxo permanente.

Nos exemplos do seu humano inserem-se as tatuagens do cotidiano, personagens oblíquos, deambulando em labirintos privados, impalpáveis e fluidos. Acomodados ao intraduzível drifiting. Dúbio significado, que pode ser aceito como o fluxo e refluxo das ondas, remoinho marítimo, efeito de brisas, vendavais: carregando coisas ao léu, vidas de quem jamais pode valer-se do livre arbítrio.

Tais personagens mudam apenas de nomes, parecem ser as mesmas criaturas, trabalhadas com o mesmo indiferente vital, assoberbadas na ocupação corrosiva de Sísifo, exalando niilismo camusiano.

Circunstância bem exemplificada naquele velho de Hemingway, freqüentador do Clean well-lighted Place que, na penumbra do café espanhol e trevas de horas mortas, conhecia bem da entidade Nada. E que se põe a ruminar em voz alta (sololóquio digno do Ato III, cena I, do Príncipe da Dinamarca), certa cantilena-jaculatória: Nada y pues nada y nada y pues nada. Nada nosso que estais no nada, nada seja o vosso nome, venha a nós o nosso nada. O nada de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos o nosso nada.

E assim por diante, desvalimento irreversível, submetido à luz baça incidente.

Em resumo: os atores de Luiz Carlos Lisboa parecem encharcados de nothingness, seguros da inadequação das relações humanas, estiolados, esperando talvez em vão o arquetípico e arcaico passeio ao farol, brilhando e luzindo nas águas encapeladas da Cornualha.

Das dezesseis estórias de Ante-Sala (com certeza Ante-Vida), assumo o curto mas expressivo Encontro com o mar.

Enredo, nublado: subsistem apenas estados de consciência. Avulta o mar, arrebentação violenta, o muro de espuma que se armava e caia, apenas sensações, sobreposta ao cromo marítimo; saudades, lembranças, tudo se entrelaça no emotivo. Evoco as linhas do sueco Pär Lagerkvisto (o mesmo título, o mesmo encontro): "O mar santo, sem destino, sem qualquer destino... Apenas o mar santo. Duas interpretações, de uma só e pungente realidade.

Nova Era, editada em 1988, integra experiência sui generis: literatura e música, simbiose perfeita.

Duas emissoras de rádio - em São Paulo e no Rio de Janeiro programaram aos domingos audiência inédita: melodia e voz. Programa raro, precioso, musica riservata, lançada a público eleito, privilegiado, na qual se destacava a mais rarefeita espiritualidade ante o acordo artístico proposto.

A escolha musical acontece por Mirna Grzich (discografia constante ao final do livro), os textos, em sincronia, criados por Luiz Carlos Lisboa. "Pequemos pensamentos", como nomeou a responsável pela seleção musical. Ao todo 147 escritos, autônomos, um em cada página, ocorrendo ainda ilustrações, abstratas e figurativas.

Difícil caracterizar a prosa: meditações, preces ou poemas, como foi aventado pelo editor; talvez epigramas ou aforismos poéticos; de qualquer modo colagens adequadas aos characteribus, figuris e incantationibus, próprios da música, como diria o Diabo - em diálogo com o iluminado Adrian Leverkühn, através da precisão discursiva de Thomas Mann.

Relembro certa obra de Dürrenmatt - O vale do Caos - na qual encontrei denominação que parece se adequar aos pensamentos de Lisboa.

Fala o mestre suíço de um apagado mestre-escola, de sessenta anos Adolf Fronten - gigante com cabelos e barba de fogo, espessas sobrancelhas brancas e de neve sobre duros olhos azuis que, em certa etapa da vida, lançou-se compulsivamente a escrever frases, apenas frases, logo qualificadas como "suportes para reflexão". Lacônicas, todavia demandando exegese complexa, o mestre exornava o surrealista. Frases que, editadas em vários volumes, fascinaram a crítica.

Ora, o empossado não andou muito distante de tais "suportes" para o reflexivo, pois seu objetivo coincide com a reflexão.

Mas sugerimos ainda outra alternativa ainda, mais preciosa e prestante, alinhada à proposta didática do zen, constante do koan: enunciados curtos e incisivos, destinados a induzir a meditação. Centelha tendente à expansão da consciência, exaurida em poucas linhas, endereçadas aos noviços, discreta propiciadora da iluminação.

Se duas são as tendências do zen - a quietude e a intelecção - os exercícios do koan emanam dos mestres mais antigos, através de indagações, para ativar a mente iniciática na procura e na invenção. O koan, técnica propedêutica, indispensável porta no longo roteiro para o Dharma, a verdade, receptivo absoluto.

Vejamos, algumas linhas de Lisboa:


“Não basta esperar que um novo tempo amadureça. Nós somos esse tempo que se transforma e renasce de um tempo que acaba”.

"Um pássaro numa gaiola, a dobra de uma toalha, a sombra de uma árvore fazendo desenhos no chão - quando essas coisas são chamadas de pequenas coisas", é por estarmos distraídos do conjunto - e talvez desligados da vida".

"Um pássaro não canta para ser ouvido pelos homens, e a lua ilumina do mesmo modo os caminhos desertos, é noite. Nas pessoas também, a beleza acontece desse mesmo modo anônimo, sem consciência de efeito, sem lembranças da beleza".

Conquanto tais pensamentos não sejam revestidos como perguntas, mas como simples declarações, a matéria é projetada sobre a mente do receptor, incutindo-lhe substância para refletir; escancarando-lhe o eu profundo, conduzindo-o à recriação, suporte fértil para a concepção.

Acreditamos, de bona fide, que tais proposições de Lisboa (exemplos apenas), seriam endossadas com tranqüilidade, pela natureza mística da auto-intoxicação por Sekito, Shodai, Gyohi, por muitos mestres do zen, quiçá pelo próprio Daisetz Suzuki.

Mesmo não tendo ouvidos os programas, podemos imaginar-lhes os efeitos.

Os "suportes para reflexão", os koans, as músicas e as palavras.

Não conhecemos todas as composições musicais arroladas ao fim do volume, das muitas delas são velhas conhecidas, fácil imaginar a ensamblagem e os resultados estéticos: o expresso por Luiz Carlos Lisboa e a Oitava Sinfonia de Mahler: as sentenças e os Planetas de Holt; as linhas e a abertura de Egmont; os ditos e a pavana clássica de Ravel; as frases e as dissonâncias de Ravi-Shankar. E por que não Philip Glass, com sons liquefeitos, sugerindo imagens cromáticas das mulheres de Gustav Klint, rodopiando sob os estímulos das elocuções de Lisboa?

Senhor Luiz Carlos Lisboa: muito mais poderíamos aduzir à vossa obra, se mais arte e engenho possuíssemos. Lastimo a ausência neste auditório, de Maria de Lourdes Teixeira e de José Geraldo Vieira. E porque não, concentrado nesta mesma cerimônia - em séance mágica, envôuter - o franciscano Oscar Venceslas de Lubics-Milosz, e, pranteando em surdina a triste rainha Karomama, du trés vieux temps.

Pois, afinal, não foi o lituano quem nos aproximou?

Escritor Luiz Carlos Lisboa.

Sede bem-vindo, orgulhosos estamos de vossa presença. Acolhido fostes mediante direito de conquista, escolheis vossa poltrona, pois quase sempre tripulamos condições extravagantes, excêntricas que nos levam a esquecer esta esfera aviltada e moribunda. Mas não importa, acionaremos as turbinas da imaginação e decolaremos unidos em busca do reino utópico e fantástico da chamada literatura, continente que nos assoberba.

Acadêmico Luiz Carlos Lisboa, integrai-vos em nossa equipagem, em vossa companhia, certamente, nossos intentos oníricos, com mais facilidade, serão alcançados.



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