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MEU AMIGO SÉRGIO WESTIN
Acadêmico: José Renato Nalini
De onde estiver, Sérgio Westin sabe que me confortou, e o quão valiosas continuam a ser suas palavras, quase dezoito anos depois.

Meu amigo Sérgio Westin

Aos poucos abrem-se clarões em nosso jardim de afetos. Raros exemplares humanos partem para o mistério. Ficamos com as memórias.

Tem-se a impressão de possuir mais pessoas queridas que já se foram, do que as que ficaram. Coisa de idoso. De quem já percorreu quase todo o trajeto e agradece a cada dia que ainda lhe é conferido participar desta aventura tão efêmera, quão frágil.

Já falei dele outro dia, mas encontro em meus guardados, mensagem recebida em 10 de dezembro de 2005, do meu amigo Sérgio do Amaral Westin Cabral de Vasconcelos.

Estudara com ele durante o curso científico do Colégio Divino Salvador. Era sumidade em física, disciplina que sempre me causou estranheza. Mas éramos contemporâneos, assim como de seus irmãos Luiz Philippe e Maria Cristina. Os pais eram a extraordinária D. Lydia, da família de Tarsila, e o Dr. Philippe Westin Cabral de Vasconcelos, grande especialista em agronomia. Fez muitas perícias para a Justiça e, por causa disso, visitou-me várias vezes quando eu iniciava a carreira na Magistratura, na inesquecível Barretos, terra do chão preto e do peão de boiadeiro, onde nasceram meus dois primeiros filhos: João Baptista e José Renato.

Sérgio lera o artigo que eu escrevera, neste mesmo espaço, quando perdi minha mãe, em 17 de novembro de 2005. Em sua missiva evidenciou sua sensibilidade: “Fazia muito tempo que eu não sentia o tradicional e fora de moda “nó na garganta”, mas depois de ler o que você escreveu, tive um tão grande que faz vários dias que estou enrolando para voltar a escrever. Você e eu tivemos a sorte de ter mães que moldaram nossas personalidades e nossas vidas, mas você foi ainda mais afortunado por tê-la sempre perto de ti. Você teve a “ventura de ter mãe até os 60 anos” e de haver estado com ela até os últimos momentos. Morro de inveja! Infelizmente, quando minha mãe nos deixou eu estava perdido num fim de mundo da África e nem pude voltar para despedir- -me dela”.

E continua: “a sua página me fez voltar no tempo, para uma época em que as coisas eram menos complicadas, mais humanas e mais obedientes a costumes e éticas que, aparentemente, já caíram de moda. Por isso, é importante que gente como você continue cultuando a família e os valores que nos foram transmitidos para servir de exemplo aos que agora nos sucedem”. Conclui dizendo: “Eu não vou dizer “meus pêsames” nem nenhuma dessas frases feitas porque nós dois sabemos que sua perda foi irreparável. Deixe que o tempo amorteça sua dor. Continue falando e escrevendo sobre os seus sentimentos porque numa época em que somos obrigados a assistir, sem participar, de todas as catástrofes do mundo, é importante que as pessoas saibam que não há vergonha em dizer-se: “Sim, eu choro, eu tenho sentimentos, eu sou humano”. Siga em frente, continue escrevendo. Para Cecília e para mim, você é um elo importante que mantemos com o nosso povo e com a nossa cidade”.

Confesso que não me lembro de haver respondido a esse carinho do Sérgio. Porém conservei suas palavras e as releio agora, com emoção potencializada em virtude de sua partida. Achamos que teremos tempo para mostrar às pessoas como elas foram importantes, como nos tocaram em momentos importantes, quando estávamos premidos por angústia e sofrimento. Nem sempre isso é possível. Por culpa nossa. Fieis cumpridores das rotinas desinteressantes, descuidados quanto ao principal.

De onde estiver, Sérgio Westin sabe que me confortou naquela fase. E o quão valiosas continuam a ser suas palavras, quase dezoito anos depois.

Publicado no Jornal de Jundiaí, em 03 09 2023



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