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ECOLOGIA É LUCRO
Acadêmico: José Renato Nalini
Quando o empresário brasileiro se convencerá de que ecologia é lucro e que ele poderá ganhar mais sem destruir?

Ecologia é lucro

O mundo piora a cada instante, porque não nos damos conta de nossa vulnerabilidade. Animais considerados racionais, os humanos continuam a poluir, a emitir gases venenosos, a desmatar, a impedir que essa aventura milagrosa – a existência – possa prosseguir.

A frequência com que fenômenos climáticos extremos ocorrem não foi suficiente para trazer juízo à humanidade. Esta insiste em combustíveis fósseis, em eliminar a cobertura vegetal das derradeiras florestas, a tornar o mar um depósito de partículas plásticas.

A única fórmula de fazer o ambicioso acumulador de bens materiais se interessar pela natureza é mostrar que ela é sinônimo de lucro.

Sim. Convencer os poderosos a compensar a emissão de poluentes que resulta de sua insanidade. Um crédito de carbono representa a não emissão de certa quantidade de dióxido de carbono à atmosfera. Uma tonelada desse veneno recuperada é igual a um crédito de carbono.

Esse crédito pode ser comprado ou gerado com reflorestamento, manejo sustentável do solo, adoção de sistemas agroflorestais, troca de matriz energética e de outras maneiras ainda. O processo é singelo. Um agricultor planta árvores e pode receber dinheiro de empresas para que as emissões de carbono que elas produzem sejam compensadas por esse reflorestamento.

Infelizmente, o Brasil tarda em regulamentar esse mercado. Fala-se muito em “revolução verde”, em “agenda verde” da economia. Mas o assembleísmo impede que se efetive essa providência tão urgente quanto imprescindível. O núcleo central deveria partir do Ministério do Meio Ambiente, que precisaria convocar a Universidade, os cientistas, os institutos de pesquisa e de desenvolvimento do saber a elaborarem um projeto viável. Em vez disso, invoca-se o chamado “Conselhão”: Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável. Formado de mais de duzentas e quarenta pessoas.

Todos sabem que a melhor medida para procrastinar indefinidamente a tomada de uma decisão é recorrer a uma Comissão. Se isto não dá certo para grupos menores, o que pensar dessa composição heterogênea de pessoas chamadas a opinar sobre quase tudo, sendo que algumas delas não sabem quase nada?

As promessas podem parecer edificantes. Por exemplo: uma parcela da captação resultante da venda de créditos de carbono se destinará ao Fundo do Clima. O propósito desse Fundo é financiar projetos, estudos e empreendimentos para a redução da emissão dos gases causadores do efeito estufa. Existe, ainda, um Plano de Transformação Ecológica – PTE, com mais de cem ações mapeadas em seis distintos eixos.

Fala-se também numa consulta pública sobre taxonomia, um manual de classificação para avaliar quais os setores que de fato atendem às exigências da agenda ESG, no trato simultâneo e harmônico de demandas ambientais, sociais e de governança.

Só que tudo isso tramita no plano das ideias. O governo ainda não sabe como encaminhar ao Congresso um projeto que mereça análise rápida e aprovação garantida. Já existe no Senado, hoje na Comissão do Meio Ambiente, uma proposta cuja relatora é a senadora Leila Barros – PDT-DF. Nela se propõe fiquem sujeitas ao mercado regulado as instalações que emitam acima de 25 mil toneladas de CO2 por ano. O setor da indústria será o mais afetado.

Mas é possível compensar a emissão com reflorestamento. De acordo com todas as informações disponíveis, existe uma imensa área suscetível de ser reflorestada e integrada por pastagens abandonadas. São espaços ociosos, que já sofreram a ação da insensatez humana. Queimada, cana-de-açúcar, soja, capim e deserto. Essa a rota de utilização pouco inteligente do solo brasileiro.

Se essas glebas fossem reflorestadas, haveria redução nas emissões, possibilidade de venda dos créditos de carbono excedentes, melhoria no regime pluviométrico, recuperação das matas ciliares, recomposição de fauna e flora hoje ameaçadas de extinção.

A receita está aí. Pronta e possível de ser implementada. Falta é vontade, falta é consciência, falta é responsabilidade. Quando é que o empresário brasileiro se convencerá de que ecologia é lucro e que ele poderá ganhar mais sem destruir do que eliminando a vida e qualquer esperança de futuro neste maltratado, sofrido e espoliado planeta?

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão
Em 16 09 2023



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