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EDUCAR: MISSÃO PERMANENTE
Acadêmico: José Renato Nalini
Se aprender é a missão de cada ser consciente, ensinar é privilégio de quem possui talento para incutir no educando o amor pelo aprendizado.

Educar: missão permanente

Aprender é a vocação humana, corolário da crença de que o ser racional busca a perfectibilidade. Não existe um termo final para o educar-se. A cada dia se aprende uma coisa nova. Quem não aprende com a vida está perdendo seu tempo. O exclusivo capital que não se repõe. Dia perdido é irrecuperável. Daí a obrigação de proveito permanente.

Se aprender é a missão de cada ser consciente, ensinar é privilégio de quem possui talento para incutir no educando o amor pelo aprendizado. Daí a relevância na preparação de professores. A carreira docente é repleta de dificuldades para quem a encara como fórmula de garantir a subsistência. É sublime para os vocacionados, que arrostam os óbices e se encantam com o milagre alcançado: lapidar a rusticidade, permitir que as potencialidades se concretizem. Acompanhar o crescimento cultural e espiritual do alunado.

Essa preocupação já ocupou a mente de governantes sábios, que São Paulo já teve. Um deles foi Armando de Salles Oliveira, o criador da USP. Ele sabia que a obra mereceria continuidade e precisaria do carinho dos que o sucedessem. Tinha precisa noção disso, tanto que escreveu: "O grande plano da Universidade, traçado no decreto que a criou e lançado sobre as bases e nos moldes das modernas instituições universitárias, não podia ser executado de um só golpe. Tinha o governo de começar por partes. E começou pela principal, organizando imediatamente a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, que é uma instituição essencial, em qualquer sistema universitário, já como um foco de cultura livre e desinteressada e de pesquisas científicas, já como uma escola destinada ao preparo cultural do professor de ensino secundário, um dos mais importantes problemas do ensino. É fácil avaliar o papel que está reservado a esses dois institutos na renovação das escolas secundárias, cujo futuro pessoal docente se recrutará entre os que por eles são diplomados".

E continua: "Até aqui, o professor do ensino secundário em todas as escolas desse grau existentes no país, não recebeu, nem tinha onde receber, nenhuma preparação especial para o exercício do magistério. Agora, esse problema, em São Paulo, foi posto em caminho de solução. É na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras que o candidato ao magistério de qualquer disciplina ou grupo de disciplinas afins, em escolas secundárias, irá aprender o que ensinar, para aprender como ensinar no Instituto de Educação. Para lecionar várias disciplinas especializadas e imprimir outros rumos a ciências cujos progressos demandavam o concurso de novos professores, sobretudo para reger as cadeiras da Escola de Filosofia, recém-criada, foram contratadas figuras de grande renome na Itália, na França, na Alemanha, em Portugal e nos Estados Unidos. Urgia acender um foco de pesquisas e organizá-lo como centro de cultura capaz de influir eficazmente no desenvolvimento dos altos estudos e na renovação do trabalho científico".

Àquela altura, funcionava o chamado "Curso Normal", que formava os alfabetizadores. Experiência exitosa, empiricamente comprovada com o analfabetismo galopante que assolou o país, anos depois de sua extinção.

Armando de Salles Oliveira conclamou os futuros governantes a levarem a sério a educação: "Aos governos que se sucederem ao meu caberá o dever, primeiro entre os mais altos, de amparar e desenvolver a oficina em que se forjarão os modeladores do espírito e do coração de uma robusta nacionalidade. Da torre simbólica que se há de erguer para a sua reitoria, se espalhará para o Brasil uma luz inconfundível, que não somente será um guia para os brasileiros, mas ainda o ponto para onde se voltarão, esperançados e consolados, nas vicissitudes da nossa pátria. É uma obra a ser continuada pelas gerações, através de um trabalho ininterrupto, cuja cadência dará a medida dos homens que tiveram a direção do governo".

Democrata por excelência, observava a lição desse arauto das liberdades humanas que foi Stuart-Mill, para quem, "uma educação geral dirigida pelo governo nada mais representa senão uma forma de fazer passar todos os cidadãos através de uma mesma matriz. E, como esta será modelada pelo partido dominante, seguir-se-á um despotismo de espírito, que conduzirá fatalmente ao despotismo do corpo".

A releitura de tais verdadeiras prédicas deveria constituir exercício periódico de todos os detentores de poder político.


Publicado no Portal Terra
Em 03 09 2023



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