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QUEM ERA O AROUCHE
Acadêmico: José Renato Nalini
Foi o primeiro regente das Arcadas. O "Largo" que ostenta seu nome está a merecer tratamento compatível.

Quem era o Arouche


O Largo do Arouche, tão simbólico e tão machucado, é um espaço público tradicional em São Paulo. Sua denominação remete a José Arouche de Toledo Rendon, o primeiro diretor da Academia de São Paulo, como era denominada a primeira Faculdade de Direito instalada no Brasil.

José Arouche de Toledo Rendon era paulistano. Nasceu aos 14 de março de 1756, filho do mestre de campo Agostinho Delgado Arouche e de Maria Teresa de Araújo Lara. Estudou Direito em Coimbra e obteve, em 3 de julho de 1779, o grau de doutor em leis. Advogou na capital e exerceu, em seguida, a Magistratura. Eram tempos de nomeação, não de concurso.

Como era próprio ao Brasil Colônia do século XVIII, depois de ser juiz passou para o Exército. Aqui mostrou-se eficiente e combativo e foi merecendo promoções: chegou a ser tenente-general e marechal de campo.

Integrou a Assembleia Constituinte em 1823 e fez parte da Primeira Legislatura ordinária da Câmara dos Deputados do Império nascente, entre 1826 e 1830. Faleceu em São Paulo em 26 de junho de 1834 e sua única filha, Maria Benedita Arouche, não teve filhos. Ficou o notável Arouche sem descendência.

A circunstância de ter sido escolhido para denominar o até hoje denominado "Largo", decorre de residir numa chácara ali situada. Após sua morte, ela passou a pertencer à família Antonio Pinto do Rego Freitas.

Homem de sua era, Arouche era um cavalheiro polido e provido de todas as qualidades heráldicas exigíveis a alguém de sua estirpe. Basta examinar o teor da mensagem que endereçou ao Imperador, para agradecer sua nomeação para dirigir as Arcadas: "Senhor. Ajoelho perante Vossa Majestade Imperial e beijo a Soberana Mão Benéfica, que acaba de honrar-me com o emprego de diretor do Curso Jurídico esta cidade. Sendo muito lisonjeiro a um súdito fiel ser lembrado de seu Soberano para honrosos e importantes empregos, fica-me contudo o pesar de me faltarem muitas das qualidades necessárias para o desempenho de tão importante comissão; mas se o gosto e a boa vontade do emprego podem suprir, senão todas, ao menos uma parte delas, eu protesto perante Vossa Majestade Imperial empenhar-me em cumprir o meu dever na fiel e pronta execução das ordens de Vossa Majestade Imperial. O céu prolongue a preciosa vida de Vossa Majestade Imperial para o complemento das grandes obras principiadas que irão elevar o Império do Brasil a par dos grandes Impérios. São Paulo, 1º de novembro de 1827, de Vossa Majestade Imperial, o mais humilde, fiel e agradecido súdito, José Arouche de Toledo Rendon".

Compreende-se porque dele se afirmou, ser o último fidalgo paulista, no dizer de Antonio Barreto do Amaral.

Foi Arouche quem visitou os três conventos então existentes em São Paulo, o do Carmo, o de São Bento e o de São Francisco, para que num deles viesse a ser instalada a Faculdade de Direito. Logo descartou os dois primeiros, porque para que servissem à nova destinação, teriam de ser quase que inteiramente demolidos e expulsos os frades. Portanto, "resta São Francisco", afirmou Arouche. Assinala a existência da biblioteca, com cinco mil volumes, parte de uso dos frades, parte aberta ao público. O padre bibliotecário era pago pela Fazenda Nacional.

Depois de sugerir qual seria a ocupação da nova Academia, o diretor observa que tudo se faria "sem demolir nada e sem vexame dos frades". Já vaticinava a necessidade de prédio próprio para o Direito e para outras unidades: "Creio que Sua Majestade Imperial mandará depois formar este estabelecimento em lugar próprio, e que tenha não só as comodidades para um Curso Jurídico, como também para outras Faculdades, que se julgarem necessárias".

O Convento Franciscano fora fundado em 1640, por Frei Francisco dos Santos e sua construção concluída em 1644. Graças ao empenho pessoal de Arouche de Toledo, a 1º de março de 1828 foi solenemente instalado o Curso Jurídico, enquanto que o de Olinda só foi instalado a 15 de maio desse ano.

O "Farol Paulistano" nº 93, de 5 de março de 1828, relata o evento: "Faltam-nos as expressões para expormos aos nossos leitores a pompa e magnificência com que, no 1º de março se abriu o Curso Jurídico". Houve Te Deum em Ação de Graças e todos, em seguida, convidados pelo diretor a "servirem-se de doces e refrescos, que para isso estavam preparados numa esplêndida mesa, a qual esteve franca a todo o povo".

Arouche destinou toda a remuneração percebida durante o exercício do cargo de diretor da São Francisco, à Santa Casa de Misericórdia. Esse o primeiro regente das Arcadas. O "Largo" que ostenta seu nome está a merecer tratamento compatível.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão
Em 19 05 2023



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Largo do Arouche, 312 / 324 • CEP: 01219-000 • São Paulo • SP • Brasil • Telefone: 11 3331-7222 / 3331-7401 / 3331-1562.
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