Compartilhe
Tamanho da fonte


EDUCAÇÃO DE HOJE E AMANHÃ
Acadêmico: José Renato Nalini
Michel de Montaigne, em seus “Ensaios”, já criticava a fórmula adotada para ensinar as crianças. A escola convencional persiste em concentrar dezenas de seres singulares naquele espaço físico tradicional.

Educação de hoje e amanhã

Michel de Montaigne, em seus “Ensaios”, já criticava a fórmula adotada para ensinar as crianças. A escola convencional persiste em concentrar dezenas de seres singulares naquele espaço físico tradicional. Filas de carteiras, com o último a vislumbrar apenas as nucas dos colegas. Todos têm de ouvir a mesma preleção, quase sempre uma transmissão de informações, nem sempre atualizadas.

Montaigne indagava: depois disso, ainda se estranha que apenas alguns dessa classe “deem certo”. Sem adentrar ao conceito de “dar certo”, é preciso refletir o que fizemos com a educação e como explicar sua aparente falência. Há quinhentos anos se faz o mesmo. Há nichos raríssimos de outro padrão. Mas a inércia é uma grande lei. Inelutável. As mudanças sempre são traumáticas. E assim caminha a humanidade. Em passos lentos e burocráticos.

A juventude, sempre inquieta, responde com evasão. Ela não chega a ser surpreendente: o Ensino Médio é o atestado mais eloquente de que a escola não atrai o jovem. Até porque eles são nativos digitais, millenials, e as classes continuam – em sua imensa maioria – dramaticamente analógicas.

Impressionante o que se escreve a respeito da educação. Há inúmeros “especialistas”, principalmente aqueles que gostam de participar de programas na TV, são ouvidos para emitir suas opiniões, escrevem teses, dissertações, ensaios. Não conheço uma experiência pessoal deles em sala de aula. Há exceções, é óbvio. Mas a grande maioria dos que se intitulam os “mecenas da educação”, gosta mesmo é de sugerir projetos, oferecer consultorias e promover tertúlias, do que atuar concretamente para, por exemplo, alfabetizar eficientemente as crianças. Ou enfrentar o analfabetismo funcional. Ou atuar pessoalmente na correção das inúmeras deficiências da escola pública.

Como evitar a evasão escolar, principalmente no ensino médio? Existe fórmula para motivar os professores desalentados a se reinventarem, diante da turbulência causada pelas novas tecnologias?

Confio nas mentes lúcidas e ousadas, quais as de Luís Rasquilha e Marcelo Veras, autores de “Educação 4.0 – O mundo, a escola e o aluno na década 2020.2040. Eles tiveram a coragem de fazer doze predições para esse período que já começou há um ano: 1. Processos avaliativos que tenham como objetivo medir capacidade de memorização deixarão de existir. Vestibulares, ENEM, entre outros, acabarão; 2. As universidades corporativas terão maior relevância do que as escolas tradicionais; 3.a Educação será, por definição, híbrida, fazendo com que a experiência de aprendizado não se resuma ao que acontece dentro da sala de aula; 4 a Inteligência Artificial irá substituir 80 do papel atual do professor, que irá se transformar em um curador de conteúdos e líder de equipes, usando metodologias ativas; 5. A pesquisa acadêmica se concentrará cada vez mais na solução de problemas atuais e reais; 6. As avaliações deixarão de ser individuais e passarão a ser em equipe; 7. As certificações tradicionais perderão relevância. O mercado de trabalho irá selecionar e contratar professores por competências, independente de onde e como foram desenvolvidas; 8. As competências socioemocionais terão prioridade no mundo do trabalho sobre as competências técnicas; 9. Novas disciplinas serão incorporadas aos currículos, como futuro e tendências, criatividade, empatia e cooperação, entre outras. 10. Grades e conteúdos serão cocriados com a participação de alunos, professores, escola e família; 11. Os Nanodegrees – (microcertificações) serão a resposta à necessidade de atualização permanente. O conceito Lifelong Learning (Educação ao longo da vida) fará parte da rotina diária das pessoas; 12. As jornadas educacionais serão personalizadas e direcionadas ao perfil e momento da vida de cada aluno. Isso fará com que, no limite, cada aluno tenha a própria trilha de formação.

De forma empírica e intuitiva, após a experiência angustiante na Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, já alinhava algumas dessas predições, conclamando os que realmente se preocupam com o futuro das novas gerações atentassem para o descalabro de preservar um sistema arcaico, anacrônico e que, efetivamente, não funciona.

Contudo, é só na iniciativa privada que se percebe isso. O Estado teima em preservar as estruturas que não atendem mais, isso há várias décadas, às exigências e necessidades de uma sociedade complexa e desafiadora. Aguardemos que cérebros talentosos empolguem um dia o poder. Será que isso acontecerá?

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão
Em 19.09.2021




voltar




 
Largo do Arouche, 312 / 324 • CEP: 01219-000 • São Paulo • SP • Brasil • Telefone: 11 3331-7222 / 3331-7401 / 3331-1562.
Imagem de um cadeado  Política de privacidade.