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ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE
Acadêmico: José Renato Nalini
Recluso da pandemia, aconselhado a evitar aglomerações, o idoso vê-se forçado a se refugiar na leitura, na escrita – quando inspirado – e a mergulhar no streaming. O número de ofertas é impressionante. Mas a inflação de títulos nem sempre satisfaz o anseio por filmes que marcaram sua adolescência.

Assim caminha a humanidade


Recluso da pandemia, aconselhado a evitar aglomerações, o idoso vê-se forçado a se refugiar na leitura, na escrita – quando inspirado – e a mergulhar no streaming. O número de ofertas é impressionante. Mas a inflação de títulos nem sempre satisfaz o anseio por filmes que marcaram sua adolescência.

Não existe um canal para os clássicos. Nem para matar as saudades daqueles filmes que formavam filas nos cinemas. Saudades, por exemplo, de “Sete Noivas para Sete Irmãos”, “O maior espetáculo da terra”, “Meu passado me condena”, “Imitação da Vida”, “Esquina do Pecado”, que foram marcantes numa época em que se sonhava muito e se aguardava tanto da aventura existencial.

Os filmes atuais ganharam em efeitos especiais. Mas priorizam ação, violência, parecem propagar o álcool, o fumo e as drogas. Quase todos os episódios das séries recomendadas trazem seus personagens maduros fumando maconha. Será a propaganda explícita para a liberação das substâncias ditas entorpecentes?

Que falta assistir a coisas ingênuas e hoje banidas até da arqueologia cinematográfica, tais como as películas – (ainda se fala assim?…) – estreladas por Elizabeth Taylor (1932-2011). Será que não há mercado para reeditar a filmografia dessa atriz extraordinária?

Começou a filmar ainda criança, com dez anos. Sua primeira aparição foi e “There’s one born Every minute”, em 1942. No ano seguinte, “Lassie come home”, com a cachorra simpática também a fazer história. Depois “The White cliffs of Dover” (1944), mesmo ano de “A mocidade é assim mesmo”. Em 1946, “A coragem de Lassie” e no ano seguinte “Nossa vida com papai”. Também em 1947, “Cynthia” e em 1948 “O Príncipe Encantado” e “Julia Maisbehaves”. Cheguei a assistir “Little Women”, refilmado como “Mulherzinhas”, versão cinematográfica do livro de Louisa May Alcott (1832-1888), várias vezes levado à tela. Também em 1949 atuou em “Conspirator”. Dois outros filmes em 1950: “O Pai da Noiva” e “The Big Hangover”. Três em 1951? “Quo Vadis”, “Father’s Little Dividend” e o clássico “Um Lugar ao Sol”, com o enigmático Montgomery Clift.

Em 1952 fez “Love is better than ever” e “Ivanhoe” e no ano seguinte, “The girl who had everything”. Quatro filmes em 1954: “Rapsody”, “Elephant Walk”, “Beau Brummel” e o inesquecível “A última vez que vi Paris”.

Quando ela atuou em “Giant”, 1956, aqui traduzido por “Assim caminha a humanidade”, era uma das principais atrizes de Hollywood e famosa em todo o mundo. Um longa metragem que começa com ela, a jovem Leslie, em heráldica e conservadora família no sul dos Estados Unidos e que vem a se casar com um texano, Jordan, da poderosa família Benedict, interpretado por Rock Hudson. O choque entre as culturas americanas é bem explorado na saga que ainda tem James Dean, por ela apaixonado, e o efeito da descoberta do petróleo.

Antológica a cena em que num “thanksgiving day”, seus filhos pequenos percebem que estão prestes a comer o peru, “Peter”, a que haviam se afeiçoado durante permanência em casa dos avós maternos. Ela chora de saudades do marido a quem deixara, mas ainda amava. Ele vem buscá-la e a vida continuaria no Texas, até à velhice de ambos.

Em seguida vem “A árvore da vida” (1957), o magnífico “Cat on a hot tin roof” (1958), “De repente no último verão”, com tema forte para a época (1959), “Scent of Mystery” e “Disque Butterfield 8” em 1960. Três anos depois, o majestoso “Cleópatra”, contracenando com Richard Burton, com quem viria a experimentar um turbulento matrimônio.

No mesmo ano, “Gente muito importante” (Very importante people), “Adeus às Ilusões” em 1965, “Quem tem medo de Virginia Woolf” no ano seguinte e nada menos do que quatro filmes em 1967: “A Megera Domada”, “Doctor Faustus”, “O pecado de todos nós” e “Os farsantes”.

Filmou “O homem que veio de longe” e “Secret Ceremony” em 1968, “Ana dos mil dias” em 1969 e “Jogo das Paixões” em 1970. Três filmes em 1972: “X, Y e Z”, “Under milk wood” e “Hammersmith is out”. Três outros em 1973: “Divorce his- divorce hers”, “Vigilia nas sombras” e “Meu corpo em tuas mãos”. Ainda viriam “Identikit’ (1974), “The Blue Bird” (1976) e “A little night music” e Return engagement” em 1978.

“Winter kills” foi filmado em 1979 e só em 1988 participou de “Il Giovane Toscanini”. Já estava com problemas de saúde, mas ainda fez “Os Finstones” (1994) e “These old broads” em 2001.

A crítica sempre a acompanhou. Seja para elogiá-la por “Um lugar ao sol”, de George Stevens, em que é moça da alta sociedade a envolver-se com Montgomery Clift, impecável em “Gata em teto de zinco quente”, a viver Margaret Politt, mulher de um ex-jogador de futebol americano alcoólatra e amargo, vivido por Paul Newman. Ganhou seu primeiro Oscar com “Disque Butterfield 8”, e foi seguida pela mídia durante toda a vida, principalmente pelos casamentos e pelo apego às joias. Numa de suas falas no Twitter, chegou a dizer: “Não se pode chorar nos ombros dos diamantes”, o que evidencia sua fragilidade e carência de afeto.

Dez anos depois de sua morte, esquecida como tantas outras lindas mulheres, que nos fizeram sonhar e viajar, mas que ainda residem nas memórias saudosistas.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão
Em 04.09.2021



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