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PARENTE SERPENTE
Acadêmico: José Renato Nalini
" Há mais ingênuos entre os que nunca adentraram à sordidez da política partidária do que se imagina."

Compreendo perfeitamente o que deve sentir Pedro Parente, após dois anos de Petrobrás. Sua competência técnica e sua idoneidade foram postos a serviço da ressurreição de uma estatal conspurcada pela pior política, saqueada e arremessada ao mais abjeto lixo moral. Sem credibilidade, deficitária, caso perdido.

Empenhou-se e tirou a empresa do inferno. Recobrou a credibilidade. O déficit passou a superávit. Mas daí, era hora de se livrar de quem levava as coisas a sério demais. A política não se interessa por seriedade. Ela quer ibope, quer ganhar as eleições, quer faturar.

Como se a Nação tivera memória fraca, voltemos aos tempos idos e vividos em que todos se fartavam e deu certo durante tantos anos. Uma empresa estatal precisa ser “sensível” aos reclamos da política. Esses “tecnocratas” são desalmados. Não ouvem o clamor de quem precisa fazer bonito no próximo pleito.

Essa tática ocorre em todos os níveis. Quando a situação inspira cuidado, quando a reputação está abaixo da crítica, é preciso encontrar alguém acima de qualquer suspeita. Recorramos a esse personagem e o iludamos. Prometamos convergência de esforços.

Digamos a ele que é imprescindível ofereça a sua honorabilidade e a sua experiência em favor da Nação. Enganemo-lo. Há mais ingênuos entre os que nunca adentraram à sordidez da política partidária do que se imagina. Aqueles que optaram por uma vida modesta, de estudo e de atividade intelectual, não têm ideia do que seja o ambiente dos políticos profissionais.

Devotam-se, entregam-se, procuram fazer o que sabem: fazer o que é preciso. Enfrentam os desafios. Dialogam. Abrem espaço para os renegados que a política abomina, pois conhecem a vulnerabilidade do setor. Percebem que o demônio não é tão feito quanto se apregoa. E que do lado da “santidade” há muito sepulcro caiado.

Não esperam reconhecimento. Só se assustam ao tomar contato com aquilo que o antropólogo Antonio Risério bem definiu: “Um país pirado, com elites podres e população perdida”. Reconhecem sua impotência contra a máquina carcomida, contaminada e convicta de que não há Lava-Jato suficiente para atingi-la.

Sabem que serviram a desígnios muito diferentes da sedutora promessa à época do convite. Que era mais um pedido de socorro, uma conclamação ao patriotismo. Percebem que tudo voltará a ser como antes, pois é assim que as coisas no Brasil funcionam. (PS: o título do artigo não tem a ver com o episódio. É o filme que bem retrata a ética moribunda deste século que conseguiu, em duas décadas, sepultar a discreta esperança em dias melhores).




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