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LAR NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO
Acadêmico: Benedito Lima de Toledo
" É uma obra de interesse social da cidade de São Paulo. Tal característica deveria ser tomada em consideração pelos órgãos de preservação do patrimônio: Conpresp e Condephaat. "

Na Rua Gravataí 111 que se inicia na Rua Caio Prado rumo à Praça Roosevelt, o Lar Nossa Senhora da Consolação nasceu da dedicação da Irmã Irene Alves Lopes.
A Irmã constituiu um lar, sob a referida invocação, onde acolhia e abrigava uma centena ou mais de pequenos abandonados na rua. Por vezes, cuidava de crianças, enquanto as respectivas mães iam trabalhar.
Trata-se de uma sequência de sobradinhos bem arrumados, é desnecessário dizer. Havia até um pequeno recinto que acolhia uma capela, onde as irmãs eram vistas em permanente oração.
O Lar sempre foi mantido com as orações de Irmã Irene, já falecida. Doações de alimentos sempre ocorriam. Estando a dispensa vazia, surgiam inesperadamente mantimentos para preparo das refeições. Os vínculos da Irmã com o céu estão para ser explicados. O número de crianças foi crescendo. Certo dia, constatou-se que chegavam a 100.
Um membro do grupo, padre da Igreja da Consolação, observou:
“Irmã, nós arrumamos lugar para 100 crianças com as caminhas correspondentes e a senhora já admitiu mais uma”. Irmã Irene respondeu: “está bem, então vá lá, escolha uma criança e ponha na rua”. Silêncio geral ! A caridade não conhece limites.
Na mesma Rua Gravataí, do outro lado dos sobradinhos, havia um terreno municipal sem ocupação. Irmã Irene, em seus raros momentos de tranquilidade, de sua janela observava e rezava para poder utilizar o terreno e edificar uma nova sede do Lar mais adequada ao número crescente de crianças.
Depois de constantes orações, dirigiu-se ao prefeito objetivando conseguir cessão do terreno, dado seu elevado interesse social. Pode-se dizer que ali ocorreu uma batalha. O prefeito para se livrar da Irmã, decidiu: “a senhora fica com metade do terreno”. Não houve acordo. Dada sua insistência, o terreno foi finalmente cedido integralmente ao Lar.
Um grupo de apoio reunia-se regularmente para trocar ideias. Participando desse grupo, Irmã Irene conhecendo minhas condições de arquiteto começou a expor as necessidades de como deveria ser o novo edifício do Lar. Com algumas considerações, aos poucos foi sendo definido o que em arquitetura é comumente designado como programa, a saber, a que necessidades um projeto deve atender. Impressionou-me a lucidez de seus conceitos. A partir dessas conversas foi possível elaborar um projeto. Uma vez aprovado pela Prefeitura, tive a satisfação de dirigir sua execução, das fundações à cobertura, e lá está.
A obra ia subindo e doações da população sua legítima patrocinadora - surgiam espontaneamente. A construção foi igualmente movida por oração. Cada laje foi saudada como uma proeza, até a conclusão.
É uma obra de interesse social da cidade de São Paulo. Tal característica deveria ser tomada em consideração pelos órgãos de preservação do patrimônio: Conpresp e Condephaat. O tombamento do edifício por essas instituições seria o reconhecimento da generosidade da população em promover justiça aos desfavorecidos, notadamente, as crianças.
A Rua Gravataí tem em um de seus extremos, e perpendicularmente a esta, a Rua Caio Prado. Dada essa posição, a Rua Gravataí aponta para uma das poucas áreas verdes locais, batizada pela população como Parque Augusta.
Se imaginarmos uma faixa de pedestres, devidamente balizada e fiscalizada entre a Rua Gravataí e o referido parque, as crianças do Lar Nossa Senhora da Consolação, e de toda vizinhança, ganhariam uma área de convívio e lazer, a qual poderia adquirir a configuração de um pequeno jardim botânico e ciências afins, trazendo benefícios para toda a região.
Convém lembrar a falta de áreas verdes no entorno e o permanente congestionamento viário. Esta obra poderia ser de indiscutível utilidade para a vida de nossa cidade.

*Benedito Lima de Toledo





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