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SURTOS DE CIVILIDADE
Acadêmico: Gabriel Chalita
"Então, imaginem um surto ao contrário. Um excesso de bom senso, de lucidez, de civilidade. Imaginem um aumento repentino de pessoas que resolveram não mais jogar lixo no chão."

Há sempre, em períodos de verão, uma preocupação maior com possíveis surtos que podem surgir e fazer mal à população. Campanhas tentam impedir, por exemplo, a proliferação do mosquito que gera a dengue, a zika, e a chikungunya. O surto ocorre quando há um aumento repentino do número de casos de uma doença. Apesar do significado da palavra surto não remeter, necessariamente, a algo negativo, costuma-se empregá-la para definir um excesso de fúria, um momento de inlucidez, uma crise. Lembra-me o escritor Machado de Assis, em sua fina ironia, que nos diverte, em sua obra “O alienista”, ao narrar um momento em que o protagonista, o médico Simão Bacamarte, tem um surto surpreendente e resolve que os honestos e os justos eram também loucos e deveriam ser internados no hospício! Surpreendente e insensato como os surtos parecem ser.

Então, imaginem um surto ao contrário. Um excesso de bom senso, de lucidez, de civilidade. Imaginem um aumento repentino de pessoas que resolveram não mais jogar lixo no chão. Que tiveram uma crise de consciência em saber que o dinheiro público é jogado fora para limpar as sujeiras tantas que se jogam fora por aí. Vejam os rios. O que há neles? Quem os polui? Vejam quanto se joga pelas janelas de um carro. Ou das mãos de alguém que passa pelas ruas. A cidade é do cidadão. Se essa consciência não for atingida, não haverá quem dê jeito na falta de educação das pessoas. Vejam as praias. Plenas de beleza e de lixo. Quem os produziu? Vejam as represas. E os lixos que ficam quando os seres racionais vão em bora . Racionais? Interessante, os irracionais não produzem lixo. Vejam as praças. Os parques. As ruas.



Um surto de civilidade nos faria muito bem. Isso para ficar apenas no exemplo do lixo. Poderíamos falar do trânsito e dos inlúcidos ao dirigirem seus carros. Os que fazem da sua direção um extravasamento de sua fúria. Como seria bom um surto de boas maneiras.



Por: Gabriel Chalita (fonte: Diário de SP) | Data: 13/01/2017.



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