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RACISMO AMBIENTAL
Acadêmico: José Renato Nalini
"Sempre que se resgata uma área vulnerável da insuficiência de verde, o mercado imobiliário se apropria dela e expulsa o pobre. A receita seria obrigar as incorporadoras a produzirem, ao lado de um grande empreendimento, um conjunto de moradias para baixa renda."

Sou ecologista de carteirinha. Sunita ambiental. Fundamentalista verde.
Sofro quando vejo a barbárie a devastar florestas, a conspurcar a água,
a matar o solo e a juntar resíduo que transforma o planeta num grande
lixão. Talvez por ser neto de um imigrante italiano que não tinha terra
e que passou a vida a plantar, hábito que transmitiu a pelo menos um dos
14 filhos, o meu pai, sou também plantador. Coleto sementes, faço-as
germinar, tento fazer compostagem, esverdearia o mundo se pudesse.

Todavia, não posso deixar de ouvir o lado contrário. Acostumei-me com o
contraditório nos 40 anos de Judiciário. Assim, ouço com interesse o
sociólogo Kenneth Gould, que afirma: "A ironia é que a indústria
ecológica cria espaços urbanos sustentáveis e é socialmente
insustentável". Ele é diretor do programa de sustentabilidade urbana do
Brooklyn College, da Universidade da Cidade de Nova York. Ele quer dizer
que a recuperação de áreas deterioradas torna o ambiente mais agradável,
só que expulsa o pobre. Até escreveu um livro, "Gentrificação Verde",
juntamente com Tammy Lewis, também da mesma Universidade. Foram eles que
criaram a expressão "Racismo Ambiental".

Sempre que se resgata uma área vulnerável da insuficiência de verde, o
mercado imobiliário se apropria dela e expulsa o pobre. A receita seria
obrigar as incorporadoras a produzirem, ao lado de um grande
empreendimento, um conjunto de moradias para baixa renda. É o
investimento em moradias mistas. Nos próprio conjunto de luxo, o
empreendedor poderia reservar algumas unidades para baixa renda e fazer
sorteios entre os sem moradias.

Não é tarefa viável diante das leis inflexíveis do mercado. Mas o
empresariado haverá de concluir que o sistema de segregar estamento é
potencialmente perigoso. Até para sobrevivência desta espécie de
civilização, é urgente adotar práticas menos anacrônicas e hoje
superadas. Construir uma sociedade harmônica, embora desigual, é uma
alternativa.



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