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VAMOS DESPOLUIR?
Acadêmico: José Renato Nalini
"Ainda é tempo de reverter o rumo nefasto de uma civilização impiedosa e insana?"

Ninguém pode negar que somos sujos. Ou é exagero concluir que não sabemos manter nossos espaços públicos despoluídos? Somos egoístas, inconsequentes e irracionais, se considerarmos o que fazemos com nossa água, nosso solo, nossa atmosfera. Aquilo que é bonito por natureza, conseguimos enfear e deixar imundo. Que o digam os orçamentos públicos destinados a recolher os testemunhos de nosso descompromisso: aquilo que chamamos, simplesmente, de lixo!

Nem tudo está perdido, entretanto. Enquanto a maioria inconsciente continua a poluir, um designer chamado Daan Roosegaarde fabrica uma máquina que come poluição, plânctor emissor de luz e tinta sensível à luz solar. Para esse pesquisador, nós conseguimos desenvolver tecnologias de ponta, mas nos esquecemos do principal: conectar pessoas entre si e conectá-las com o ambiente.

Daan mora em Roterdã e lá na Holanda tem o seu “Studio”, firma de design que elaborou a “Smog Free Tower“, ou “Torre Livre de Poluição“. É o primeiro purificador de ar em espaço aberto no mundo. Tem 7 metros de altura, lembra um edifício e tem revestimento cromado. Funciona com um aspirador potente que se utiliza da tecnologia da ionização para sugar a poluição, filtrar as partículas perigosas e devolver o ar purificado. Em 36 horas, elimina 80% das impurezas do ar de uma área equivalente a um estádio esportivo.

Ela será testada neste mês em Pequim, uma encomenda do Ministério da Proteção Ambiental da China, para auxiliar no combate à crescente poluição do mais populoso País do Globo.

Não podemos nos iludir e acreditar que a Torre faça milagres. O milagre real seria a conversão da humanidade, que tomou rumo errôneo e não se compadece do planeta, cujos pedidos de socorro encontram a surdez moral como resposta. Todavia, verificar que a sensibilidade de um cientista encontre uma fórmula de despoluir é um sinal de que devemos estar atentos. Ainda é tempo de reverter o rumo nefasto de uma civilização impiedosa e insana?

Os chineses têm consciência de que o tratamento da poluição depende de uma revolução cultural. A torre despoluidora é considerado um apelo artístico performático, talvez capaz de despertar a consciência dos que ainda não foram completamente anestesiados pela situação de verdadeiro descalabro.

A torre de Roosegaarde é econômica. Gasta apenas 1.400 watts de eletricidade diários, o equivalente ao consumo de uma chaleira elétrica. Além de despoluir, gera um subproduto: as partículas de carbono extraídas do ar poluído serão comprimidas e, após revestidas de acrílico, transformadas em anéis, abotoaduras e outros objetos que poderão ser vendidas como souvenirs e simbólicas admoestações a uma sociedade inclemente em sua relação com a natureza. O produto da comercialização será revertido na construção de novas torres de salvação.

A ideia da confecção desse instrumento surgiu durante uma visita do designer à China. Ele esteve lá em Pequim, no ano de 2013 e presenciou a impossibilidade de as crianças brincarem ao ar livre durante boa parte do ano, tal o índice de poluição ali existente.

Não é só a China que padece desse mal. Calcule-se o que o sistema de saúde no Brasil despende com assistência médica nas grandes cidades e também naquelas em que a criminosa queimada de palha de cana de açúcar continua a vitimar inocentes. São Paulo, a Cidade do México, Mumbai na Índia e Santiago do Chile também se interessam pela Torre.

Dan Roosegaarde também projeta a Rodovia Inteligente e a Ciclovia Van Gogh. Ambas revestidas de tintas carregadas por luz solar que brilham à noite. Dispensam iluminação artificial. Vamos chamá-lo para ajudar a encontrar soluções também para o Brasil, tão necessitado de mentes criativas e não poluídas.

Por: José Renato Nalini (fonte: Correio Popular de Campinas) | Data: 02/09/2016.



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