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DISCURSO DE RECEPÇÃO PELO ACADÊMICO ANTÔNIO PENTEADO MENDONÇA
Acadêmico: Miguel Reale Junior
O Acadêmico Antonio Penteado de Mendonça recepciona o confrade Miguel Reale Junior, destacando sua trajetória como escritor e jurista.

O professor Miguel Reale é insubstituível.

O filósofo, o escritor, o jurista, o homem público e o homem bom. O chefe de família exemplar, o amigo leal e de todas as horas. O homem conseqüente, sem medo ou vergonha do passado. O pensador sintonizado com a realidade do mundo. O homem capaz, não de mudar, mas de evoluir; não pela mudança gratuita, pelo modismo passageiro, pela cópia de idéias alienígenas ou doutrinas do momento, mas pela evolução dos fatos, e dele mesmo, inseridos na vida do planeta.

Poucos homens tiveram o peso do professor Miguel Reale na vida intelectual do Brasil do século 20. Como professor de direito. Como filósofo. Como pensador político. Como homem de ação. Como reitor da Universidade de São Paulo. Em cada um destes papéis o professor Miguel Reale deixou sua marca, gravada a fogo, no aço mais puro.

Como um farol iluminando o rumo dos que ele formou e dos que ele direta e indiretamente influenciou, a figura do professor excepcional se impõe, permanentemente, servindo de introdução para a figura do homem excepcional que, com sua vasta contribuição para um Brasil melhor, serve de bússola para os que procuram fazer desta terra uma nação mais justa e mais amiga para todos os seus filhos.

Exemplo de ética aplicada a cada passo de sua vida, não há campo em que tenha atuado que a presença do professor Miguel Reale não forme um padrão de comportamento coerente, afinado com a mais pura essência dos valores morais que desde o princípio da história humana batizam as ações e os pensamentos, seja qual for o povo e a civilização, que servem de esteio para elevar a raça humana para os níveis mais altos de comportamento, civilização, cultura e evolução.

Por tudo isso o professor Miguel Reale é insubstituível em todo e qualquer campo em que tenha atuado, bem como nos corações das pessoas que tiveram o privilégio de conviver com ele.

A Cadeira número 2 da Academia Paulista de Letras não é exceção à regra. Cadeira de poucos ocupantes, o professor Miguel Reale foi seu terceiro titular, na história quase centenária da Academia Paulista de Letras.

Sob certo ponto de vista, ser titular da cadeira número 2 pode ser uma benção, ou, no mínimo, significar um acerto interessante com o Criador, já que ocupá-la é a quase certeza de uma longa e proveitosa estada nesta dimensão cósmica, ao mesmo tempo tão maltratada e tão amada pela maioria dos seres humanos. Numa linguagem mais simples: ser imortal sentado nela é a chance de aproveitar a imortalidade por mais tempo que os outros imortais titulares de cadeiras com rotatividade mais alta.

Por outro lado, graças a Deus há uma enorme diferença entre a imortalidade acadêmica e a imortalidade física. Se uma permanece, no pensamento dos companheiros e na lembrança das pessoas que nos amaram e que nós amamos, pretender a outra é ilusão ou loucura, já que ficar eternamente nesta terra, por melhor que ela seja, é insanidade completa, refletida na solidão da perda dos amigos, da mudança dos usos e costumes, de se sentir um estranho em solo antes conhecido.

Nós perdemos a intimidade com a morte. O fato natural, com o progresso da ciência, passou a nos ser odioso. E, ainda que irreversível, a última viagem nos assusta e por isso tentamos adiá-la para qualquer outro dia, desde que o mais distante possível do depois de amanhã.

Mas ela vem e é por ela sempre vir que hoje estamos aqui, numa noite de festa, saudando um novo imortal. O novo titular da cadeira número 2. Um homem com as características indispensáveis para ser um bom acadêmico, alguém que desde já honra a Academia Paulista de Letras, pelo brilho próprio e pela carreira corajosamente feita num país onde nem sempre as pessoas têm a coragem de se mostrar, defendendo posições contrárias às dos poderosos do momento.

Como já dissemos, o professor Miguel Reale é insubstituível. Assim, o novo acadêmico não chega para ocupar o lugar do pai, nem do amigo, nem de outro professor de direito, nem de outro homem com algumas características e traços de caráter tão marcantes quanto os seus.

O novo acadêmico é Miguel Reale Junior, que entra na casa do Largo do Arouche apoiado em consistente obra edificada ao longo de uma vida coerente, corajosa e absolutamente própria.

Não há no fato dele suceder ao pai nenhum traço monárquico de sucessão divina.

Miguel Reale Junior não herdou a cadeira número 2 da Academia Paulista de Letras. Ela a conquistou por mérito próprio, embasado num currículo exemplar e que lhe dá todas as condições para ser acadêmico de nomeada, desde o primeiro instante de sua chegada.

Quem acompanha a vida política brasileira sabe quem é Miguel Reale Junior e o muito que ele já fez, lutando diuturnamente por um Brasil ético e uma população governada por homens de bem, com regras justas, destinadas a promover a igualdade social.

Quem acompanha a vida pública nacional conhece as lutas em que ele entrou, os combates travados e a coragem a e fidalguia que sempre demonstrou em todos eles.

Só isto seria passível de abrir-lhe as portas desta Academia. A transparência de suas posições e a clareza de suas formulações sociais são o passaporte exigido para o seu ingresso: o domínio das letras, das palavras e das idéias, nos exatos termos de nosso estatuto.

Mas quem conhece a trajetória de Miguel Reale Junior sabe que ele vai muito além, no quesito intelectual da qualificação para ser acadêmico.

Miguel Reale Junior é dono de uma portentosa carreira universitária, feita como professor de direito penal da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, onde atingiu o topo da carreira, sendo, desde 1987, seu Professor Titular.

Também é dono de obra jurídica de vulto, abordando consistentemente em dezenas de livros e outros tantos artigos os temas que leciona, o que lhe granjeou merecida fama entre os criminalistas brasileiros.

Por conta desta atuação marcante, foi Secretário da Segurança Pública de São Paulo.

E, como se não bastasse, foi Ministro da Justiça da República Federativa do Brasil. Vale dizer, ocupou um dos mais árduos cargos da República, encarregado da paz interna e do bom processamento da manutenção da ordem pública.

E ele se saiu muito bem, desempenhando com a dignidade que lhe é própria, durante o tempo que julgou conveniente, as altas funções para que fora convidado.

Além disto, Miguel Reale Junior é contista consagrado, oferecendo aos seus leitores textos deliciosos pela criatividade e pela forma como são escritos.

E agora, hoje, para ser exato, entra também no campo da novela, lançando um livro de mistério policial, cuja trama se desenrola no interior de São Paulo, e que será lançado logo após esta posse, aqui na Academia mesmo.

Escuridão na Clareira é um livro delicioso. Eu o recomendo aos presentes porque sendo um gênero pouco comum na literatura brasileira, foi escrito de forma fácil e que prende o leitor durante toda a trama.

Minhas senhoras e meus senhores, este é um breve e impressivo resumo da biografia rica de títulos, de conquistas, de vitórias do homem de idéias, do professor, do escritor, do especialista em direito penal, do político, Miguel Reale Junior.

Apenas com ele, que é uma breve amostra de um currículo muito mais denso, o professor Miguel Reale Junior apresenta credenciais suficientes para entrar na Academia Paulista de Letras para ocupar e engrandecer a cadeira número 2.

Com sua chegada a Academia, numa salutar troca de experiências, que é em última análise sua razão de ser, se engrandece pelo aumento qualitativo de seu conjunto, irrigado com sangue novo, ao mesmo tempo em que engrandece o novo acadêmico pelo compartilhamento de vivências e experiências culturais da maior riqueza.

Bem vindo o professor, o homem de cultura, o universitário, o escritor jurídico e de ficção, o político.

Bem vindo também o homem de família. O marido, casado com D. Judith Martins Costa; e o pai, que tem em Luciana Grieco Reale a certeza da continuação de uma linhagem de gente muito especial que, com certeza, ainda tem muito a oferecer ao Brasil.





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