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PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR - UM AUMENTO INFELIZ
Acadêmico: Antonio Penteado Mendonça
Ao taxar os aportes nos planos de previdência privada, governo espanta os investidores que procurarão outras modalidades de aplicação

Previdência complementar - um aumento infeliz

O governo, no seu desespero para aumentar de qualquer jeito a arrecadação,deu uma bordoada na sociedade brasileira e aumentou sem pensar nasconsequências a alíquota do IOF de várias operações. A medida foi tão erradaque antes de acabar a noite do primeiro dia de sua vigência já havia sido modificada, com a revogação da incidência do IOF sobre as aplicações em fundos internacionais. A equipe econômica não atentou que na prática ela significavacontrole de capitais, o que mostra a falta de critério com que o decreto foi baixado.

O setor de seguros foi atingido diretamente com o aumento para 5 daalíquota incidente sobre as aplicações acima de R$50.000,00 dos planos deprevidência complementar aberta. Tudo bem, é um absurdo, mais uma vez a medida mostra a falta de visão das pessoas envolvidas na sua elaboração. A incidênciada nova alíquota é sobre aplicações de mais de R$50.000,00, então basta o investidorfazer várias aplicações de R$49.000,00, em diferentes planos de previdência complementar aberta. Como os valores estão abaixo do teto do decreto, a nova alíquota não incide sobre eles.

Além disso, ainda que houvesse a incidência, seria impossível controlar ofluxo das aplicações porque os planos de previdência privada aberta não têm um programa que permita que falem entre si. Ou seja, o governo não tem como fazera fiscalização das aplicações para a cobrança da nova alíquota. Entre secos emolhados, a medida é impraticável, mas serve para desgastar o governo com aclasse média, a grande aplicadora nos fundos de previdência complementar abertae, reconhecidamente, grande formadora de opinião.

Não bastasse tudo isso, a ação mostra o desespero do governo em conseguir aumentar sua arrecadação. Não cabe aqui discutir as razões do desespero dogoverno, nossa proposta é analisar a impertinência da medida e mostrar que arazão mais forte para ela ser um tiro no pé é a função indireta da previdência privada.

A previdência privada foi criada para aumentar o vencimento dosaposentados, complementando os valores pagos pela previdência social com uma renda extra, gerada por um fundo amealhado pelo investidor ao longo de váriosanos de aplicação.

Este fundo é composto por investimentos regulares que geram uma quantia importante que fica durante anos aplicada em várias modalidades de papéis. Grande parte deste dinheiro é investido em títulos do governo, ou seja, ele financia adívida pública e viabiliza os investimentos de longo prazo indispensáveis para a criação da infraestrutura nacional. Ao taxar os aportes nos planos o governo espanta os investidores que procurarão outras modalidades de aplicação, isentasdessa aberração para investir seu dinheiro.

Há um forte movimento no Congresso e na iniciativa privada para revogar amedida e restabelecer as regras vigentes antes de sua promulgação. Seria fantástico se o governo se antecipasse e fizesse isso rapidamente por contaprópria. Eu sei que é um sonho, mas é preciso não perder a esperança, derepente um pouco de bom senso entra por engano nos gabinetes de Brasília.       

Publicado no jornal O Estado de S. Paulo, em 02 06 2025



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