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![]() Acadêmico: José Renato Nalini Fundada em 1897 por Machado de Assis e um grupo de amigos, a Academia Brasileira de Letras é a que mais produziu História. Josué Montello cuidou de elencar passagens interessantes no seu saboroso livro “Pequeno Anedotário da Academia Brasileira”
Folclore acadêmico As Academias são instituições curiosas. Atraem e geram críticas. Os que alimentam o sonho de integrá-las nem sempre cortejam os eleitores. Existem alguns que pretendem ser “ungidos”, sem pleitear o voto, sem fazer campanha, sem visitar os trinta e nove que têm a missão de eleger o novo “imortal”. Fundada em 1897 por Machado de Assis e um grupo de amigos, a Academia Brasileira de Letras é a que mais produziu História. Josué Montello cuidou de elencar passagens interessantes no seu saboroso livro “Pequeno Anedotário da Academia Brasileira”. Anota que a iniciativa de Amélia de Freitas Beviláqua de se inscrever para a vaga de Alfredo Pujol, houve surpresa e inaugurou-se o debate sobre a admissão de mulheres naquela Casa. Silva Ramos, que era membro da primeira diretoria, definiu a situação: - “Eu posso dizer e afirmar que, quando votamos os estatutos e escrevemos a palavra “brasileiro”, referimo-nos unicamente a brasileiro “macho”! E isso prevaleceu até que, em 1977, Rachel de Queiroz foi eleita para preencher a vaga de Cândido Motta Filho. Mas há candidatos impacientes. Dizem as estatísticas que a cada dez meses morre um acadêmico. Se algum “imortal” se atrasa nessa “pontualidade da sepultura”, a própria ceifadeira cuida de abreviar o intervalo até porque, é sabido que ninguém entra numa Academia sem passar por cima de um cadáver. Quando do preenchimento da vaga de Mário de Alencar, um candidato quis afastar o concorrente e fez a ele uma proposta: - “Você se inscreve para a vaga de Lauro Müller, que desde ontem está passando muito mal. E eu lhe dou meu voto!”. Um outro aspirante à glória acadêmica, ainda mais afoito, entre ingênuo e ridículo, foi em busca antecipada de votos, pedindo que os acadêmicos se comprometessem com ele na próxima vaga. Para alguns amigos, confidenciou: - “Acabei ontem minhas visitas. Na próxima vaga, estou eleito!”. O assunto foi veiculado na próxima reunião da Academia. Evidentemente, foi recriminado pelo açodamento e assentou-se que não entraria naquela próxima vaga – ainda não aberta – e em nenhuma outra. Era uma pessoa indesejável para a Instituição que, segundo a intenção de Machado de Assis, deveria ser, antes de tudo, uma “casa de bom convívio”. O velho Silva Ramos, a caminho dos oitenta anos, ouviu a conversa. Acercou-se dos companheiros: - “Ele o visitou?” - “Sim, visitou”. - “E a você também?” “Também”. Ao final da roda, Silva Ramos desabafou: - “Pois a mim, o sujeito não visitou!”. Com os olhos arregalados, entre surpreso e irado, acrescentou: - “Isso quer dizer que o desgraçado quer é a minha vaga...” Ingressar na Academia de Letras é um privilégio que pode e deve ser desejado, mas parece insuscetível de ser pleiteado. Todas as tentativas de imposição de certo nome, ou a insistência do próprio interessado, têm sido mal-sucedidas. Há candidaturas que surgem espontaneamente, outras provocadas por algum amigo já acadêmico. Incumbe a este persuadir os colegas de que a sua apresentação vale a pena e que a Academia ganhará com a eleição. Assim acontece na Academia Paulista de Letras, inaugurada em 1909 e, desde então, em pleno funcionamento. Tão agradável o seu ambiente nas reuniões das quintas-feiras à tarde, que Lygia Fagundes Telles, bi-acadêmica, pois também integrava a Brasileira, preferia frequentar a Instituição Bandeirante. Isso também acontecia com o jusfilósofo Miguel Reale e, algumas vezes, com José Mindlin. O derradeiro “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, Paulo Bomfim, era muito procurado por candidatos à APL, pois era influente na sua ilimitada simpatia e foi decano da Casa durante muitas décadas, pois ali ingressara em 1963, jovem ainda. Quando recebia pedidos explícitos, na falta de tato de algum gaiato, não deixava por menos. Pediam-lhe “uma colher de chá” e ele apanhava o talher da mesa do chá e entregava ao candidato. Era uma forma de mostrar que vaga na Academia se almeja, sonha-se com ela. Mas não se pede. Tenho dito à imensa fila de interessados: flerte, namore, noive e por fim se case com a Academia Paulista de Letras. Voto com simpatia em todo bom candidato. Só não vou poder votar é na minha própria vaga. Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 20 05 2025 ![]() ![]() |
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