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![]() Acadêmico: José Renato Nalini O mar não saiu incólume dessa empreitada delitiva. Quando a sabedoria popular consagrou o ditado “o mar não está para peixe”, não imaginava que ele estaria mais habitado de plástico, de bituca de cigarro, de canudinho e outras imundícies que os racionais despejam nele
O mar, pobre mar! O ser humano tem o dom de conspurcar tudo aquilo que toca. Solo, ar e água, tudo contaminado pelo mau uso, pelos maus-tratos, pelo mau jeito de lidar com as coisas. O mar não saiu incólume dessa empreitada delitiva. Quando a sabedoria popular consagrou o ditado “o mar não está para peixe”, não imaginava que ele estaria mais habitado de plástico, de bituca de cigarro, de canudinho e outras imundícies que os racionais despejam nele. O resultado é que a vida marinha definha. Rima triste, mas real. E o aquecimento global continua a fazer a sua parte para comprometer ainda mais a saúde oceânica. A NASA, poderosa Agência Espacial dos Estados Unidos, anunciou que o nível global do mar apresentou inesperada elevação em 2024. A taxa de elevação foi de 0,59 centímetro, bem acima da projeção inicial, que seria de 0,43 centímetro. Não adianta argumentar com os “ciclos naturais” e justificar com o fato de que os mares cobriam boa parte dos atuais continentes há milhares de anos. A verdade é que a tendência geral apurada pela ciência é inequívoca: os oceanos estão subindo e a velocidade desse processo está se acelerando progressivamente, o que aumenta a angústia de quem entende. Alertam os cientistas que houve também importante alteração no padrão dos fatores contribuintes da elevação do nível do mar. Sabia-se que dois terços do aumento eram atribuídos ao acréscimo de água proveniente do derretimento de geleiras terrestres e um terço vinha da expansão térmica das águas oceânicas. Em 2024, no entanto, a tendência se inverteu. Dois terços derivaram da expansão térmica. Isso porque 2024 foi o ano mais quente da História e os oceanos responderam diretamente ao fenômeno. Alcançaram os níveis mais altos em três décadas de monitoramento. Um relatório recente da UNESCO já indicara que o oceano agora aquece a uma taxa duas vezes maior do que há vinte anos e 2023 já registrara um dos maiores aumentos desde a década de 1950. 2024 trouxe mais aflição aos pesquisadores que já estavam aflitos, prevendo o que resultaria disso. O Brasil não está imune a tais eventos, às vezes imperceptíveis. Mas constantes. Duas cidades encontram-se entre as mais vulneráveis do mundo diante da elevação do nível das águas. Ambas no Rio de Janeiro: a capital do Estado, a “Cidade Maravilhosa” e Atafona, distrito de São João da Barra, distrito de São João da Barra. Outras regiões do planeta, como o litoral da Flórida e o da Indonésia sofrem há muito tempo com essa elevação. Mas o ritmo do aumento vai afetar territórios que se consideravam livres dessa calamidade. Já se pensou o que é evacuar uma cidade inteira, por que o mar a invadiu? Pouca gente presta atenção à realidade de que nós, humanos, vivemos em um mundo de plâncton. São organismos minúsculos espalhados pelos oceanos, cobrindo quase três quartos do planeta. Estão entre as formas de vida mais abundantes na Terra. Só que o aquecimento global está desorganizando o plâncton e ameaçando toda a cadeia alimentar marinha que se estrutura sobre ele. Todas as pessoas que respiram e comem, devem se interessar pelo fitoplâncton. É que ele se constitui de pequenas algas aquáticas e bactérias que fazem fotossíntese para viver diretamente da energia solar. São a comida do zooplâncton, os menores animais do oceano, que por sua vez alimentam peixes e criaturas maiores. A elevação da temperatura da água do mar está reduzindo o fitoplâncton no oceano aberto. São os “desertos oceânicos”, que se expandem de maneira voraz. O desequilíbrio também leva algumas florações de fitoplâncton crescerem tão rapidamente, que esgotam o oxigênio na água e criam “Zonas Mortas”, nas quais nada mais pode viver. Isso afeta a pesca, a alimentação, a sobrevivência de milhões de pessoas, em todo o mundo. Um outro aspecto dessa problemática marinha deve preocupar os brasileiros. João Lara Mesquita, explorador do litoral e verdadeiro amigo do mar, já percebeu e denunciou que a costa nacional se favelizou, com a malfazeja ocupação de região de mangues e intensa edificação de arranha-céus ou de condomínios insustentáveis. O que era tesouro potencial para a economia tupiniquim virou desastre. Basta acompanhar a patriótica pregação do autor de “Mar Sem Fim”. Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 17 05 2025 ![]() ![]() |
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