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FRANCISCO
Acadêmico: Gabriel Chalita
A inspiração de Francisco, o santo, iluminou o fazer de Francisco, o papa. O que pediu, simplesmente, o nome que escolheu em sua lápide, na casa da Mãe de Deus, na terra.

Francisco

Francisco, simplesmente. (Franciscus). Foi o nome que ele escolheu. Para dizer o fim da sua vida terrena. 

O fim da sua vida foi dizer o amor em todos os lugares em que pôde amar e, também, nos lugares em que o amor parecia impossível. 

Antes mesmo de poder escolher um nome, ele deu um nome ao seu ministério. Como diácono, como padre, como bispo. O mesmo Jorge. O mesmo sorriso do menino que se encantou com uma professora, uma professora que o alfabetizou. Também nos afetos. E que trocaram, durante a vida, impressões do viver. 

Viveu ao nosso lado, na Argentina. Viveu períodos duros em que a liberdade estava suspensa. Suspendeu o medo e se pôs a ajudar quem tinha medo de não prosseguir. Prosseguiu ele fazendo da vida uma escolha de amor, uma escola de amor. Fez escola o menino Jorge que, depois, foi cardeal. Que pode escolher o nome, depois de escolhido pelos cardeais do mundo inteiro. 

O nome do santo, do santo irmão da dona pobreza, do santo da bondade com os animais, do santo de Assis e da humanidade. 

A inspiração de Francisco, o santo, iluminou o fazer de Francisco, o papa. O que pediu, simplesmente, o nome que escolheu em sua lápide, na casa da Mãe de Deus, na terra. 

O corpo volta à terra. É o fim. O fim de uma vida vivida no amor não tem fim. E é isso o que fez dele um cultivador da alegria até os dias finais. 

Esperou a Páscoa para só depois se despedir. Abençoou os fiéis, fiel que era a uma vida de abençoar. A todos. Falou das dores dos refugiados, chorou o choro de Gaza, andou sozinho em uma praça repleta de ausências nos dias tristes da pandemia. Aquele silêncio nos dizia que, depois, nos abraçaríamos com mais amor.
Os braços parecem, hoje, preferirem as armas aos abraços. 

E falou o papa do fracasso das armas. Dos discursos que impedem ao humano a humanidade. Há vozes que fazem eco, eco que impede pensamentos. A voz de Francisco, o papa, era outra. Como ser de Deus sem ser de alegria? "Quem sou eu para julgar", disse ele sobre julgamentos.

Sobre posse, falou quando veio ao Brasil: "Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais preciso me foi dado: Jesus Cristo". E , sobre delicadezas, também falou: "Tenho aprendido que para ter acesso ao povo brasileiro é preciso ingressar pelo portal de seu imenso coração. Por isso, permito-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta. Peço licença para entrar e transcorrer esta semana com vocês". 


Não foi uma semana, apenas. Continua sendo. O homem que deu ternura aos moradores em situação de rua mudou a situação de tantas ruas desertas dentro de almas sonolentas de amor. Seu papado acordou muita gente. Uma voz solitária, mais de uma vez, como o seu mestre. Jesus também experimentou a solidão. O pregador do amor foi pregado na cruz. E, então, o colo de Maria. A memória da vida estava ali. As lágrimas, também. E, também, a fé. E, na madrugada do terceiro dia, se fez Páscoa.

A Páscoa, de Francisco, foi no domingo, como de toda a gente. E foi na segunda, como de toda a gente que morre no amor. O amor não morre. Francisco, simplesmente. O entardecer do dia, depois da Páscoa, estava triste. Lágrimas em idiomas diferentes choravam o papa. Não pela descrença da vida, mas pela saudade do sorriso acordador de alegrias. 

Agora, é com a eternidade. Com um portal que só conheceremos um dia. E que, se formos delicados, ingressaremos no coração do Pai como uma criança que fecha os olhos para dormir à noite confiando que tem amanhecer...

Publicado em O Dia, em 27 04 2025



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