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![]() Acadêmico: José Renato Nalini Todos temos de nos entristecer com a partida de um homem singular, de excepcionais qualidades, que endereçou contínuas mensagens de perseverança aos homens de todo o mundo, fossem ou não católicos. Mas há pessoas para as quais a morte de Jorge Mario Bergoglio é dramática e irreparável. São os humildes do Vaticano
Quem ficou mais triste? Fiquei muito triste, abatido mesmo, com a morte do Papa Francisco. Não apenas porque foi o pontífice com quem tive maior contato e, para privilégio meu, minutos de boa conversa. Foi quando ele chamou vinte Prefeitos para relatarem, às duas Academias Pontifícias – de Ciências Exatas e de Ciências Sociais – sua experiência em relação às emergências climáticas. Integrei a comitiva do Prefeito Ricardo Nunes e todos tivemos o nosso momento de intimidade com o Papa ecológico. Sim, foi o Papa que escreveu “Laudato Si”, encíclica ecológica acatada pela comunidade científica, porque o Papa é um estudioso de todas as ciências, não apenas da teologia. Produziu mais dois grandes documentos para alertar a sociedade humana de que o perigo existe, está cada vez mais próximo e isso exige mudança drástica de comportamento de cada um de nós. Além de responsabilidade decuplicada para os governos. Mas, como cristão e católico, simpatizei-me com o argentino que escolheu o “nome do milênio”, o pobrezinho de Assis que teve a coragem, no século 13, quando sequer existia o verbete “ecologia”, chamar de irmãos a água, o sol, os animais. Algo que só no século 21 ganharia força, ao se amenizar o exacerbado antropocentrismo que nos fez destruir a natureza da qual somos parte indissociável. A simpatia foi se tornando admiração crescente, com a preocupação de Francisco pelos mais vulneráveis, com a pacificação entre as nações, com os cuidados que precisamos dispensar a este planeta, o único ainda disponível para que continuemos a existir. A singeleza de sua vida, embora como chefe da Igreja e do menor Estado da Terra, mostrou-se exemplar quando assumiu sua fragilidade, as contingências da condição humana, não se escondeu sob os protocolos, mas se submeteu aos tratamentos, internações, cirurgias e procedimentos que em parte coincidiram com a celebração da Semana Santa. Sensível aos mais vulneráveis, não se esqueceu dos demais. A todos ofereceu perdão, mediante a instituição do Ano Jubilar de 2025, em cuja celebração pascal entregou a vida ao Criador. Exatamente na segunda-feira que sucede ao domingo da ressurreição e que, na Itália, é consagrada à lembrança do Anjo que anunciou às santas mulheres a ressurreição de Cristo. Todos temos de nos entristecer com a partida de um homem singular, de excepcionais qualidades, que endereçou contínuas mensagens de perseverança aos homens de todo o mundo, fossem ou não católicos. Enxergou, como líder universal, os perigos cada vez mais graves e mais próximos e, muito além da conclamação, ofereceu-se em sacrifício, para poupar as consequências que um adequado padrão de justiça reservaria aos agentes do mal. Mas há pessoas para as quais a morte de Jorge Mario Bergoglio é dramática e irreparável. São os humildes do Vaticano, entregues à coragem do Cardeal polonês Konrad Krajewski. Ele era um jovem sacerdote que veio para a Corte Pontifícia quando da eleição de Karol Wojtyla, seu conterrâneo. Ali permaneceu e serviu aos dois Papas que sucederam São João Paulo II. Francisco o chamou e perguntou qual o caminho que ele fazia para vir de sua casa para o Vaticano. Ao ser informado, o Papa indagou: - “E você acha que aprendeu a verdade evangélica?”. Pois o caminho estava povoado de moradores de rua, por cuja sorte o Papa intercedia. Konrad foi nomeado “Esmoleiro Pontifício”, responsável por distribuir ajuda e solidariedade aos necessitados de Roma. Ele consegue alimentar, dar capacitação, encaminhar para o trabalho milhares de carentes. O Papa ainda o encarregou de levar mantimentos, medicamentos e recursos financeiros para os ucranianos em guerra. E o Cardeal Konrad, ainda jovem, é o encarregado de tais missões especiais. É quem celebra as missas de Natal nos territórios em conflito. Assim como os desvalidos hoje acolhidos pela Santa Sé, o Cardeal Konrad Krajewski e sua equipe serão os mais atingidos com a partida de Francisco. A geopolítica em retrocesso deste fatídico 2025, o agravamento das questões bélicas e das emergências climáticas, a insegurança dos esquemas ultrassecretos entregues à Inteligência Artificial generativa, que pode acabar com o mundo ou com boa parte dele mediante um clique – até por equívoco, sem intencionalidade – tornam ainda mais nefasta a morte de Bergoglio. Que o Espírito Santo presida o Conclave e oriente os Cardeais para que que a eleição do próximo Sumo Pontífice atenda às urgências desta era tão complexa, tão ameaçada e tão carente de pessoas com as qualidades de Jorge Mario Bergoglio, o nosso inefável Papa Francisco. Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 22 04 2025 ![]() ![]() |
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