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O SABOR DA PÁSCOA
Acadêmico: Gabriel Chalita
O amor une o ensinamento da Páscoa do antigo e do novo testamento. O amor nos faz passar da escravidão para a libertação, da morte para a vida. 

O sabor da Páscoa

Eram os dias que antecediam o dia da Páscoa. Fui ter com meu pai, tão ajudador das gentes. 

Na escola, havíamos feito desenhos que ensinavam os símbolos que significavam a Páscoa. Páscoa é passagem. Foi assim, nos tempos antigos, é assim nos tempos novos. 

Nos tempos antigos, era a história de um povo que sonhava em deixar de ser escravo, um povo que ousou acreditar que era possível atravessar o mar e enfrentar o deserto até chegar à terra prometida. Sem sonhos o impossível é apenas impossível!

Na Páscoa nova, a vida vence a morte. Nem todos os ódios acumulados foram capazes de pôr fim ao amor. O amanhecer rompe as noites e faz nascer a esperança. E, então, Jesus ressuscita para explicar a vida e para dizer a vida que vai além do que somos capazes de compreender. 

Eu aprendia esses ensinamentos em casa e na Igreja. Na escola, eram os desenhos e as histórias de bondade de quem buscava ações de santidade na santa semana. Ao meu pai, eu disse que disseram que levariam ovos de Páscoa a um lar de menores, um orfanato na nossa pequena cidade. Meu pai assentiu com a cabeça, a caridade é a virtude que permanece. Eu perguntei dos velhos. Quem leva os ovos de chocolate aos velhos?

Eu, desde muito pequeno, visitava um asilo que ficava próximo de casa. E gostava. De ouvir histórias. De aprender palavras. De exercitar o amar. Meu pai entendeu e disse que deveríamos fazer a Páscoa dos velhos. Darmos um outro sabor para eles. Eu disse que tínhamos que fazer nos dois asilos da cidade. No perto de casa e em um outro que ficava em um bairro alto. Ele concordou.

Lembro com detalhes daquela conversa. Eu tinha nove anos. Meu pai disse que podíamos providenciar um almoço diferente para eles. E que poderíamos ir. Ficar um pouco em cada um. "Pai, mas eu quero dar os ovos de Páscoa para todos eles". E fomos juntos comprar. E fomos juntos providenciar o amar em um dia tão sagrado. 

Que dia lindo. No asilo perto de casa, eu sabia o nome de cada um. O outro sabia o nome de alguns. Mas eu não me constrangia em perguntar os outros nomes e dizer a cada um: "Feliz Páscoa!", enquanto entregava o ovo doce, enquanto adoçava, pelo menos naquele dia, aquelas histórias.

Nasci em uma família que sempre compreendeu a beleza do ajudar. Meu pai foi muito pobre nos inícios, filho de imigrantes que romperam os mares para tentar a vida. Minha mãe veio de longe também, fugida das guerras que prosseguem. Os dois têm raízes nas terras sagradas onde os fatos históricos se fazem lembrar nesses dias da semana santa. Terra sagrada. Terra segregada por ódios. Ainda prosseguem matando. Ainda não entendem a Páscoa. 

Foram muitas páscoas em que repetimos o ritual. Os ovos para os velhinhos. Meus pais já vivem a Páscoa da eternidade. Fui essa semana à minha cidade natal. Fui ver minha tia que também ia conosco aos asilos. Choramos juntos um tempo que não volta.

Como sou grato a Deus por ter aprendido o valor da ternura. Ainda moram em mim os fazeres dos meus pais. Eu já sei o que vou fazer na Páscoa deste ano. Os plantios têm direito à colheita. Ajudar as gentes é o melhor jeito de viver a Páscoa.

O amor une o ensinamento da Páscoa do antigo e do novo testamento. O amor nos faz passar da escravidão para a libertação, da morte para a vida. 

Feliz Páscoa!

Publicado no jornal O Dia, em 31 03 2024



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