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MÁXIMAS, PENSAMENTOS E REFLEXÕES
Acadêmico: José Renato Nalini
Foi-se o tempo em que as “máximas” interessavam à infância e juventude, como forma oficiosa de aprender a cultivar bons pensamentos.

Máximas, pensamentos e reflexões

Foi-se o tempo em que as “máximas” interessavam à infância e juventude, como forma oficiosa de aprender a cultivar bons pensamentos. Álvaro Ferdinando de Souza da Silveira, nascido no Rio de Janeiro em 1883 e engenheiro civil da Escola Politécnica, deu-se à tarefa de coletar aquilo que o Marquês de Maricá produziu durante sua copiosa existência.

O resultado é um volume editado em 1958 pela Casa de Rui Barbosa, numa parceria com o Ministério da Educação e Cultura, volume da Coleção da Língua Portuguesa Moderna.

Mal não faria à mocidade pós-moderna conhecer o pensamento desse brasileiro cuja biografia merece revisita. Extraio algumas apenas, das 4188 que ele escreveu em vida. Cada uma delas justificaria a redação de um texto, como exercício não apenas vernacular, mas ético.

“Os maldizentes, como os mentirosos, acabam por não merecerem crédito, ainda mesmo dizendo verdades”. “Há muitos homens que se queixam da ingratidão humana para se inculcarem benfeitores infelizes, ou se dispensarem de ser benfazentes e caridosos”. “Os elogios de maior crédito são os que os nossos próprios inimigos nos tributam”. “A modéstia doura os talentos, a vaidade os deslustra”.

Esta serve para a análise das minúsculas condutas que tangem a corrupção: “Os abusos, como os dentes, nunca se arrancam sem dores”. E para os ingratos, nada como ouvir: “Os soberbos são ordinariamente ingratos; consideram os benefícios como tributos que se lhes devem”. Quem não tem apreço à modéstia deveria ouvir: “O nosso amor-próprio é tão exagerado nas suas pretensões, que não admira se quase sempre se acha frustrado nas suas esperanças”.

Numa era em que todos falam e poucos ouvem, nada como refletir sobre esta máxima: “A intemperança da língua não é menos funesta para os homens que a da gula”. E para os que já se desiludiram na vida amorosa, resta pensar que “mudamos de paixões, mas não vivemos sem elas”.

Esta é para o Brasil de hoje: “Quando o povo não acredita na probidade, a imoralidade é geral”. E para o Parlamento brasileiro: “É nas grandes assembleias deliberantes que melhor se conhece a disparidade das opiniões dos homens, e o jogo das paixões e interesses individuais”.

Sobre juventude e velhice, o Marquês de Maricá não economizou palavras: “Os vícios nos velhos são inimigos acastelados que somente a morte pode expugnar”. “O moço devasso pode emendar-se, o velho vicioso é incorrigível” e “A mocidade viciosa faz provisão de achaques para a velhice”.

A questão de não encontrar tempo para fazer o que é preciso é uma desculpa esfarrapada: tempo é questão de preferência. Daí a máxima: “Desperdiçamos o tempo, queixando-nos sempre de que a vida é breve”.

Para os que criticam o passado, cabe recordar que “um século censura o outro século como em nossa vida uma idade condena a outra idade”. E a História do Brasil já registrou, em inúmeras de suas fases, que “a vitória de uma facção política é, ordinariamente, o princípio da sua decadência, pelos abusos que a acompanham” ou “os tufões levantam aos ares os corpos leves e insignificantes e prostram em terra os graves e volumosos. As revoluções políticas produzem algumas vezes os mesmos efeitos”.

Para os que pervertem a política, fazendo-a uma profissão, é bom saber que “os homens mais respeitados não são sempre os mais respeitáveis”. Ou “há homens que parecem grandes no horizonte da vida privada e pequenos no meridiano da vida pública”. E para quem quer reformar a Constituição, cumpre não esquecer que “a reforma das Constituições agrada a muitos, a reforma da própria consciência desagrada a todos”.

“Há pessoas que não podem elevar-se a lugares eminentes sem entontecer ou desatinar”. Quanta verdade! Quer conhecer um humano, dê-lhe poder. Mas a coleção de máximas, de utilidade extrema para todas as pessoas que acreditam na perfectibilidade, só causa proveito a quem realmente queira observá-la. E a experiência mostra que “dão-se conselhos com melhor vontade do que geralmente se aceitam”.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão, em 08 11 2023



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