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JUNDIAÍ EM 1924
Acadêmico: José Renato Nalini
Jundiaí sempre celebrou a Revolução Constitucionalista de 1932. Não me lembro de qualquer comemoração relativa à Revolução de 1924.

Jundiaí em 1924

Jundiaí sempre celebrou a Revolução Constitucionalista de 1932. Não me lembro de qualquer comemoração relativa à Revolução de 1924. Mas é interessante recordar que no próximo ano celebra-se o centenário dessa insurreição contra o governo federal, que bombardeou São Paulo - a capital - durante quase vinte dias.

Os insurretos eram liderados pelo General Isidoro Dias Lopes que, segundo o relato do Embaixador José Carlos de Macedo Soares - amigo de Mariazinha Congilio - se portou de forma eticamente superior aos governistas.

Carlos de Campos, o Presidente do Estado, - assim se chamavam os governadores - deixou os Campos Elíseos e saiu da capital. Os serviços públicos estaduais ficaram acéfalos. O bombardeio terrificante - na classificação terminológica - atingiu igrejas, escolas, asilos, teatros e até hospitais. Morreram milhares de indefesos e inocentes paulistanos.

A sociedade civil assumiu o controle administrativo conforme possível e contou - paradoxalmente, - com a colaboração dos insurretos. Enquanto isso, o nefasto Ministro da Guerra, Marechal Setembrino de Carvalho, se recusou ao cessar fogo. Ainda foi irônico em relação a São Paulo. Argumentou que os danos materiais eram todos reversíveis, pois a gente paulista era rica e laboriosa. Enquanto os danos morais, esses seriam insuscetíveis de qualquer restauração.

Pior ainda, fez distribuir boletins aos milhares, em seus aviões estatais, mandando a população que ainda não fugira evacuar a cidade, pois ela seria bombardeada e metralhada em poucos dias. Só que as saídas de São Paulo, tanto em direção a Jundiaí, como com destino ao litoral, estavam bloqueadas pelas forças legalistas.

Seria bizarro, não fosse cruel. Manda sair da cidade e não deixa sair.

O pavor foi tamanho, que Macedo Soares, na condição de Presidente da Associação Comercial e o arcebispo Dom Duarte Leopoldo e Silva intercederam junto ao comandante dos revolucionários, o General Isidoro Dias Lopes, e este - voluntariamente - deixou a capital com suas tropas.

Assim que os rebeldes saíram de São Paulo, a cidade foi ocupada pelos soldados legalistas. Recebidos com extrema frieza pelos paulistanos, assim como são recebidos os inimigos vitoriosos.

Pela sua atuação heroica e patriótica, responsável por mitigar as desgraças causadas pela luta fratricida, José Carlos de Macedo Soares foi denunciado como incurso nas sanções do artigo 107 do Código Penal de então. Algo como atentar contra o Estado e contra a democracia.

Para o processamento do feito seria necessária a pronúncia do juiz. E este impronunciou o réu, dizendo "Não há, efetivamente, prova que autorize a inclusão do Dr. José Carlos de Macedo Soares entre os que deliberaram, excitaram ou dirigiram o movimento, segundo a definição legal do que sejam - cabeças - Código Penal, artigo 108. As imputações feitas nesse sentido foram completamente destruídas".

Na mesma enorme sentença prolatada pelo juiz Washington Osório de Oliveira, em 27 de junho de 1925, também foi impronunciado um jundiaiense, Júlio Waldemar Renault, sobre cuja pessoa não encontrei dados em pesquisa realizada.

Revisitar a Revolução de 1924 é exercício salutar para a constatação de que a sociedade civil tem condições, quando quer e é bem liderada, de obviar omissão ou negligência de qualquer governo. Este, em regra, se esquece de que é servidor da cidadania, não seu dono ou patrão.

Publicado no Jornal de Jundiaí, em 24 08 2023



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