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EXPERIÊNCIA FECUNDA SE EXPANDE
Acadêmico: José Renato Nalini
A educação é direito de todos, mas dever do Estado e da família, em colaboração com a sociedade.

Experiência fecunda se expande

Quando renunciei aos cinco anos finais da Magistratura para atender às ponderações do Governador Geraldo Alckmin e assumir a Secretaria da Educação do Estado, não vislumbrava a dimensão do desafio. A máquina estatal era dez vezes superior, em termos de pessoal, do que o Tribunal de Justiça. Aqui, eram quarenta e cinco mil dos funcionários. Na Secretaria da Educação, quatrocentas mil almas dependiam do Erário.

Havia escolas invadidas e não eram estudantes indignados com a falácia do "fechamento de escolas", na reorganização que se prometia e que não foi antecedida de diálogo com os interessados. Eram profissionais do tumulto, inspirados em 2013, que diziam abraçar a causa dos alunos e se estabeleciam dentro dos estabelecimentos educacionais, com respaldo da opinião pública e de mídia pouco empenhada em ir à raiz dos problemas.

Em lugar da desocupação dos próprios estatais de uso especial por iniciativa do próprio Estado, recorria-se ao Judiciário e predominava a álea. Agendava-se justificação - como se o governo precisasse demonstrar que as crianças precisariam de aula em prédios construídos com dinheiro do povo exatamente para isso. Havia indeferimentos, raiava a confusão.

Foi preciso lembrar que se o cidadão pode expulsar o invasor, pois a Constituição não quer brasileiros covardes, o Estado também pode retomar seus próprios, desnecessária a permissão judicial. E assim aos poucos se fez, normalizando o calendário escolar.

Todavia, houve colaborações inesperadas, após o mantra de se recordar o teor do artigo 205 da Constituição da República: a educação é direito de todos, mas dever do Estado e da família, em colaboração com a sociedade. Ninguém está dispensado de contribuir para com a educação pública, um ponto nevrálgico e vulnerável desta República.

Um dos maiores contributos para um novo olhar da sociedade em relação à escola foi oferecido por Janaína Rueda, a chef que já vencera com o restaurante "Dona Onça" e cujo Jefferson já brilhava com a "Casa do Porco". Este, folgo em saber, foi considerado o 12º melhor restaurante do mundo, pelo 50 Best.

Janaína se encarregou do projeto "Cozinheiras da educação". Percebeu que um dos argumentos sedutores para o alunado da escola pública é a alimentação manipulada. As crianças precisam ser nutridas adequadamente. Já se nota um crescimento das novas gerações, depois que as escolas começaram a oferecer refeições bem elaboradas.

Com o seu talento culinário, uma chef respeitada no Brasil inteiro, e com orgulho por ter cursado escola pública, Janaína começou a treinar as cozinheiras. Com os produtos adquiridos pelo Estado, fez maravilhas. Como se sabe, um ingrediente que não pode faltar para quem cozinha para crianças - e para adultos também! - é o amor.

Tal sentimento não faltou em Janaína. Ela não se resumiu a dar a ideia, nem a vender consultorias, como grande parte dos "especialistas" em educação costumam fazer e que, pertencendo a uma invejada elite, conseguem atrair a atenção e o tesouro estatal para remunerar seus projetos. Janaína foi para a cozinha. Com sua simpatia e conhecimento de causa, cativou as esforçadas merendeiras. E o resultado foi um salto na frequência e no consumo das refeições escolares.

Antes dessa iniciativa, era enorme o volume de comida jogada fora. Pratos pouco apetitosos não conquistavam o alunado. A partir de Janaína, o fenômeno da repetição começou a evidenciar o sucesso da empreitada.

Como tudo o que acontece na política Brasileira, a troca de governo faz com que o novo reinvente a roda. O projeto foi abandonado, assim como a exitosa "Adoção afetiva". Mas vejo que a experiência valeu. Agora Janaína e Jefferson Rueda inauguraram o "Merenda da Cidade". Restaurante que oferece um prato fixo por dia, valendo-se da experiência obtida naquela fase da cozinha amorável para os alunos da Rede Pública Estadual. Vida longa ao "Merenda da Cidade" e a gratidão do ex-Secretário, pela adesão à causa mais relevante para a transformação do Brasil: a educação de qualidade.

Janaína é um exemplo de mulher bem-sucedida, que procura devolver à sociedade o que nela se investiu. Como seria excelente existissem outras com análoga vocação!

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão
Em 24 07 2023




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