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O RISCO DAS ESCOLHAS
Acadêmico: José Renato Nalini
Nem sempre temos noção do que ocorrerá em virtude da opção que se fez. O risco é próprio da curta e frágil aventura humana.

O risco das escolhas

A vida é feita de escolhas. Nem sempre temos noção do que ocorrerá em virtude da opção que se fez. Não existe garantia de êxito. O risco é próprio da curta e frágil aventura humana.

Personalidades esquecidas podem nos ajudar a refletir sobre o tema. Penso em Gabriel José Rodrigues dos Santos, paulistano que nasceu em 1º de abril de 1816, filho do alferes português Joaquim Rodrigues dos Santos e de Maria Joana da Luz, filha do coronel Gabriel José Rodrigues, cujo nome coube ao neto. Muito estudioso, aos dezesseis anos matriculou-se na São Francisco, turma 1832-1836. Foi o primeiro de sua classe durante todo o curso e o primeiro a doutorar-se, com brilho, em 1838.

Suas leituras o levaram a criar um grupo de teatro, no espaço construído na chácara de sua mãe, no Cambuci. Paulo do Vale, em sua biografia, menciona o talento do jovem: "Preparado e ensaiado pelo padre mestre Francisco de Paula Xavier, professor de Filosofia e seu amigo, Rodrigues dos Santos estreou nas festas de família e no púlpito a sua missão oratória, e, pela falta de outros igualmente aptos, ou por naturais impulsos do seu próprio gênio, tornou-se ele uma celebridade, foi chamado a todas as festas, não já domésticas, mas públicas, nem só nos limites da cidade, mas até à Conceição dos Guarulhos".

Recém-formado, foi nomeado Promotor Público da capital, que incluía Bragança, Atibaia e Moji das Cruzes. Eleito deputado provincial para o biênio 1840-41, houve contestação porque ainda não tinha 25 anos. Defendeu-se e obteve a vitória, sendo reeleito para o cargo até 1860.

Durante a segunda administração de Rafael Tobias de Aguiar e seu sucessor almirante Melo Alvim, na então província de São Paulo, foi Secretário do governo, cargo que aceitou para o governo provisório instaurado por Rafael Tobias de Aguiar em Sorocaba, a Revolução Liberal de 1842.

Caxias derrubou o governo provisório e Gabriel teve de fugir para o sul, onde ainda se travava a Revolução dos Farrapos. Refugiou-se primeiro em Palmeiras, no Paraná, que ainda pertencia a São Paulo. Só em 1853 foi desmembrada de nosso Estado. Deu-lhe abrigo o paulista José Caetano de Oliveira, mais tarde Barão de Tibagi.

Depois de dois meses, tendo notícia de que a situação em São Paulo não serenara, pôs-se novamente em busca do sul, integrando uma caravana de revolucionários foragidos de Sorocaba. Houve episódios de muito perigo durante a viagem, porque o Tenente Firmino, comandante de um destacamento legalista, matou o primeiro fugitivo que encontrou. Gabriel encontrou pouso na fazenda do paulista Joaquim José de Oliveira, no território das missões.

Enquanto ali permanecia, chega na noite de 8 de novembro de 1842, perseguido, espionado e traído o chefe e amigo Rafael Tobias. Alertado do perigo iminente que corriam, todos procuraram escapar. Gabriel conseguiu safar-se das forças legalistas, mas Rafael Tobias foi preso como rebelde, torturado e conduzido ao Rio de Janeiro, encarcerado na fortaleza da Laje.

Gabriel foi para a Argentina e teria de enfrentar a alternativa da prisão ou da morte, pois a região estava infestada de criminosos. Disfarçou-se em arreador de tropa passou a se chamar Luís Teixeira e se adaptou à vida rústica, para manter-se incógnito. Como era pessoa de extraordinário senso, passou a ser respeitado e estimado pelas qualidades de seu caráter.

Ganhou a confiança de seu "patrão", o tropeiro Sampaio e tanto o impressionou, que obteve dele a promessa de participação numa tropa em direção a São Paulo. A mulher do tropeiro desconfiou dele, porque sabia fazer contas e fez com que Sampaio inquirisse Gabriel. Este admitiu sua identidade e emocionou o tropeiro, que já conhecia de fama esse paulista que se impôs por sua erudição e participação na vida pública.

Em 1844, Gabriel se entrega à prisão em São Paulo. Vai a júri, junto com Cândido Mota. Defende-os o Conselheiro Crispiniano. Foram ambos absolvidos. Desde então, cresceu a imensa popularidade de Gabriel, nomeado lente substituto da Faculdade de São Paulo em 1854. Não teve muito tempo para haurir da fama e do respeito da população. Morreu em 23 de maio de 1858, com apenas 42 anos de idade. Mas viveu intensamente, mercê de suas escolhas.


Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão
Em 13 06 2023



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