Compartilhe
Tamanho da fonte


ALGUÉM QUER SER PROFESSOR?
Acadêmico: José Renato Nalini
No declínio dos valores que acomete nossa era, a crise atinge principalmente os três principais "Ps": Pais, Professores e Padres ou Pastores.

Alguém quer ser professor?

Relutei em aceitar o convite do Governador Geraldo Alckmin para assumir a Secretaria da Educação em janeiro de 2016. Acabara de deixar a presidência do Tribunal de Justiça e estava muito confortado com a perspectiva de permanecer mais cinco anos naquela Instituição em que fui muito feliz.

Ele insistiu e colocou uma equipe encarregada de me persuadir. Já fizera pela Justiça o que eu pude. Meu Estado precisava de mim. Havia mais de trezentas escolas invadidas. Etc, etc... Afinal, cedi. Minha mãe não me ensinou a dizer "não". E foi pensando nela que aceitei a missão.

Lembrei-me de que, ainda menino, um Secretário da Educação visitaria meu Colégio Divino Salvador. Parece que era o Professor Ataliba Nogueira. Minha mãe intensificou suas recomendações: - "Se puder apertar a mão desse homem, faça com a consciência de que ele é responsável pela educação de todas as crianças paulistas!".

Eu já a perdera. Imaginei que ficaria feliz se eu pudesse assumir o sacrifício. Não imaginei que os problemas fossem tamanhos e tão aparentemente insolúveis.

Constatei o quão nefasta foi a decisão de extinguir o chamado curso "Normal", que formava alfabetizadores. Crianças chegavam aos anos finais do Ensino Fundamental, antigo Primário, sem saber ler.

Fui procurar o Reitor da USP, Professor Marco Antonio Zago. Pensava em obter os préstimos da Faculdade de Educação, de Pedagogia, de Letras. Ele foi muito franco: temos luminares, mas interessados em produzir teses e dissertações, em fazer pesquisas. Ninguém se interessa pela sala de aula.

Ele tinha razão. Em visita a inúmeras escolas, por todo o Estado - são cerca de 5.400 - gostava de entrar nas classes e fazer uma pesquisa empírica. Indagava aos alunos: - "O que vocês vão ser quando adultos?". As respostas variavam, inclusive de acordo com a região. Mas nunca ouvi de algum estudante sua intenção de ser professor.

Isso se confirma quando se verifica o resultado de pesquisas recentes. A cada dez cursistas de Letras, sete desistem de terminá-lo. Todos sabem as razões. No declínio dos valores que acomete nossa era, a crise atinge principalmente os três principais "Ps": Pais, Professores e Padres ou Pastores. A missão docente foi inferiorizada. Remuneração inferior a de muitas outras atividades. Ausência de respeito de parte de alunos e, pasmem, por parte de seus pais. Violência nas escolas. Concorrência com as redes sociais, muito mais sedutoras do que as aulas expositivas.

A tragédia está em todos os ângulos: mais da metade dos estudantes do segundo ano do ensino fundamental, não estão alfabetizados. O déficit em exatas é alarmante. Principalmente nessa área em que o Brasil precisa de profissionais qualificados.

Cada vez menos atraente a carreira docente. E 77 dos que iniciam o curso de Letras estão na EAD, educação à distância.

O problema é gravíssimo. Tem-se a impressão de que o Estado tentacular, esse que cresce nas estruturas burocráticas sustentadas por um contribuinte cada vez mais desiludido, porque paga tributos de primeiro mundo para receber serviços de quarta ou quinta categoria, não tem interesse em que a população se eduque. Gente educada critica. E crítica não está no radar dos políticos profissionais que só pensam em seus interesses materiais imediatos e mesquinhos e na matriz da pestilência chamada reeleição.

Sugeri a convocação das professoras aposentadas, aquelas alfabetizadoras de primeira, experientes e éticas. À evidência, o grupo forte do governo rotulou a ideia de fantasia e a vetou. E assim caminha a iletrada humanidade tupiniquim.


Publicado no Jornal de Jundiaí
Em 08 06 2023



voltar




 
Largo do Arouche, 312 / 324 • CEP: 01219-000 • São Paulo • SP • Brasil • Telefone: 11 3331-7222 / 3331-7401 / 3331-1562.
Imagem de um cadeado  Política de privacidade.