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SETE VEZES MAIS!
Acadêmico: José Renato Nalini
A Amazônia preservada vale sete vezes mais do que devastada.

Sete vezes mais!

O número cabalístico 7! Exatamente ele foi mencionado pelo Banco Mundial, para dizer aos brasileiros que a Amazônia preservada vale sete vezes mais do que devastada.

O lucro presumivelmente obtido com a exploração é sete vezes menor do que deixar as árvores em pé. Prestando serviços ecossistêmicos para as quais a Providência as preordenou. Para o Banco Mundial, o desmatamento é uma redistribuição ineficiente de riquezas públicas para o privado. Pasmem! A preservação da floresta vale, ao menos, trezentos e dezessete bilhões de dólares por ano! Ou seja: uma quantia nada desprezível de um trilhão e meio de reais.

O elaborador do relatório chamado "Equilíbrio delicado para a Amazônia Legal Brasileira - um memorando econômico", o economista Marek Hanusch, afirma que, "em termos econômicos, o desmatamento é uma enorme destruição de riqueza, ameaça o clima global, ameaça a extraordinária biodiversidade e formas de vida e comunidades tradicionais".

Como se chega a esse montante? Vinte bilhões de dólares anuais é o que valem os sérvios ecossistêmicos, só considerada a América do Sul. Chuvas para a agricultura estão nessa conta. Mas a plus valia da floresta em pé vem da função amazônica de sumidoura de carbono, o que se calcula valha duzentos e dez bilhões de dólares por ano. Mais dez bilhões de dólares decorrem do valor de opção, a prospecção para investimento em inovações farmacêuticas extraídas de recursos genéticos da exuberante biodiversidade.

Estudos mais aprofundados calculam em sessenta e cinco bilhões de dólares o "valor de existência", nome que se atribui à tutela da cobertura florestal e à biodiversidade por si sós. Avaliação a que se chega por meio de pesquisas amostrais com a população global e o que representa a natureza preservada para as futuras gerações. Aliás, para os brasileiros, um dever explicitado na ordem fundante, com sede no artigo 225 da Constituição da República.

O estudo é muito consistente e compara o que a floresta significa e o que representaria a sua eliminação, para ceder espaço para a agropecuária. Mesmo as florestas plantadas têm biodiversidade muito menor do que aquela gerada pela natureza, depois de milênios de obra incessante, algo que a humanidade insana e ignara passou a desconsiderar, quando liberou o maior patrimônio brasileiro à sanha assassina das organizações delinquenciais apátridas. Mas muito sofisticadas e eficientes no afã de exterminar o verde.

O desmatamento está no catastrófico modelo de desenvolvimento do Brasil e sacrificou a Amazônia Legal. É urgente alterar o motor de crescimento, reduzir o foco na expansão da fronteira agrícola, o chamado "arco do desmatamento" e aumentar a produtividade dos outros setores, como a indústria e serviços. A indústria cosmética e farmacêutica têm horizontes infinitos na Amazônia. E também as perspectivas alimentícias, com tantos produtos valiosos ainda não descobertos e que podem render milhões, quando convertidos em nutrição orgânica, uma tendência que as atuais e futuras gerações levam a sério.

Na Amazônia falta Estado e sobra delinquência. Um bom começo seria a regularização fundiária, porque sequer a União tem conhecimento pleno de quais são as suas terras. Com isso, os infratores se apoderam delas, derrubam as árvores, fazem queimadas, formam pastos e subutilizam uma área que, deixada intocável, geraria sustento suficiente para as famílias que ali estivessem e para produzir ainda mais renda.

É preciso encarar com urgência e seriedade o estado de coisas surreal que submeteu a Amazônia à terra da bandidagem, investir em proteção efetiva, punição exemplar para os criminosos que ali faturam bilhões, oferecer alternativas para a população que vive à margem de um estado civilizacional que lhe garanta dignidade.

São vinte e oito milhões de pessoas que vivem na Amazônia Legal, um território maior do que o da União Europeia. Trezentos e oitenta mil indígenas vivem na região, em piores condições ainda do que o restante da população. E quase oitenta por cento da população da Amazônia Legal já vive em áreas urbanas de baixíssima qualidade e desprovidas de infraestrutura.

Chega de discurso e de promessas! Regularização fundiária na Amazônia Legal já! E prisão e multas não meramente simbólicas, para os que se apoderam, criminosamente, do tesouro que ali se reduz a cada dia e que pertence a todos os brasileiros.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão
Em 31 05 2023



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