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ALUNOS INOLVIDÁVEIS
Acadêmico: José Renato Nalini
Entre os alunos que frequentaram a Academia de São Francisco estão Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, Antônio de Castro Alves e Francisco de Paula Rodrigues Alves.

Alunos inolvidáveis

Quem foi contemplado com a graça e o privilégio de estudar na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco tem o dever, não só de levar a sério o aprendizado das ciências jurídicas, mas de honrar os luminares que por ali passaram.

Existe uma Academia de Antigos Alunos das Arcadas, cujo funcionamento, como costuma ocorrer com toda instituição, depende do entusiasmo de quem a preside. Mas independentemente disso, há uma tonelagem de obras enaltecedoras desses vultos que prestaram inestimáveis serviços à Pátria.

Falemos de alguns deles. Paulo Emílio de Sales Eiró entrou na São Francisco em 1859, depois de quatro anos como professor. Lia muito, era erudito. Uma infelicidade no amor inspirou muitos poemas. No segundo ano, passou a se considerar perseguido. Abandonou os estudos e foi se preparar para ingresso no Seminário. Mas acabou sendo internado num hospício, onde morreu. Seu nome hoje está num Teatro em Santo Amaro.

Outro poeta romântico foi Luís Nicolau Fagundes Varela, que ingressou no Curso Anexo em 1859, fez teatro, escreveu muita poesia e foi apaixonado por "Ritinha Sorocabana", personagem conhecida de todas as Repúblicas. Era hipocondríaco e abusava do consumo etílico. Não conseguiu terminar o curso, nem em São Paulo, nem em Pernambuco, para onde se transferiu em 1865. Para Manuel Bandeira, Fagundes Varela é um "retardatário da geração anterior, inadaptado dentro da civilização das cidades", incapaz de se concentrar em trabalho de espécie alguma, salvo o da literatura.

O romantismo declinara e a ciência era a palavra de ordem. Tanto que as publicações estudantis se chamavam "Memórias da Associação Culto à Ciência", "Exercícios Literários do Clube Científico", "Trabalhos Literários da Associação Amor à Ciência", "Revista Mensal do Instituto Científico" e "Revista do Clube Científico".

Para muitos pensadores, a classe mais ilustre que já frequentou a Academia de São Francisco foi a de 1866 a 1871. Pois entre seus alunos estavam Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, Antônio de Castro Alves e Francisco de Paula Rodrigues Alves.

Quando estava no quarto ano, Joaquim Nabuco transferiu-se para o Recife. Rui Barbosa e Castro Alves vieram de lá para São Paulo no terceiro ano. Castro Alves só esteve em São Paulo por um semestre. Joaquim Nabuco já era o intelectual que ganharia fama e respeito no Brasil Império e na República. Ao escrever sobre aquele tempo, confidencia: "Na situação em que me fui para São Paulo cursar o primeiro ano da Academia, eu não podia deixar de ser um estudante liberal. Desde o primeiro ano fundei um pequeno jornal para atacar o ministério Zacarias.

Ocorre que seu pai apoiava Zacarias e escreveu para ele, recomendando se utilizasse do seu tempo para estudar. Mas o filho respondeu que dava demasiado valor "à minha independência de jornalista e à minha emancipação de espírito".

Intensa leitura o conduziu a prestigiar as novas ideias. 1866 foi para ele a redescoberta da Revolução Francesa. Abeberou-se em Lamartine, Thiers, Mignet, Louis Blanc, Quinet, Mirabeau, Vergniaud, os Girondinos. A Convenção estava nele como em sessão permanente.

Também foi impregnado pelo liberalismo sedutor do Professor José Bonifácio, "O Moço", que então dominava a Academia. Isso afetou o seu lado religioso: "Quando entrei para a Academia, levava a minha fé católica virgem; sempre me recordarei do espanto, do desprezo, da comoção com que ouvi pela primeira vez tratar a Virgem Maria em tom libertino; em pouco tempo, porém, não me restava daquela imagem senão o pó dourado da saudade". Posteriormente Nabuco tentou reconstruir o complicado roteiro de volta ao catolicismo.

Todos eles se apaixonaram pelo abolicionismo. No jornal "A Independência", Rui e Castro Alves propunham a imigração estrangeira e, para atraí-la, liberdade de culto, sufrágio e instrução universais e governo verdadeiramente representativo com responsabilidade ministerial.

Em 1º de abril de 1868, numa reunião a que compareceu o líder liberal Presidente Saldanha Marinho, a assistência ficou arrebatada com a primeira declamação pública, por Castro Alves, do seu poema "Os escravos". E a 2 de julho, um espetáculo no Teatro São José contou com discursos de Castro Alves, Rui Barbosa e Joaquim Nabuco.

Eram os estudantes do Largo de São Francisco agitando o Brasil e dando nova formatação à nossa Pátria. São alunos que não podem ser esquecidos pelos atuais. Que responsabilidade, para os atuais acadêmicos, ocupar os mesmos assentos que esses brasileiros para os quais não há refil!

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão
Em 05 05 2023



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