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JÚLIO FRANK NAS ARCADAS
Acadêmico: José Renato Nalini
É considerado um erudito moderno, que veio oxigenar as Arcadas, então mergulhadas no ar coimbrão e na retórica antiga, estimulada pela biblioteca disponível.

Júlio Frank nas Arcadas

A figura de Júlio Frank está indissoluvelmente vinculada à Faculdade de Direito de São Paulo, em cuja sede encontra-se o seu túmulo. É considerado um erudito moderno, que veio oxigenar as Arcadas, então mergulhadas no ar coimbrão e na retórica antiga, estimulada pela biblioteca disponível. Era o acervo prioritariamente teológico, de uso dos franciscanos cuja sede conventual foi requisitada para uso dos futuros bacharéis.

Consta que em fevereiro de 1835, um comunicado do diretor da Academia informava que um jovem nascido na Saxônia e que ensinara em escolas elementares do interior, era o único candidato à cadeira de História e Geografia do Curso Anexo. Este curso preparava os futuros candidatos à Faculdade de Direito. Ele também se propunha a ensinar inglês, enquanto não surgisse interessado mais preparado.

O Ministro concordou, desde que o contrato fosse provisório, diante da perspectiva de surgir um brasileiro competente. E foi assim que Júlio Frank passou a frequentar as Arcadas.

Segundo Richard M. Morse, "Frank é uma figura controvertida. Morreu prematuramente em 1841 e, por ser protestante, foi enterrado no pátio da Faculdade de Direito, em vez de o ser em chão sagrado; e lá, para a comunidade acadêmica, o seu túmulo ainda guarda o mistério que velou certos aspectos de sua vida. Afonso Schmidt romanceou sua carreira, retratando-o como intelectualmente bem dotado, dedicado a seus alunos, e fundador de uma sociedade beneficente de auxílio mútuo, para os estudantes (a Burschenschaft)". É a conhecida "Bucha", que paira como lenda na São Francisco e que tem como peculiaridade, falta de transparência total. Ninguém assume tê-la integrado e o titular da chave, que identifica o chefe, sempre é alguém que virá a ganhar fama e celebridade.

Afonso Schmidt, em "A Sombra de Júlio Frank", chega a endeusar o alemão que virou lenda. Já Gustavo Barroso, na "História Secreta do Brasil", identifica-o com Karl Sand, um desequilibrado estudante de Teologia que, na Europa de Klaus Wenzel von Metternich (1773-1859), assassinara o dramaturgo Kotzobue como espião tzarista. Barroso acusa a Bucha de ser subversiva e chama Frank de adepto da magia negra e do que ele chama de "bacharelismo judaizado".

Uma aura de romântico ainda envolve Júlio Frank, de forma a se autorizar se o chame de verdadeiro precursor do romantismo que iria impregnar a São Francisco e até a cidade de São Paulo em meados do século XIX. Na verdade, Johann Julius Gottfried Ludwig Frank (8.12.1808-Gota-Alemanha-19.6.1841-São Paulo), não se sabe o motivo deixou sua Alemanha e veio para o Brasil. Esteve primeiro em Sorocaba, na Fundição Ipanema, entregue a alemães. Depois veio para São Paulo, onde ensinava alunos particularmente, antes de se oferecer para dar aulas no Curso Anexo.

Para melhor ensinar seus discípulos, traduziu o "Compêndio de História Universal" de Poelitz. Para ele, a História se dividia em três partes: a primeira, abrangendo a história antiga e medieval, foi traduzida literalmente. A segunda, da história medieval à descoberta da América, foi por Júlio Frank inteiramente revista, com adesão ao método original, mas ampliando - de acordo com seu conhecimento - as histórias da França, Itália, Espanha e Portugal. O período moderno estava ainda por fazer. Aí, para Júlio Frank, multiplicavam-se as dificuldades. Um bom compêndio de História serve para um determinado país. Mas não pode servir, indistintamente, para as Academias de outro país. Principalmente um país jovem e em formação, como o Brasil.

Júlio Frank se valeu de sua experiência de professor formado na Universidade de Gottingen, na Alemanha, para analisar o contexto brasileiro e constatar que ele precisava ser levado em consideração, exigindo uma solução peculiar e não a lição pronta e consolidada que servia à Velha Europa.

Visão moderna de docência, adotada ainda na primeira metade do século XIX, de oferecer ao educando um projeto em construção e não a mera repetição de surradas apostilas que serviram para inúmeras gerações que estudavam em Coimbra.

Uma pena que ele morreu cedo, aos trinta e dois anos. Teria sido uma excelente influência para a mocidade acadêmica, para a qual se transplantara um projeto arcaico, vigente na Universidade de Coimbra havia séculos, pois inspirado em Bolonha, cuja Universidade data do século XIII.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão, 28 de abril de 2023.



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