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UM NATAL DE AMOR
Acadêmico: Gabriel Chalita
E uma criança nasceu dentro de quem já está nascido, mas que precisa relembrar o sentido do nascer.

E uma criança nasceu. E mudou o mundo. Em uma manjedoura, uma criança nasceu. No céu, a luz simplesmente iluminou. Os sorrisos. Os pensamentos. As ações. Uma criança nasceu. E os cuidados aqueceram seus primeiros dias.

Era Maria e era José. Era uma humanidade inteira esperando uma humanidade melhor. E uma estrela comunicava o caminho que devia ser seguido para compreender a chegada da criança. E, no natal e em todo natal, há músicas, há enfeites, há crianças.

Uma criança olha por entre os olhos de um adulto que passa apressado e pede um olhar. Uma criança chora a dor da fome. Uma criança coloca as mãozinhas miúdas nos ouvidos tristes que ouvem os gritos de violência dentro de casa. Uma criança acompanha o martírio da mãe doente. Uma criança sonha com algum brinquedo. Uma criança, cheia de brinquedos, sonha com algum amor. Uma criança, sem ter o tempo necessário, experimenta o sofrimento.

Infâncias desperdiçadas não combinam com a infância nascida para continuar a vida. Uma vela se acende na escuridão. Uma e mais uma e mais outra e mais outra e novamente mais uma vão se acendendo e a escuridão vai sendo despedida na noite de natal e nas outras noites inspiradas na noite de natal. Se a primeira vela achasse tudo escuro e se aquietasse, a luz não nasceria.

De vela em vela, a criança que olha por entre os olhos de um adulto, a que chora de fome, a que coloca as mãozinhas para deixar de ouvir a violência, a que acompanha o martírio da mãe, a que sonha com algum brinquedo e a que carece do essencial amor. De vela em vela, o mundo das crianças explicaria ao mundo dos adultos que um natal de amor é o que o mundo inteiro precisa.

Crianças crescem o plantio. Os verdumes enfeitam as paisagens, depois que chuvas de esperança aliviam os tempos desertos.
Não temos o poder de impedir os desertos, mas temos o poder de sentir as chuvas que caem e que acariciam as sementes que enfeitarão a terra. Não cuidar das sementes é não entender a vida. Não cuidar das crianças é desautorizar o futuro a ser amor.

O natal é festa que se repete, porque os dias se repetem e também os símbolos que nos repetem ensinamentos. As iluminadoras velas acesas de tantos passados prosseguem hoje e prosseguirão amanhã significando o poder individual no todo, o poder do todo no individual. Cada um é portador de uma luz cantadora de bondades. E tem, cada um, a liberdade do silêncio incorreto quando se trata de proteger as vidas brotantes do milagre que não se encerra.

Um natal de amor é um natal de, ao menos, um gesto de cuidado, de atenção, de vela que ilumine uma vida que seja, que a retire da multidão de vidas desatendidas e que a exalte no altar do mais belo ensinamento religioso, abraçar para elevar.

E uma criança nasceu.
E um olhar nasceu ao olhar a criança.
E um gesto de bondade nasceu ao olhar a criança que nasceu.

Na bondade de Belém, os sinos tocaram vida. E, na humildade daqueles três, a humanidade nunca mais foi a mesma. Que o natal seja feliz, para mais gente, para toda a gente. Ninguém deveria ser esquecido de receber amor.

E uma criança nasceu dentro de quem já está nascido, mas que precisa relembrar o sentido do nascer.

Feliz natal!



Publicado no site do jornal O Dia, 25 de dezembro de 2022.



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