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ESG: UMA FRAUDE?
Acadêmico: José Renato Nalini
ESG é uma cultura que precisa ser incorporada na consciência de todos os seres racionais de boa vontade. Ideias mudam o mundo.

ESG: uma fraude?

A minoria que se preocupa com o futuro do planeta ficou animada com a perspectiva de surgimento de nova cultura preservacionista. A sigla ESG, extraída de três verbetes em inglês: Environment, o ambiente, Social, a indicar a responsabilidade pela redução das desigualdades e G, de Governance, a indicar a urgência de uma gestão inteligente e sustentável na iniciativa privada e na Administração Pública.

Embora escaldados pelo “greenwashing”, a falaciosa tutela ecológica transformada em marketing rasteiro, sem comprometimento dos que juravam amor ao verde, a esperança venceu a desconfiança. Falou-se muito de ESG nos últimos anos.

O fator de maior credibilidade é que essa pauta não vinha de governos insensíveis e eleiçoeiros. Surgiu entre os empresários sensíveis, atentos ao que ocorre em todos os quadrantes da Terra, a evidenciar o seu exaurimento e a precipitação rumo ao caos.

Os entusiastas mereceram balde de água gelada, quando leram reportagem especial da revista “The Economist” no final de julho. Para Rodrigo Tavares, fundador e presidente do Granito Group, “foi uma certidão de óbito das práticas ESG”. Já começou pelo título: “ESG: três letras que não vão salvar o planeta” e prosseguiu no árido tom da reportagem: “ESG é profundamente falho”.

As críticas são válidas. Como toda novidade, há muita teoria, a retórica tão a gosto dos marqueteiros, mas tudo ainda muito vago e impreciso. Onde a uniformidade nas práticas, mensurações e conceitos? É impossível saber qual o volume de ativos que incorporaram efetivamente essas práticas. A criatividade dos que pretendem “estar bem na fita” faz com que o terreno seja minado e valha tudo, com os surrados golpes de marketing. Tudo por dinheiro.

Evidente que ocorre aquilo que é rotineiro em outros setores: uma consultoria que também colabora para arquitetar projetos ESG para as empresas. Claro conflito de interesses. Mas tudo isso pode ser corrigido, desde que haja empenho e vontade.

Acompanho Rodrigo Tavares quando encontra quatro incorreções na reportagem. Primeiro, há facciosismo na coleta de dados e na exposição das críticas. Não se observou o contraditório. Isso não permite ao leitor forme uma opinião isenta. O texto só se apoia em artigos e pensadores que não acreditam em ESG. Deixa de lado inúmeros artigos que comprovam correlações positivas entre sustentabilidade e rentabilidade.

Também critica a repaginação de ESG pelas gestoras que maquiam seus Fundos para cobrar mais polpudas taxas de administração. Mas isso não é prática generalizada. A maioria das gestoras que levam a sério ESG, não cobram mais por essa opção.

Consta do artigo que a prática do desinvestimento é irrelevante. Isso ocorre quando um investidor vende sua participação em uma empresa com externalidades negativas (por exemplo: o fumo, o armamento e o petróleo). Ignora estudos que demonstram o contrário: há um artigo da própria “The Economist” que, em junho de 2015, admitiu que durante o apartheid na década de 1980, o custo de capital de empresas sul-africanas desinvestidas subiu.

Por último, alega-se que há muitos espaços ocos nessa agenda. Inúmeros setores ainda não foram contemplados. Mas deixa de levar em consideração o esforço de muitas empresas e instituições, no sentido de fazer dessa política uma opção irrecusável. Já existe muita coisa boa sendo feita. É que a cultura ainda é neófita. Não está pronta e acabada. Está se consolidando. É preciso tempo suficiente para que seu esqueleto adquira musculatura.

De qualquer forma, em lugar de acomodação resignada ante a chacina da natureza, o conformismo diante do incentivo à criminalidade atraída pelas riquezas de regiões ainda não totalmente exploradas, mas a caminho da desertificação, é melhor agarrar-se a uma ideia inspiradora. E fazer o possível para que ela seja concretizada.

ESG é uma cultura que precisa ser incorporada na consciência de todos os seres racionais de boa vontade. Ideias mudam o mundo. Desde que encontrem solo fértil nessa caixa complexa e labiríntica chamada mente humana.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão
Em 08 10 2022



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