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RECUPERAR NASCENTES
Acadêmico: José Renato Nalini
Matas ciliares se chamam assim porque são associadas aos cílios

Recuperar nascentes

Água é o líquido mais precioso que existe sobre a face da Terra. Incomparavelmente superior ao petróleo, que é venenoso, pois poluente. O único ponto em comum entre ambos é a finitude. Ambos acabam. E se a demora para encontrar matrizes energéticas verdes, que prescindam do petróleo, é devido à insanidade da maior parte dos governantes, o desaparecimento da água também deriva dessa negligência. O que é pior: afeta igualmente a todos.

Quando me propus a adquirir um pedaço de terra, neste chão em que nasci e que haverá de me abrigar, o fiz para preservar o ambiente. Estava angustiado por assistir à degradação da natureza e a escandalosa venda do entorno à Serra do Japi, além do desaparecimento de tantas áreas cobertas de vegetação nativa. Fui privilegiado: o recanto que encontrei era um pedaço do paraíso.

Fora cuidadosamente administrado por Water Moretti, amigo da natureza e possuía mais de oito nascentes. O abastecimento doméstico era obtido por meio da ação da gravidade. Não era necessário escavar poço artesiano. A rega do plantio também se fazia adequadamente. Água em abundância.

Pouco tempo depois, a devastação nos arredores, o plantio de eucaliptos e o aquecimento global gerado pela contínua e crescente emissão de gases causadores do efeito-estufa, tudo ocasionou o desaparecimento das nascentes. Tive de recorrer a poço artesiano, que só veio a encontrar água depois de trezentos metros de escavação.

Soube que vizinhos daquela zona ainda eminentemente rural, embora assediada por outros usos menos campesinos, também estão em dificuldades. Sem água, nada se faz. Água é vida. Sem ela, toda espécie de existência vegetal ou animal desaparecerá.

Uma cidade é o local onde tudo acontece, espaço natural de ocupação dos que nela nascem ou que a escolhem para desenvolver suas atividades. Sua administração tem de se preocupar também com isso. Uma Prefeitura que está bem avaliada, segundo os rankings elaborados em vários setores, precisa dispor de um serviço de recuperação de nascentes.

É algo perfeitamente possível de se fazer. Basta vontade política. Pois esse projeto, se integral, não prescindiria de uma educação ecológica séria. Como é que se faz para devolver água aos cursos esvaziados e secos que hoje ocupam o lugar do mais do que precioso líquido?

Jundiaí sempre contou com uma especial proteção às matas ciliares. Elas se chamam assim porque associadas aos cílios, proteção para os olhos. Estas janelas que permitem aos privilegiados dotados de visão observar e se maravilhar com o mundo, não podem ficar expostas. Precisam dessas cortinas genuínas, que filtram os ciscos, as partículas espalhadas pela atmosfera, cada vez mais intensas diante da poluição terrível que martiriza todas as áreas ocupadas.

Também os córregos, os riachos, os ribeirões, os pequenos cursos d'água necessitam dessa mata ciliar. De uma proteção para que continuem a correr e a abastecer recantos que já os possuíram e que hoje moram na saudade. São essas nascentes que abastecem nossas represas. Delas dependemos para nos dessedentar, para cozinhar, para higiene e para o cultivo. Não deixemos acontecer com nossos reservatórios o que São Paulo viu ocorrer com a Guarapiranga e a Billings. Águas fétidas, contaminadas por esgotamento doméstico e resíduos químicos. Pobres crianças paulistanas! Será que Jundiaí está pensando nisso?

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão
Em 1 de setembro de 2022




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