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![]() Acadêmico: José Renato Nalini O maior perigo a rondar a humanidade é o aquecimento global
Dar-se bem, fazendo o bem Parece uma frase feita, um clichê, um verdadeiro truísmo. Porém, é a síntese de uma filosofia que, gradualmente, passa a habitar as consciências mais sensíveis e que não se conformam com o estado de coisas em que se encontra a humanidade. O paradoxo do mais assombroso avanço tecnológico a conviver com a violência. O clamor pela paz é conciliável com o estímulo a um feroz armamento de todas as pessoas? Desde quando arma traduz harmonia? Inacreditável que a indústria de armamento e seus sequazes continuem a dispender bilhões de dólares, enquanto humanos passam fome e morrem à míngua, por falta de saúde e atendimento. A lucidez, ingrediente que parece faltar ao mundo - e em especial ao Brasil de hoje -se convenceu de que não pode continuar a ignorar a gravidade das várias crises. Foi assim que surgiu o conceito ESG, da sigla em inglês para contemplar a necessidade de atenção permanente e simultânea ao meio ambiente, ao social e à governança corporativa. Compreende-se o tripé. O maior perigo a rondar a humanidade é o aquecimento global, causado pela insanidade de uma forma perdulária de se usar recursos naturais. O abuso insensato exauriu a capacidade da Terra de hospedar bilhões de maus inquilinos. Aqueles que a consideram o supermercado gratuito de onde tudo se extrai, sem reposição. Essa verdadeira loucura gera uma cruel desigualdade social. Há milhões de excluídos, enquanto os ricos multiplicaram sua riqueza. Tudo é uma questão de bom senso: isso é o que seria viável mediante a governança corporativa, que para o Poder público seria uma gestão inteligente. A juventude - não apenas cronológica, mas aquela que habita a consciência de quem não desistiu de viver e de melhorar o mundo - absorveu o conceito ESG. Mas se ele é necessário, não é suficiente para reduzir as injustiças perpetradas contra a natureza, contra os semelhantes e contra a lógica. Existem outros parâmetros, como a Agenda 2030 da ONU, com seus dezessete ODS, ou Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Eles contemplam aquilo que é primordial para que a aventura humana pelo planeta Terra possa merecer continuidade. O ESG é o mínimo. Apoia-se no tripé clássico da sustentabilidade: pessoas, planeta e resultados financeiros. Já os ODS poderiam ser resumidos em cinco verbetes que começam com a letra "P": pessoas, planeta, prosperidade, paz e parceria. Tudo converge e deve conviver. No âmbito ESG, o apelo é no sentido de conciliar a competitividade e alavancar a performance das empresas, para que elas gerem mais valia para seus acionistas e investidores. Essa a ideia de que me servi para dar o título a esta reflexão: "se dar bem, fazendo o bem". É óbvio que a mensagem se reveste de pragmatismo. O ideal seria que as pessoas fizessem o bem, despidas de qualquer preocupação com o resultado. Esperar gratidão, reconhecimento ou qualquer outro gesto de polidez ou delicadeza costuma decepcionar os incautos e os ingênuos. Daí a tentativa de "dourar a pílula". Mostrar que boas ações podem ser lucrativas. É o que atrai os menos imersos numa consciência praticamente ausente do mundo negocial: a ética. A ciência do comportamento moral do homem quando em sociedade. Um espectro mais abrangente se encontra nos propósitos da Agenda 2030: a edificação de uma sociedade próspera e sustentável para todos, que não deixe ninguém para trás. Para os brasileiros, isso já está no pacto fundante desde 5.10.1988: o constituinte acenou com o sonho da construção de uma sociedade justa, fraterna e solidária. Todos os nacionais e estrangeiros que residem no Brasil têm esse compromisso. A responsabilidade maior é a dos incluídos, dos abonados, dos privilegiados com educação de qualidade - que não é a oferecida pelo governo, em sua maior parte - e com as perspectivas com que não puderam contar os excluídos, os invisíveis, os iletrados, os informais, os banidos da civilização. O trágico é que o número destes só cresceu nos últimos anos. Crer na humana inclinação natural pelo bem, é um otimismo que nem sempre se consegue preservar, diante de tantos descalabros, delírios e desvarios perpetrados nesta República. Mas crer e esperar é o que nos sustenta. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão Em 20 01 2022 ![]() ![]() |
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