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Acadêmico: José Renato Nalini 2021 foi um ano próspero e fecundo para a morte. Levou muita gente. Perdi pessoas queridas, tanto próximas quanto distantes
Minhas perdas em 2021 Apesar de ardoroso adepto do mundo digital, continuo com o hábito da hemeroteca. Recorto aquilo que me impressiona e vou colecionando perdas. 2021 foi um ano próspero e fecundo para a morte. Levou muita gente. Perdi pessoas queridas, tanto próximas quanto distantes. Se a Providência poupou minha família em sentido estrito, levou exemplares preciosos da grande família estendida. No retrospecto pessoal de 2021, encontro logo em janeiro a partida de José Roberto Brant de Carvalho, primo por afinidade e pessoa maravilhosa. Irene Portugal Castilho de Andrade, mãe da Cristina e do Castilhinho, benemérita como Padre “Ticão”, o “trator de Deus”, que era um apaixonado pela educação. Paschoal Milton Coccaro, colega de Magistratura. Nelly Martins Ferreira Candeia, incansável presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Em fevereiro partiram René Ariel Dotti, Paulo Egydio Martins e Ruth Vidal da Silva Martins. Março foi o mês em que o Brasil perdeu João Alves Veríssimo, Contardo Calligaris e Antonio Carlos Malheiros, três queridíssimos amigos. No mês de abril foi a hora de se despedir de Mário Sérgio Duarte Garcia, um padrão de elegância no território complexo do direito e da Justiça. Maio levou meu afilhado, o Embaixador Reinaldo Azambuja Storani. E o Desembargador Antonio Gomes de Amorim. O jurista e amigo Antonio Carlos Mendes. Na minha Jundiaí, deixaram o mundo dos vivos Odair Bandeira, Waldees Garcia Moretti, os médicos Wilfried Paul Kurt Ruske e Dionisio Kiss e Denilson Bomk. José Arthur Giannotti, o filósofo erudito e professor da USP vai embora em julho. Reunir-se-á à sua Lupe Cotrim Garaude, que morreu tão cedo, no esplendor de sua beleza. Foi em julho de 2021 também, que a Academia Paulista de Letras registrou sua primeira grande perda: a romancista, poeta e dramaturga Renata Pallottini. Figura emblemática, vida exuberante e amiga leal e solidária. Em agosto a morte precoce do Desembargador Cláudio Antonio Soares Levada. Por sinal que a Magistratura perdeu quase quarenta integrantes neste fatídico ano. Hermes Pinotti e João Sabino Neto entre eles, dentre tantos outros. Setembro foi o mês em que o Brasil se despediu de João Sayad, economista e pensador tão instigante e que não chegou à velhice. O segundo grande desfalque para a Academia Paulista de Letras, a instituição cultural por excelência de São Paulo – que há cento e treze anos se empenha na defesa do vernáculo, da literatura, da leitura e da cultura em geral, aconteceu em setembro. Célio Salomão Debes, historiador que consagrou Campos Salles e Washington Luís, foi Diretor da extinta Companhia Paulista de Estradas de Ferro e Procurador do Estado junto ao TCE, se despediu da vida biológica. Faleceu em novembro o arquiteto Ruy Ohtake, um dos mais prestigiados reformuladores do estilo, com suas curvas coloridas e criações que se espalham pelo planeta, conferindo prestígio à arquitetura brasileira. Foi a terceira defecção nas hostes da Academia Paulista de Letras, que lamentou as três despedidas. Lamentei a morte de Eva Wilma, que junto com Carlos Zara me ajudou na Feira da Bondade realizada em Jundiaí no longínquo 1982. De Nicete Bruno, de Mila Moreira, a quem conheci desde os tempos da Fenit! Dezembro trouxe a morte do grande esportista Hélio José Maffia, que esteve na seleção brasileira como preparador físico e foi diretor da Escola de Educação Física de Jundiaí. E na véspera do Natal, Joan Didion, a quem só descobri recentemente, mas de quem me tornei leitor e admirador. Quantas outras mortes ocorreram em 2021! Um acréscimo na dor e angústia foi a falta de poder cumprir com os rituais do luto. A pandemia que ainda não foi embora. O surgimento de milhares de novos casos de Covid com a cepa Ômicron, juntamente com a gripe Influenza e a gripe Darwin, tudo ainda assusta e deprime. Estou escrevendo isto em 26 de dezembro, um domingo. Ainda faltam cinco dias para começar 2022. Seguramente, ainda perderemos mais pessoas queridas. Viver, como dizia o Príncipe dos Poetas Brasileiros, o inesquecível Paulo Bomfim, é colecionar perdas. Minha coleção está cada vez maior! Não me alegro com isso. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão Em 11 01 2021 voltar |
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