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APL: PRESTAÇÃO DE CONTAS
Acadêmico: José Renato Nalini
A História da Academia Paulista de Letras é um roteiro de glórias bandeirantes, de que São Paulo tem legítimo e justificado orgulho para se vangloriar.

APL: prestação de contas

A Academia Paulista de Letras é uma instituição fundada em novembro de l909, pelo médico Joaquim José de Carvalho, que era carioca. Ele sabia da existência da Academia Brasileira de Letras, criada em 1897 e entendeu que São Paulo também poderia contar com o seu colegiado de intelectuais, igualmente inspirado na Academia Francesa.

Desde 1909, a Academia Paulista funciona e cumpre com seus objetivos de cultivar o vernáculo, incentivar a literatura e a cultura. É uma casa plural, integrada por pessoas de distinta origem, ideologia, concepção de vida e de valores. Porém irmanados na missão comum de fazer da APL, antes de tudo, uma casa de bom convívio.

Em 2021, ano II da pandemia, não houve uma quinta-feira sequer sem que os acadêmicos se reunissem virtualmente. Grande parcela aderiu ao sistema e ganhou desenvoltura no manejo dos equipamentos eletrônicos. As sessões começaram às 16,30 e, não raro, prolongaram-se até depois das 19 horas, tamanho o interesse dos partícipes.

Muitos convidados trouxeram assuntos novos para a APL, como Shigeaki Ueki, Beatriz Helena Ramos do Amaral, Marika Gidali, Carlos Augusto Machado Calil, Jezio Hernani Bomfim Gutierre, Manoel Gonçalves Ferreira Filho, Luiz Schwarcz, Otávio Santana do Rego Barros, João Rilton Franco Correia, Menalton Braff, Luiz Coronel, Massami Uyeda, Hamilton Mourão, Sérgio Sá Leitão, Joaquim de Arruda Falcão Neto, Luiz Rasquilha, João Almino, Caetano Lagrasta Neto, Sidnei Agostinho Beneti, Edney Silvestre, Deonisio da Silva, Dom Odilo Pedro Scherer, Miguel Mattos, Jorge da Cunha Lima e Antonio Cezar Peluso.

Em parceria com a IMESP, hoje incorporada pela PRODESP, a Academia conseguiu lançar oito volumes da Coleção “Perfil Acadêmico”, de biografias dos patronos e integrantes da APL ao longo dos tempos. A interrupção na publicação dos novos volumes tende a cessar, com a promessa do governo do Estado de retomada do compromisso assumido.

Prosseguiu a APL a desenvolver atividades do Clube de Leitura, assim como participou do projeto “Justiça e Literatura” com a AMB – Associação dos Magistrados Brasileiros e APAMAGIS – Associação Paulista da Magistratura.

Infelizmente, perdemos três acadêmicos em 2021: Renata Pallottini, em 8 de julho, CÉLIO DEBES, em 5 de setembro e Ruy Ohtake, em 27 de novembro. Para as duas primeiras cadeiras, foram eleitos Michel Temer e Betty Milan. O provimento da Cadeira 39 ocorrerá no próximo mês de março.

2022 é um ano emblemático. A Academia Paulista de Letras completará seus 113 anos. Em fevereiro, será celebrado o Centenário da Semana de Arte Moderna, movimento que nasceu dentro da APL, pois apenas Oswald de Andrade não era acadêmico. Por sinal, bem antiacadêmico, ele se confessava. Mário de Andrade, Guilherme de Almeida, Menotti Del Picchia, Plínio Salgado, René Thiollier, todos eram acadêmicos. Também o foi Washington Luís Pereira de Souza, o Presidente do Estado, cujo aval foi essencial para o aluguel do Teatro Municipal.

Em julho, celebrar-se-á a Revolução Constitucionalista de 1932, cujos noventa anos hão de recordar a urgência de uma nova revolução, agora para cumprir a Constituição Cidadã. Não adianta uma República provida de Constituição formal, que não é observada pelo governo.

Em setembro, bicentenário da Independência, que ocorreu em São Paulo. Novamente os intelectuais serão chamados a questionar se o Brasil é, realmente, uma república independente. Independência significa plena liberdade para o diálogo, vedação de alinhamento com ideologias retrógradas, respeito à ciência e banimento do obscurantismo. Quantos desses pontos podemos dizer que atendemos em plenitude?

Em 2022, nossas reuniões serão presenciais – enquanto a pandemia permitir – e também virtuais. Sessões híbridas, como deve continuar a educação, que não sofreu solução de continuidade nestes dois fatídicos anos.

Estamos novamente com 39 Cadeiras providas, uma apenas vaga. E continuamos a proibir eventos morte. Embora a vida das Academias dependa desse inevitável encontro com a ceifadeira d’almas. A vã imortalidade significa o culto aos antepassados, obrigação dos atuais ocupantes das quarenta Cadeiras.

Nossos queridos mortos só morrem de verdade, quando nos esquecemos deles. E as Academias existem para não esquecer as glórias que semearam luzes e que iluminam nossa trajetória. A História da Academia Paulista de Letras é um roteiro de glórias bandeirantes, de que São Paulo tem legítimo e justificado orgulho para se vangloriar.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão
Em 10 01 2022



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