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NÃO CABE TUDO NESTE 2022
Acadêmico: José Renato Nalini
Chega de negacionismo, de fealdade, de indigência mental e moral

Não cabe tudo neste 2022


Chegou 2022! Quem mereceu a ventura de sobreviver à pandemia e aos outros adversários da vida tem todos os motivos para celebrar a chegada de mais um ano. E que ano! Tanta expectativa em torno a esse 2022!

Motivos não faltam: 90 anos da Revolução Constitucionalista de 1932, o gesto paulista que lembrou um Brasil amortecido, de que não poderia mais continuar sob as botas ditatoriais e que merecia uma Constituinte.

Perdemos e continuamos a perder desde então. Basta verificar a sub-representação paulista no Congresso Nacional. Uma espécie de ressentimento mesquinho contra São Paulo, para onde - entretanto - todos correm quando precisam de conquistas do Primeiro Mundo. Que o digam nossos hospitais, nossas universidades, nossa cultura que, mesmo na pandemia, floresceu e desabrochou.

Os noventa anos da Revolução Constitucionalista precisa sacudir o Brasil, partindo de São Paulo, para lembrar a todos - até quem não precisaria ser lembrado, por constituir dever seu a guarda precípua do pacto fundante - que Constituição existe para ser cumprida.

Depois, em fevereiro se comemora o centenário da Semana de Arte Moderna. Em 1922, foi um trio de jovens paulistas - Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia - que arregimentou a plêiade criativa para uma semana revolucionária em São Paulo. Queiram ou não, a Semana mudou o Brasil. Por isso é que a cada ano é revisitada. A despeito dos que querem reduzir seu significado, ela está aí. Foi São Paulo que acordou o Brasil para o futuro na literatura, na música e em todas as demais artes. O berro nacionalista, a redescoberta das cores, dos sons, do gênio tupiniquim, teve seu início aqui em São Paulo. E olha que não éramos capital, privilégio do Rio de Janeiro, onde tudo acontecia. Mas os cariocas vieram para a Semana, a começar por Graça Aranha, que já era celebridade consagrada no Brasil e no exterior.

2022 marca ainda o bicentenário da Independência do Brasil. E onde aconteceu o famoso "grito do Ipiranga"? Aqui mesmo, na capital de Piratininga, que passou a contar com belíssimo conjunto: Museu e parque, para recordar que o Brasil passou a ter existência legal no concerto das Nações, com o arrancar dos laços lusos e a famosa proclamação do impulsivo jovem Pedro I. Será que o bicentenário não autoriza os brasileiros lúcidos a pleitearem uma outra independência? Os brasileiros precisam ser independentes da ignorância, da mediocridade, do ódio, das mentiras, das falsidades e de tudo o que é feio e chulo, mas prepondera nos últimos anos.

Chega de negacionismo, de fealdade, de indigência mental e moral. Nossas crianças merecem mais do que o governo oferece a elas. Precisam de vacina, sim! E de educação de qualidade! E dependem da preservação da floresta e dos rios. De uma economia robusta, não desta decadência e deste retrocesso acelerado, que exaspera quem tem um mínimo de sensatez.

Em 2022 o Brasil terá de escolher presidente e governadores. Carecemos todos de muito juízo, muito discernimento, muita cautela para que a retomada do desenvolvimento responda ao anseio dos conscientes e venha em socorro dos desvalidos. Estes não são apenas os integrantes da legião de esfomeados, de desempregados, de excluídos de qualquer benefício, mas aqueles que, fanatizados, não conseguem enxergar com clareza a fragílima e trágica situação deste complexo espaço continental.

Tanta coisa a se fazer em 2022 e a urgência que aflige os humanos sensíveis, indignados com o que se faz contra a natureza e contra os brasileiros invisíveis. O ambiente natural e o ambiente humano dependem dos homens de boa vontade. E haja boa vontade para recolocar o Brasil no rumo certo. Os males causados pelo despreparo, pela má-fé, pela ação dolosa e pela omissão deliberada, levarão décadas para serem neutralizados. Acabou-se o período de boas festas. Agora é agarrar o trabalho com muita coragem, acompanhada de imensa esperança. Essa companheira inseparável de quem ainda acredita na humanidade.

Publicado no Jornal de Jundiái/Opinião
Em 06 01 2022



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