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A HERMENÊUTICA DOS INÍCIOS
Acadêmico: Gabriel Chalita
Um dia novo é assunto para a alma. É alimento para o fortalecer dos passos. Um novo amor é medo e é expansão. É mundo novo que remexe o que vivia na calmaria.

Um sol surpreende os olhos adormecidos e explica mais um início. Há um novo, novamente. Um novo dia. Um novo ano. Um novo amor. Uma nova forma de compreender o novo.

A hermenêutica dos inícios é um convite aos renascimentos. Renascemos com o dia. Renascemos com um encontro, fora ou dentro da gente. Renascemos com a coragem de trocar os incômodos com os quais, infelizmente, nos acostumamos, por esperanças, por aquilo que nem sabemos, mas em que, de alguma maneira, acreditamos.

Um dia novo é assunto para a alma. É alimento para o fortalecer dos passos. Um novo amor é medo e é expansão. É mundo novo que remexe o que vivia na calmaria.

Autorizar uma nova vida a fazer parte da nossa é exercício de muita coragem. Os espaços serão divididos e os sentimentos serão multiplicados. Um novo amor é um realinho de tudo e vem com uma pergunta impertinente: dará certo? As respostas se respondem vivendo.

Um novo cenário é convite para a importância dos olhos. Para o compreender do piscar. Do aliviar. Do acalmar. E, de novo, lutar a luta exigida para os viventes. Quem nunca viu o mar e o mar vê, pela primeira vez, o que sente? Quem nunca esteve no sertão e, no sertão estando, compreende o árido e o forte? Quem adentra na floresta humana precisa agradecer cada início. Cada ver de raízes, de troncos fortes ou caídos, de barulhos estranhos ou cheios de paz.

Os rios grandes visitados, pela primeira vez, emprestam significados aos que descansam os outros pensamentos. As margens. O ir ininterrupto. A fundura que não se vê, mas que existe. Quem vai pela primeira vez trabalhar, exercendo dignamente um ofício, conjuga o verbo agir com o verbo acanhar. Há os salutares medos iniciais. As inseguranças que nos apresentam quem somos, carentes de aprovação, de acolhimento, de amor.

Um novo ano é mais do que um dobrar das esquinas do que passou e entrar na nova alameda a construir. É mais, porque o que passou permanece em nós como muralhas de um passado fortalecedor. Como cicatrizes das quedas, das dores dos anos que já não mais existem. Existem em nós. Não como tormentas, mas como professores.

Um novo ano é mais do que um festejar de uma noite. É todo dia, com suas horas e seus instantes. É uma postura de novo, que se vê, também, depois de um banho, de corpo ou de alma. De alívios do suor ou de alívios do necessário perdão aos que fizeram doer quem somos.
Não se vive a novidade com os rancores ou com as vontades de vingar.

Vinguemos a terra com a bondade necessária para fazer germinar um novo tempo, com os novos plantios, com as novas compreensões. O que se sabe do amanhã é que ele existe. O que sabemos de nós é que, enquanto existirmos, podemos abrir os olhos para o sol que quer viver em nós as iluminuras necessárias para a felicidade.

É mais um início. Prestemos atenção. Que seja um feliz início.



Publicado no site do jornal O Dia, 02 de janeiro de 2022.



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