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ONDE FOI PARAR O JUÍZO?
Acadêmico: José Renato Nalini
Parece que a humanidade não está preocupada se o seu desaparecimento já tem data.

Onde foi parar o juízo?


O resultado da COP-26 foi pífio. Parece que a humanidade não está preocupada se o seu desaparecimento já tem data. Continua-se a pensar no superficial, enquanto o essencial é ignorado.

Sabe-se que o carvão é um combustível poluente. Mas os que o exploram querem continuar a ganhar dinheiro com ele. Dinheiro para que, se não haverá, dentro em breve, condições de vida no planeta?

Os países ricos persistem no afã de se armarem. O que se gasta em armamento no mundo seria suficiente para matar a fome dos famélicos, sanear os espaços poluídos que aumentam a cada dia, pensar em oferecer o mínimo existencial para quem não tem perspectiva de vida e educar – com qualidade – essas gerações sem rumo.

Tudo se faz como se não houvesse pressa. Os governantes fazem promessas para seus sucessores. Têm consciência de que estarão liberados de qualquer responsabilidade, pois os prazos são longos. E costumam ser procrastinados a cada encontro.

Sempre é um convite a uma apresentação de metas mais ambiciosas, mas em 2023. O Brasil mostrou sua cara desavergonhada, com a declaração de que floresta é sinônimo de pobreza e de que a Floresta Amazônica está intacta. Assim como estava no ano 1500.

Nem houve comentário, pois não se esperava outra coisa do “Pária Ambiental”. As metas que foram estabelecidas no Acordo de Paris mostraram-se insuficientes para refrear o aquecimento da Terra. Mas em lugar de ação imediata, como a emergência exige, os países foram “convidados” a fixar novas metas até 2023. Ou seja: em 2022, continua a emissão desbragada. No Brasil, os incêndios continuarão, assim como o desmatamento, que foi o maior no mês de outubro, do que em qualquer outubro anterior.


No Acordo de Paris, convencionara-se que os países ricos destinariam cem bilhões de dólares para auxiliar os países pobres a reduzirem suas emissões. Não se conseguiu juntar essa importância. Novamente um convite para que se tente arrecadar aquilo que já deveria ter sido arrecadado.

Como se nada estivesse acontecendo, as providências de adaptação dos países para as catástrofes ambientais receberam nova moratória: agora, ficou para 2025 a obtenção do dobro de recursos previstos em 2019. Sem qualquer sanção se isso não vier a ocorrer.

Embora o mundo tenha sofrido enormes prejuízos com as consequências da mudança climática, adiou-se qualquer medida prática. Cada um que se vire como puder.

Fala-se em mercado de carbono, porém os problemas e a complexidade para regulamentá-lo e para avaliar o quanto de carbono pode ser vendido prenunciam algo inspirador, mas de difícil concretização. Tudo tramitou naquele ritmo burocrático dos encontros que mais servem para um turismo sob aparência de seriedade. Pois o monitoramento das metas é uma balela, a flexibilidade dos padrões de aferição de sua observância foi imposta por todos aqueles que querem parecer responsáveis, mas que, na verdade, não querem se comprometer com medidas drásticas. E estas é que a situação está a exigir.

As falas apocalípticas de Greta Thunberg, do Príncipe Charles, do Secretário Geral da ONU e de Barack Obama só dão manchetes, mas não resolvem. Prevalece o egoísmo de cada nação, a esperar que a resposta venha do céu ou da natureza.

Frustração, decepção e vergonha. Tanto dinheiro gasto, tanta emissão de gases venenosos nessas viagens de milhares que foram até Glasgow, e qual o resultado?

A derradeira esperança é a de que o empresariado e a sociedade civil façam aquilo que é obrigação do governo, mas ele não quer fazer. Não é apenas cessar, imediatamente, o desmatamento. É reflorestar. Quantas árvores o Brasil plantou em 2021? Qual o déficit brasileiro em cobertura vegetal?

Ainda bem que países que importam produtos brasileiros já se declararam contrários a aceitar aquilo que provenha de áreas desmatadas. A China inclui cláusulas ambientais nos acordos comerciais e barrará a importação de produtos que provoquem avanço do desmatamento em sua cadeia de produção.

A única linguagem que os países periféricos entendem é a balança comercial. Talvez a salvação do ambiente brasileiro fique atrelada às sanções internacionais. Nesse ponto, a sociedade civil pode colaborar e mostrar a situação de penúria de todos os nossos biomas, maltratados e sacrificados, com estímulo por parte de quem é pago pelo povo exatamente para defendê-los. Há uma crise violenta de falta de juízo grassando no País.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão
Em 01 12 2021



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