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MARECHAL DO AR CASIMIRO MONTENEGRO FILHO: MEMÓRIAS DE UM HOMEM NOBRE
Acadêmico: Anna Maria Martins
Antes de iniciar um depoimento sobre o Marechal do Ar Casimiro Montenegro Filho, faço questão de declarar que foi um privilégio, uma honra que enriquece a trajetória de minha vida, ter tido a oportunidade de conhecer e conviver com um homem de tal grandeza. Homem a quem nosso país deve um legado de magnitude. O histórico do Instituto de Tecnologia da Aeronáutica e o da Embraer nos relatam a importância da criação e do desenvolvimento desse legado. Casimiro Montenegro Filho foi mais que um visionário. Foi um homem de visão grandiosa e exequível no decorrer dos anos, como a atualidade evidencia.

Antes de iniciar um depoimento sobre o Marechal do Ar Casimiro Montenegro Filho, faço questão de declarar que foi um privilégio, uma honra que enriquece a trajetória de minha vida, ter tido a oportunidade de conhecer e conviver com um homem de tal grandeza. Homem a quem nosso país deve um legado de magnitude. O histórico do Instituto de Tecnologia da Aeronáutica e o da Embraer nos relatam a importância da criação e do desenvolvimento desse legado. Casimiro Montenegro Filho foi mais que um visionário. Foi um homem de visão grandiosa e exequível no decorrer dos anos, como a atualidade evidencia.

Conheci Casimiro no final da década de 1930, início da década de 1940. Morávamos em Santos, no bairro José Menino, na rua Cira, mesma rua onde residia Dr. Júlio Montenegro, irmão de Casimiro.

Frequentávamos o Stella Maris, colégio onde também estudavam as filhas de Dr. Júlio,
Maria Antonietta e Maria Helena, de quem éramos amigas. Maria Antonietta, viúva do Marechal, é minha amiga de uma vida inteira. Esses laços de amizade mantém-se entre nós e nossos filhos.

Casimiro, quando ia a Santos, visitava o irmão. Sempre o encontrávamos nessas visitas. Éramos então adolescentes, e a paciência e a atenção que Casimiro nos dedicava eram admiráveis. Ele chegava ao ponto de se integrar à diminuta platéia que nos assistia em cenas de uma dramaturgia primária. Escrevíamos pequenas peças e as encenávamos.

Anos depois, já mais crescidas, tínhamos a oportunidade de encontrar Casimiro no Rio de Janeiro. Lembro-me de termos ido conhecer, no Vale da Boa Esperança, o condomínio onde Casimiro tinha uma casa, que foi sendo ampliada e tornou-se a residência agradável e acolhedora onde mora Maria Antonietta.

Acompanhamos a criação do Instituto de Tecnologia da Aeronáutica. Casimiro nos falava a respeito do planejamento, do projeto de Niemeyer, da contratação de professores estrangeiros para integrar o corpo docente ao lado dos mestres brasileiros.

Já casada com o escritor e jornalista Luis Martins, passei inúmeros fins de semana em São José dos Campos, no Instituto Tecnológico da Aeronáutica. Em pleno funcionamento, o ITA era dirigido por Casimiro, em cuja casa nos hospedávamos. Lembro-me de que o conhecimento que os alunos recebiam não se restringia à área técnica. Era-lhes dada também uma formação cultural ampla.

Atores, como Sérgio Cardoso e Cacilda Becker (com a peça Poil​ de Carotte​) levaram a dramaturgia aos alunos. Augustinho Rodrigues, famoso artista plástico, foi convidado a inaugurar a escolinha de arte; Luis Martins, escritor, cronista do jornal O Estado de S. Paulo e crítico de artes plásticas, fez palestra sobre a arte moderna. Enfim, o Instituto de Tecnologia da Aeronáutica propiciava ao aluno uma instrução de ​ escol.​

Lá conheci professores e assessores de Casimiro, um grupo de homens voltados para o conhecimento e a evolução do país. Lembro-me, entre vários, de Luis Carlos Vieira, de George Morais, que permaneceu em São José dos Campos, onde estudou e exerceu medicina; de Bergamo, que foi ajudante de ordens de Casimiro (padrinho de Maria Carolina, filha caçula de Casimiro; a madrinha sou eu); do advogado Paulo Tolle, com quem mantenho relações.

Neste trecho das lembranças que me ocorrem, quero me referir à alegria que significava para mim o fato de Casimiro apreciar a companhia de meu marido Luis (e vice-versa), de ficarem ambos tomando uísque no final de tarde e trocando ideias sobre assuntos sérios e outros mais amenos, enquanto minha querida amiga Maria Antonietta e eu púnhamos a prosa e em dia.

Para não me alongar demasiado nesse turbilhão de lembranças esparsas que me ocorrem, recordo um episódio do Prêmio Moinho Santista, que Casimiro recebeu em 1993.

As entidades culturais são solicitadas a indicar um nome para posterior análise e confirmação dos membros do júri. Em sessão na Academia Paulista de Letras, da qual eu já era membro, quando o assunto foi posto em pauta, imediatamente indiquei a personalidade mais merecedora de láurea, isto é, Casimiro Montenegro Filho. Fui logo secundada pelo acadêmico Milton Vargas; os outros acadêmicos estiveram de acordo, e Casimiro foi o nome indicado pela APL. Outras entidades também levaram seu nome ao júri final. E foi grande minha emoção ao assistir, no Palácio dos Bandeirantes, o Governador Fleury levantar-se da mesa central e dirigir-se à lateral para entregar o Prêmio Moinho Santista a Casimiro, que já estava cego há alguns anos.

Quanto à perda da vista, Casimiro a suportava com dignidade, e independência dentro dos limites que a cegueira lhe delineava. Gostava de conversar, de ouvir rádio, estava sempre bem informado sobre a atualidade política e os acontecimentos diários. E apreciava a leitura de livros, que Maria Antonietta fazia com a dedicação admirável que devotava a Casimiro, procurando amenizar-lhe as agruras da cegueira.

Guardo de Casimiro Montenegro Filho a memória de um homem profundamente íntegro, de raciocínio clarividente, voltado para a qualidade da educação, para a formação adequada a capacitar o jovem a atingir um grau de excelência profissional. E, assim sendo, tornar-se apto a trabalhar pelo desenvolvimento do país.
Para finalizar, vem-me à memória a missa de homenagem ao Marechal do Ar Casimiro Montenegro Filho, rezada no hangar da Aeronáutica, no Rio de Janeiro. Estavam presentes Maria Antonietta, os filhos, noras e genros, parentes, amigos, e várias autoridades. Fui convidada a fazer em voz alta a leitura de um salmo - o que fiz com muita emoção e respeito, prestando homenagem ao homem grandioso, a quem o país deve preito de reconhecimento pelo trabalho realizado.

O Marechal do Ar Casimiro Montenegro Filho passa à história ao lado dos grandes vultos que se dedicaram ao desenvolvimento da nação brasileira.



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