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NA ERA DO CAFÉ
Acadêmico: Anna Maria Martins
"A Bolsa de Café e a Associação Comercial escolhiam o corpo diretivo entre empresários de projeção. Suas firmas, comissárias e exportadoras, representavam a força do setor financeiro."

Falava-se em café, tomava-se muito café; coado na hora, é claro. De garrafa térmica ou reaquecido jamais. O coração da cidade batia ao ritmo do ouro negro. Nenhum exagero em assim chamá-lo, o café era a moeda forte que fazia a riqueza da cidade portuária.

Erguiam-se prédios em frente à praia, poucas casas permaneciam. Os jardins, cada vez mais cuidados, alongavam-se por toda a orla marítima.

Tempo de vacas gordas, o comissário usufruía das benesses que a exportação lhe proporcionava. Trocava de carro a cada ano, vestia-se com terno de linho branco 120, ou de tussor ou panamá. Calçava sapato bicolor feito sob medida.

O trem cometa - trem dos comissários- chegava à Estação do Valongo às dez horas, trazia os que moravam em São Paulo e partia de volta às cinco da tarde. Mesinhas de jogos eram abertas durante a viagem. O comissário, entre uma e outra rodada de cartas, falava de negócios, punha em pauta o planejamento imediato e outros a longo prazo.

A Bolsa de Café e a Associação Comercial escolhiam o corpo diretivo entre empresários de projeção. Suas firmas, comissárias e exportadoras, representavam a força do setor financeiro.

No centro cafeeiro o movimento dos escritórios e o passa-passa nas ruas intensificavam-se no meio da manhã. Os corretores, segurando as latinhas de amostra, transitavam continuamente de uma rua a outra. Na XV de Novembro, mulher não passava. Aliás, as mulheres não tinham o hábito de frequentar o âmago do território cafeeiro. Iam ao centro especificamente para médico, dentista ou compras.

Na Tecelagem Francesa, sedas, tafetás e veludos importados realizavam sonhos de consumo. Atrás do balcão, Sr. Cortês, fazendo jus ao nome, atendia as clientes.

Sapatos de bom gosto eram adquiridos na Sapataria Ribeirão. Guloseimas e produtos alimentícios nas mercearias, casa Esperia ou o Anjo Barateiro. E jóias no Pustiglione. No centro comercial situavam-se também a Casa Alemã, a Casa Lemcke e a Casa Leipzig, com vitrinas sedutoras para a compra de presentes.

Nos bairros da praia havia quitandas. Seus proprietários, portugueses em maioria, atendiam os fregueses envergando camisetas cavadas e tamancos.

O jogo rolava solto. No Parque Balneário Hotel e no Atlântico os salões de jogos eram freqüentados principalmente por homens. Roleta, bacarat, chemin de fer exerciam forte atração, levando alguns jogadores a grandes dívidas.

As mulheres jogavam de preferência nos clubes ou em casa, onde o pife-pafe fazia parte das rodas familiares. Entre uma e outra partida, servia-se um cafezinho acompanhado de quitutes.

Os comissários proporcionavam aos filhos educação requintada. Bom colégio, Cultura Inglesa, Aliança Francesa, esporte. E diversão em seus devidos limites.

As firmas atravessavam a guerra, tiveram altos e baixos, mas se mantiveram durante um período já não tão auspicioso.

Gradativamente, os anos engoliram as transações cafeeiras, os fazendeiros diversificaram plantações. E o passar do tempo foi levando os Suplicy, os Almeida Prado, os Andrada Coelho, os Moraes Barros e tantos outros comissários e exportadores de café. A firmas foram se fechando e o centro cafeeiro perdeu a ebulição.

A Bolsa de Café, belo monumento restaurado, símbolo de uma época, preserva a memória de um tempo em que a cidade movia-se à força do café.




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