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NÃO É A ESCOLA QUE FAZ O ALUNO*
Acadêmico: José Renato Nalini
"Ainda assim, se o estudante quiser, ele vence todos os obstáculos. Embora seus colegas das escolas consideradas de ponta comecem melhor, há condição de superação se ele se esforçar."

O artigo “Escolas fazem diferença?” de Hélio Schwartsman, publicado na FSP de 14.4.2018, aborda um tema de extremo interesse para toda a sociedade brasileira. O jornalista aborda a tendência contemporânea de proliferação de escolas consideradas “nichos de excelência”, que cobram mensalidades superiores a dez mil reais e são destinadas, obviamente, às famílias que podem pagar.

Não é ruim que o Brasil tenha cada vez mais escolas, cada vez mais opções para todos os níveis. E que a performance das grandes empresas, ávidas por conquistarem mercado florescente, seja estímulo para a escola pública. Quando há melhora de nível do ensino em qualquer espaço, há possibilidade de se ampliar a comparação com todos os outros. Que os responsáveis pelo ensino estatal copiem os bons exemplos e propiciem ao aluno que não pode pagar, qualidade compatível com a dessas escolas-modelo.

A boa notícia contida no texto é o de que não é a escola de elite a responsável pelo êxito do alunado. Ela tem bons resultados porque trabalha com uma clientela diferenciada. Há um estudo científico mencionado, de Atila Abdulkaridoglu, a atestar que para bons alunos, não é a escola que faz a diferença. “O que é bom já nasce feito”, a velha lição da sabedoria popular não é destituída de razão. É o aluno que faz a escola, não o contrário.

Posso testemunhar isso, eis que nunca deixei a sala de aula, desde 1969. Sempre lecionei, simultaneamente, em unidades de elite e em outras escolas. Em todas tive alunos promissores. A diferença é que nas escolas consideradas de excelência, o aluno vem de lares onde há bibliotecas, onde se lê bastante, onde os pais têm curso universitário. Viajam nas férias, conhecem outros países e dominam outros idiomas.

Nas escolas que acolhem todos os candidatos aos vestibulares, onde, na verdade, sequer há seleção, mas basta se matricular e honrar as mensalidades, sempre módicas se comparadas com as “ilhas de qualidade”, a origem do alunado é outra. Ensino fundamental deficiente. Não sabem ler. Não sabem interpretar. Não conseguem se exprimir em vernáculo erudito.

Ainda assim, se o estudante quiser, ele vence todos os obstáculos. Embora seus colegas das escolas consideradas de ponta comecem melhor, há condição de superação se ele se esforçar. Mas esforçar-se mesmo, sem esmorecer. Há espaço para todos aqueles que têm o ingrediente vontade e a consciência de que o estudo ainda é a única chave certa para a mudança de vida que depende de cada indivíduo e não de condições exteriores a ele.




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