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O RELACIONAMENTO ENTRE ROBÔS E HUMANOS
Acadêmico: José Pastore
"Ninguém sabe o que vai acontecer no mercado de trabalho do futuro. Sabemos, com razoável precisão, quais empregos serão eliminados, mas, ignoramos os que serão criados."

As discussões sobre trabalho e automação estão ficando cada vez mais intrigantes e interessantes. Para uns, os robôs precisam ser confiáveis para que os seres humanos os adotem (“Intelligent robots must be trusted by humans”, Financial Times, 4/8/2017). Para outros, os robôs precisam compreender como os seres humanos trabalham (“Robots must understand how people work”, The Economist, 19/8/2017). Ou seja, as exigências no trabalho estão aumentando para os seres humanos e para as máquinas. Um sofisticado robô chinês, quando perguntado se ele amava o Partido Comunista, respondeu com um sonoro “não!” Foi descartado. Outro, nos Estados Unidos, falhou em captar defeitos em uma linha de montagem gerados por erros humanos. Foi abandonado.
Isso parece conversa de ficção científica, mas não é. A incorporação de inteligência artificial nos robôs ocorre em velocidade meteórica e está revolucionando o mundo real. Não contente com a adoção dos automóveis sem motorista, a Inglaterra começou a testar os caminhões autônomos. E quando isso chegar aos ônibus? O que farão os motoristas no futuro?
Os veículos movidos à eletricidade têm 90% menos peças do que os tocados a derivados de petróleo e exigem menos trabalho. Inglaterra e França assinaram um acordo para acabar totalmente com os veículos movidos a petróleo até 2040. Na China, todos os táxis serão elétricos até 2020. O que será dos profissionais que trabalham em montadoras?
Ninguém sabe o que vai acontecer no mercado de trabalho do futuro. Sabemos, com razoável precisão, quais empregos serão eliminados, mas, ignoramos os que serão criados. Isso é angustiante para os empregados e para os analistas do mercado de trabalho. Ninguém gosta de conviver com o desconhecido.
O que se têm nesse campo são teorias gerais ancoradas em dados históricos. Elas indicam que os avanços tecnológicos do passado foram seguidos por mais empregos, e não menos. Nessa linha, citam os Estados Unidos que são, hoje, o país mais automatizado do mundo e com apenas 4,5% de desempregados.
Há os que veem uma singularidade nas tecnologias atuais, já que elas estão substituindo os seres humanos nas tarefas rotineiras e também nas não rotineiras, como tem ocorrido, ultimamente, com ensino a distância, tradução simultânea, diagnóstico médico, processos judiciais etc. Além de desempregar pessoas qualificadas, registra-se também o agravamento da má distribuição de renda como consequência da rápida automação.
Enfim, há teorias para todos os gostos.
Mas uma coisa é certa: terá mais chance de sobreviver e crescer no trabalho quem for capaz de se ajustar ao novo mundo tecnológico. Para isso, a educação de boa qualidade e continuada é essencial. Recentemente, li um estudo que comprova, com base em uma pesquisa robusta, que uma grande parte das profissões do futuro vai demandar não apenas bons conhecimentos técnicos como também capacidade não cognitiva sintetizada por intuição, empatia, perseverança, energia psíquica, estabilidade emocional e habilidade social. Profissionais que detêm essas características se empregam mais facilmente e auferem renda alta.
Repetindo, desconhece-se quais serão as profissões do futuro, mas se sabe que capacidades cognitiva e não cognitiva serão estratégicas. Conhecimentos aliados à criatividade, à empatia e à coragem serão as habilidades mais buscadas. As escolas terão de preparar as pessoas nessa direção. O que faltar terá de ser apreendido na prática. Mas também será essencial ter recebido uma boa educação nos campos de linguagem matemática, ciências e humanidades. É um desafio e tanto para o Brasil cuja maioria das escolas mal consegue alfabetizar os alunos.

José Pastore é professor da Universidade de São Paulo, Presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomercio-SP e membro da Academia Paulista de Letras.



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