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COISAS QUE ENCHEM A ALMA
Acadêmico: José Renato Nalini
"Depende de cada um de nós fazer algo, por mínimo que seja, para que as noites voltem a ser estreladas"

É célebre a frase final da “Crítica da razão prática” de Kant: “Duas coisas enchem a alma de uma admiração e de uma veneração sempre novas e sempre crescentes, à medida que a reflexão se aplica com mais frequência e constância: o céu estrelado acima de mim e a lei moral de mim”.

Emmanuel Kant é o mais citado filósofo alemão. Pode-se amá-lo ou detestá-lo. Só não se pode ignorá-lo. Nada obstante sua importância para o mundo da filosofia, a “lei moral em mim” ficou muito esmaecida. Talvez até mais do que o céu estrelado, que a poluição impede enxergar nas grandes cidades.

Há uma similitude evidente entre a consciência moral e o espetáculo do mundo. Sêneca, em “Cartas a Lucílio”, já a detectara muito antes das lições kantianas: “Olho a sabedoria com a mesma estupefação com a qual, em outros momentos, enxergo o mundo, esse mundo que muitas vezes me acontece contemplar como se o visse pela primeira vez”.

Nós, contemporâneos imersos numa vida excessivamente requisitada, sem tempo para o essencial, mas com os minutos e as horas envolvidas em compromissos, burocracia e futilidades, necessitaríamos de exercícios espirituais que nos devolvessem a capacidade de olhar o mundo e olhar para dentro de nós.
Se nos compenetrarmos de nossa insignificância perante o universo, do qual somos muito menos do que uma partícula de água cotejada com os oceanos, poderemos chegar à verdadeira humildade. E humildade conduz à tolerância, à ausência do preconceito, à vontade de redimir o mais fraco de sua fraqueza, de fazê-lo integrado nesta grande família humana, que se estranha, se agride e se mata.

Nossa fragilidade só não é maior do que nossa ignorância. Ignorância sobre o que vale realmente a pena, para transitar com dignidade por este curto percurso de algumas décadas, não mais do que isso, por um caminho prenhe de incertezas e de inesperados.

Depende de cada um de nós fazer algo, por mínimo que seja, para que as noites voltem a ser estreladas. Os compromissos para redução da emissão de carbono já foram firmados. É o cidadão que deve obrigar o governo a cumpri-los. Talvez, nessa tarefa, consigamos ressuscitar a lei moral dentro de nossos corações.






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