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INVESTIR É NAS PESSOAS
Acadêmico: José Renato Nalini
"Tudo o que é material um dia desaparece. O que tem existência definitiva é o intangível. O conhecimento, a cultura, a sapiência"

Uma sociedade em busca de desenvolvimento muita vez se confunde e prioriza o investimento material em detrimento do empenho em transformar pessoas. Dir-se-á que a matéria é tangível. Aparece. É reconhecida pelos sentidos. Tem uma vocação de perenidade. Mas esse é um lado da estória. Talvez o lado mais frágil e inconsistente. Quanta coisa o homem já construiu e disso não ficou pedra sobre pedra? Não é apenas na antiguidade que tivemos o incêndio da Biblioteca da Alexandria, a destruição do Colosso de Rhodes, o desaparecimento dos jardins suspensos da Babilônia. Ainda agora a desumanidade destrói templos milenares, demole estátuas, elimina obras de arte históricas e predestinadas à eternidade.

Mesmo neste Brasil de pouca história, a volúpia pela destruição é intensa. Começa pela natureza, como se ela não fosse um patrimônio valioso, capaz de nos salvar e de nos garantir um futuro venturoso. Futuro que se esvai diante da nossa inclemência para com o ambiente. Mas continua nas obras de arte as mais diversas. As mansões da Paulista, os mausoléus da Consolação, os bustos do “Jardim dos Escritores”, triste simulacro a recordar dias melhores bem diante da Academia Paulista de Letras.

Tudo o que é material um dia desaparece. O que tem existência definitiva é o intangível. O conhecimento, a cultura, a sapiência. Tudo isso pode ser potencialmente espontâneo, mas depende de investimento. E os investimentos feitos em gente nem sempre aparecem de imediato. Vão luzir depois de muito tempo. É preciso semear, ver, germinar, cultivar, afastar as ervas daninhas, amparar no crescimento e só então ver desabrochar. De pouco adianta contemplar a matéria, se o ser humano é relegado ou não merece a mesma atenção. Pode ser que o discurso indique a destinação final da obra: atender a uma necessidade humana. Mas isso é falacioso. A única obra meritória é aquela que mira a pessoa. Objetiva e diretamente. Convertendo-a num ser feliz. O mais é ilusão.

Por: José Renato Nalini (fonte: Diário de S. Paulo) | Data: 08/09/2016.



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