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PARA SEMPRE VIVINHA
Acadêmico: Maria Adelaide Amaral
"Era assim que Eva Wilma era chamada pelos amigos e colegas: Vivinha. Tão linda quanto digna - e essa era a opinião geral, um dos raros de unanimidade na classe artística."

Era assim que Eva Wilma era chamada pelos amigos e colegas: Vivinha. Tão linda quanto digna - e essa era a opinião geral, um dos raros de unanimidade na classe artística. Vivinha, foi estrela do balé IV Centenário, provou que também era atriz no Teatro de Arena e brilhou na televisão desde seus primórdios. Alô Doçura, série de Cassiano Gabus Mendes, estreou em 1953 na falecida TV Tupi e ficou mais dez anos no ar. Foi lá que a vi pela primeira vez, ao lado de John Herbert, seu par na arte e na vida e pai dos seus filhos Vivien e John Herbert Jr. No meio da intensa atividade de atriz de teatro, cinema e televisão, ela se apaixonou por Carlos Zara, seu galã na primeira versão Mulheres de Areia, novela de grande sucesso dos anos 70. Vivinha e Zara eram um casal lindo e politicamente muito ativo. Vivinha participara na linha de frente na Passeata dos 100 mil. Carlos Zara era irmão de Ricardo Zarattini, preso e torturado pela Ditadura. A mesma que sequestrara a liberdade, amordaçara o país com a Censura mesquinha e implacável e tinha entre seus projetos asfixiar todos os setores da atividade cultural. Cerrando fileiras com a classe artística, Vivinha e Zara resistiram e lutaram contra o inimigo comum uma guerra que durou vinte anos.
A imagem mais recorrente que guardo de Vivinha e de Zara é sempre eles de mãos dadas. Foram muitos os trabalhos que fizeram na TV como casal romântico ou não. O mais importante era serem escalados para a mesma novela, poderem ir juntos para o estúdio e voltar juntos para casa. Viviam uma história de amor que se provou mais forte quando Carlos Zara foi diagnosticado com uma doença que progressivamente o impediu de andar. Vivinha porém continuou levando o marido para todos os lugares, inclusive nas turnês de teatro que fazia Brasil afora.
Vivinha sempre dava preferência às obras em que podia se apresentar com Carlos Zara. Lembro que ela resistiu muito tempo a montar Querida Mamãe porque era uma peça de duas mulheres e não havia lugar para seu amado. Cartas de Amor, a última peça em que Zara atuou, já sem poder caminhar, foi uma declaração de amor de Eva Wilma a seu companheiro de jornada.
Incansável, Vivinha continuou trabalhando na televisão e no teatro, cada vez melhor e mais entregue às suas personagens. Em Verdades Secretas ela se jogou despudoradamente no papel de Fábia. Foi uma das mais notáveis atuações em sua extensa lista de interpretações notáveis. De Catarina, A Megera Domada a Maria Altiva de A Indomada. Ruth/Raquel, Dinah de A Viagem Maura de A Roda de Fogo, Penélope de Sassaricando, Marquesa D´anjou de Que Rei sou eu?, Dra. Marta da série Mulher, Maria da Cunha de Os Maias, Dona Inês de Delegacia de Mulheres. Você foi todas as mulheres do mundo e nunca deixou de ser você, um exemplo de mulher admirável.
Nos últimos anos você resgatou vocação de cantora, que vinha dos tempos em que foi aluna de Inesita Barroso, e se apresentou ao lado de seu neto no show Casos e Canções ao lado de seu filho John Herbert Jr. Você não podia parar. A cada trabalho se sucedida outro. Doce e firme Vivinha, grande caráter e para sempre minha querida mamãe. Que trajetória extraordinária você realizou como atriz e mulher. Dá gosto pertencer à classe artística e continuar sua luta de resistência contra quem nos deseja amordaçar.

Publicado no jornal O Globo, 17 de maio de 2021.



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