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POESIA NÃO VENDE
Acadêmico: José Renato Nalini
"Poesia é essencial para este mundo consumista, cuja rotina rouba os raros instantes de sensibilidade e nos faz escravos da burocracia e do politicamente correto."

É o nome original do livro de poesias de minha amiga, companheira na Academia Paulista de Letras, a renomada Renata Pallottini. Poeta e dramaturga prestigiada no Brasil e fora dele, oferece esta obra com 130 poemas de instigante inspiração.
Poesia é essencial para este mundo consumista, cuja rotina rouba os raros instantes de sensibilidade e nos faz escravos da burocracia e do politicamente correto. O poeta está numa outra dimensão. Sofre mais, é óbvio, mas consegue enxergar dimensões imperscrutáveis para os autômatos, zumbis robotizados que respiram, caminham, trabalham, mas não têm tempo de amar.
Devorei o livro de uma só vez. A cada verso, impulsionava-me a vontade de prosseguir. E mencionaria muitos, não fora o espaço que me é reservado para refletir e partilhar sensações com aqueles que têm a paciência de me ouvir. Mas me impressionei com “O passado”: “O passado é um cesto cheio de frutas secas. É preciso trincá-las, as doces e as salgadas. É preciso mordê-las, as amargas e as outras”.
Quem é que não encontra amarguras em sua história? Mas também garimpamos instantes mágicos. Como os vivenciados com a linda e querida Lupe Cotrim Garaude, a quem Renata dedica outra poesia: “Todo poeta é uma flor que permanece/Espada aérea e franca/Contra a morte. Todo poeta é uma cor que permanece/No olhar sobrevivente/E na luz das manhãs que voltam sempre/Lupe/Lume de azul/Longe beleza/ Antena sobre o espaço/E carne quente/Sílaba proferida, pesadelos/A transitoriedade que se esquece/Na luta pela vida/Passageira/Todo poeta é uma dor que permanece”.
Também me tocou o texto “A mãe”, que me trouxe recordações de minha permanência de 43 anos no sistema Justiça: “Meu filho está na sarjeta/Alguém matou o meu filho/Tinha poucos anos e/Poucas culpas o meu filho. Era drogado e vencido/O meu filho; e era moço. Igual aos outros, meu filho/Era carne, pele e osso. Ninguém me disse por que/Alguém matou o meu filho. Acho que a alguém molestou/Acho que alguém o marcou. Para morrer, meu menino. Eu o pari, como sempre/Soem parir as mulheres; Com dor e com esperança/Como nascem as crianças. Alguém o ensinou a usar/Isso que usam os malditos. Dinheiro sempre; dinheiro. Dinheiro e gozo da vida. Muita festa e muito ruído/E um amor mal resolvido; Não sei dizer mais do que isso. Não sei dizer. Está dito”.
Sedutor o livro de Renata Pallottini. Há uma sequência chamada “Vida de cachorro”, que merece resenha à parte. A palavra está com os mais doutos. Quanto a mim, só posso dizer que recomendo a leitura. Faz enorme bem para a alma.





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