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DISCURSO DE RECEPÇÃO PELA ACADÊMICA ANNA MARIA MARTINS
Acadêmico: Ruth Rocha
"O ingresso da escritora Ruth Rocha na Academia Paulista de Letras é fato relevante, marco que engrandece a entidade. Considero-me privilegiada por ter sido escolhida para a saudação com que a recebemos."

Seja bem-vinda.

O ingresso da escritora Ruth Rocha na Academia Paulista de Letras é fato relevante, marco que engrandece a entidade. Considero-me privilegiada por ter sido escolhida para a saudação com que a recebemos.

Conhecida no país e no exterior, laureada com prêmios de suma importância, a autora expressa a alta qualidade do trabalho literário.

A carreira profissional de Ruth Rocha, seu poder de comunicação e criatividade ao lidar com a palavra escrita, dirigida à infância e à juventude, situam-na em lugar de destaque na literatura infanto-juvenil.

Se as histórias de Monteiro Lobato marcaram época e chegam a nossos dias como clássicas, sempre atuais, as de Ruth Rocha também significam abertura e marco de rumos criativos. A presença de Ruth Rocha é disputada por escolas, a escritora é admirada e querida pelas crianças.

A entrada de mais uma mulher na Academia Paulista de Letras somos seis agora leva-nos à reflexão sobre a trajetória de conquistas obtidas pela mulher nos vários segmentos de trabalho.

Na área da cultura literária, Maria de Lourdes Teixeira, a primeira mulher eleita para a Academia Paulista de Letras, abriu-nos o caminho. Prisciliana Duarte de Almeida foi fundadora. A entidade passou então a acolher escritoras, juristas, historiadoras. Espaço livre para a intelectual com trabalho de relevância no panorama cultural do país, a APL recebe a mulher com o merecido reconhecimento por sua atividade profissional.

Conheci Ruth Rocha como leitora, quando adquiria seus livros para meus netos. O objetivo era indicar-lhes um texto de excelente qualidade literária, que os estimulasse ao prazer da leitura. E senti grande alegria quando vi uma de minhas netas, Mariana aqui presente, relendo livros de Ruth Rocha e pedindo mais histórias da mesma autora.

Minha admiração por seu trabalho crescia à medida em que a escritora publicava novo livro.

A amizade chegou depois. Teve início quando fizemos parte da Diretoria da União Brasileira de Escritores, sob a Presidência de Ricardo Ramos, acadêmico, amigo que tanta falta nos faz.

O contato pessoal mostrou-me a mulher Ruth Rocha: solidária, atuante, corajosa, preocupada com o destino do país. Suas histórias, dirigidas à infância e à juventude, colaboram para a formação do futuro cidadão e estimulam o leitor iniciante ao amor ao livro.

Sem o ranço de um certo padrão didático já inútil para a criança atual, Ruth Rocha sabe lidar com a palavra escrita, atinge o alvo a que se propõe. A obra literária da escritora realiza-se com textos educativos, destituídos de qualquer pieguice, formalismo entediante ou moralismo forçado.

A voz feminina fortalece a literatura infanto-juvenil. Ao lado de suas companheiras de ofício, tais como Anna Maria Machado, Ana Flora, Fanny Abramovich, Mirna Pinsky, Tatiana Belinky (para citar apenas algumas), Ruth Rocha elabora histórias que prendem o interesse da criança. Como já o fizeram, há alguns anos, Lucia Benedetti e Maria Clara Machado.

Na Academia Paulista de Letras, Ruth Rocha encontra autores que também se dedicam à literatura infanto-juvenil. Francisco Marins, escritor consagrado com obra traduzida e divulgada no exterior. E outros acadêmicos, Hernâni Donato, Ignácio de Loyola Brandão, Gabriel Chalita, autores que entre seus inúmeros trabalhos literários, escrevem histórias voltadas para a faixa etária cultuada pelo grande mestre Monteiro Lobato. Faço uma referência saudosa à memória de Marcos Rey, acadêmico que deixa importante legado literário à juventude.

A partir da década de 70, a literatura infanto-juvenil assume relevância na cultura literária. O livro, dirigido a essa faixa etária, é publicado com requinte editorial. A ilustração, tão importante quanto a boa qualidade do texto, chama a atenção da criança e estimula a leitura.

As histórias de Ruth Rocha contam com excelentes ilustradores. À guisa de exemplo, cito o artista plástico Otavio Roth, parceiro de Ruth na adaptação para a criança da Declaração Universal dos Direitos Humanos e também ilustrador de Azul e Lindo: planeta Terra, nossa casa, livros que ambos lançaram em Nova York na sede da ONU. Outro talentoso ilustrador é Eduardo Rocha, marido de Ruth, autor de belo trabalho para a edição da Ilíada, adaptada pela escritora para o leitor jovem. Jaguar e Walter Ono, entre outros de igual talento, também enriquecem com suas ilustrações as histórias de Ruth Rocha.

Passo agora à referência aos dados biográficos da escritora, à sua formação cultural, às suas obras.

Ruth Rocha nasceu na cidade de São Paulo. É filha de cariocas, Álvaro de Faria Machado, médico, e Esther de Sampaio Machado. Tem 4 irmãos: Rilda, Álvaro, Eliana e Alexandre. É casada com Eduardo Rocha, tem um filha, Mariana, e dois netos, Miguel e Pedro. Sou amiga de Rilda, desde quando fomos assessoras de Almino Affonso, nos anos em que ele foi Vice-Governador do Estado de São Paulo.

Estudou no Colégio Bandeirantes, terminou o Ensino Médio no Colégio Rio Branco. É graduada em Sociologia e Política pela Universidade de São Paulo e pós-graduada em Orientação Educacional pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Durante 15 anos foi orientadora educacional do Colégio Rio Branco.

Em 1967 começou a escrever, para a revista Cláudia, artigos sobre educação. A própria Ruth nos conta: “Durante três anos escrevi para Cláudia. Fiz um artigo sobre preparação para a alfabetização, na época em que a Abril estava produzindo o projeto da revista Recreio. Uma das pessoas no projeto, Sônia Robato, viu meu artigo, que estava bem ilustrado e com exercícios, então, me convidou a fazer os exercícios para a Recreio, a partir de uma história que servia de motivação. Mais tarde, propôs que eu escrevesse a própria história.”

Durante 7 anos Ruth Rocha escreveu para a revista Recreio.

Ainda com Sônia Robato, trabalhou na revista Bloquinho, da Block. Mais tarde, voltou à Abril, como assistente de redação e em seguida como editora-chefe das revistas infantis. A empresa mandou-a aos Estados Unidos para um estágio e lá, diz Ruth, “aprendi a editar livros”. A autora também nos conta que perdeu a inibição para escrever à medida que foi fazendo. “A profissão escolhe a gente e a gente inventa a profissão”.

Publicou seu primeiro livro, Palavras, muitas palavras, em 1976, e, desde então, já teve mais de 130 títulos publicados, entre livros de ficção, didáticos, paradidáticos, e um dicionário. As histórias de Ruth Rocha estão espalhadas pelo mundo, traduzidas em mais de 25 idiomas.

Monteiro Lobato foi sua grande influência. Em sua obra essa influência se traduz por seu interesse nos problemas sociais e políticos, em sua tendência ao humor, nas suas posições feministas.

Seu livro de forte conteúdo crítico, Uma História de Rabos Presos, foi lançado no Congresso Nacional em Brasília com grande número de parlamentares.

Um dos seus livros mais conhecidos é Marcelo, Marmelo, Martelo. Já vendeu mais de um milhão de cópias.

A respeito de sua obra, encontram-se análises críticas formuladas por mestres consagrados, ensaios, resenhas, depoimentos de escritores.

Na impossibilidade, evidente, de referência a uma relação completa dos inúmeros professores e autores que se debruçaram sobre as histórias de Ruth Rocha, cito alguns: Marisa Lajolo, Laura Sandroni, Caio Fernando Abreu, Carlos Moraes, Maria Adelaide Amaral, Mário Prata, entre vários de igual relevância.

Do ensaísta, tradutor e poeta, José Paulo Paes, destaco o seguinte depoimento: “Em Ruth Rocha, o ser humano de expressão e a escritora se completam e se enriquecem mutuamente. Daí não estranhar o prestígio que sua extensa obra literária hoje desfruta. Ela conhece, como ninguém, os caminhos secretos que levam ao coração e à inteligência dos seus pequenos leitores. E os percorre não em nome da pedagogia, mas em nome da arte. Se, além de encantar, suas histórias conseguem infundir o senso dos valores fundamentais a fraternidade, o respeito humano, o amor da justiça, a aversão pela força, o sentimento de igualdade isso se deve à inteireza com que ela pratica o seu ofício.”

Da extensa produção literária de Ruth Rocha, atenho-me a alguns títulos. A bibliografia completa exigiria longo espaço de tempo. Complementando os livros já referidos, enfatizo a publicação de:

O reizinho mandão 1979
O que os olhos não vêem 1981
Faca sem ponta, galinha sem pé 1983
A menina que aprendeu a voar 1983
Quando eu comecei a crescer 1983
De repente dá certo 1986
O mistério do caderninho preto 1991

Ruth Rocha ganhou os mais importantes prêmios destinados à literatura infanto-juvenil: Fundação Nacional do Livro; Câmara Brasileira do Livro (cinco Prêmios “Jabuti”); Associação Paulista dos Críticos de Arte; Academia Brasileira de Letras; Prêmio João de Barros da Prefeitura de Belo Horizonte; Prêmio Moinho Santista da Fundação Bunge, em 2002; Prêmio Conrado Wessel em 2006.

É membro do Pen Club, Associação Mundial de Escritores no Rio de Janeiro. Foi membro do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta. Participou durante seis anos do programa de televisão Gazeta Meio-Dia como membro fixo da mesa de debates.

Em homenagem à obra de Ruth Rocha, seu nome é escolhido para dar título a escolas, bibliotecas e salas de leitura.

Em 1998 a escritora foi condecorada pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso com a Comenda da Ordem do Mérito Cultural do Ministério da Cultura.

A Cadeira nº 38, vaga com a morte do escritor e jornalista, o Professor Nilo Scalzo que, durante vários anos, dirigiu o Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo e exerceu o cargo de 1º Secretário na Diretoria da APL, esta Cadeira nº. 38 é agora devidamente preenchida por Ruth Rocha. A Academia Paulista de Letras recebe com admiração, respeito, muita alegria, a escritora que é um orgulho para as letras nacionais. Seja bem-vinda, Ruth Rocha.

Anna Maria Martins.





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