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UM CARDEAL PARA A AMAZÔNIA
Acadêmico: José Renato Nalini
Papa Francisco acaba de nomear um Cardeal para a Amazônia, como testemunho de que está angustiado com o desmatamento recorde a cada mês mais intenso.

Um cardeal para a Amazônia


Papa Francisco, o Pontífice Ecológico, não é apenas o autor da Encíclica “Laudato Si”, que enfrenta a cruel destruição da natureza. Ele acaba de nomear um Cardeal para a Amazônia, como testemunho de que está angustiado com o desmatamento recorde a cada mês mais intenso.

Dom Leonardo Steiner, 71 anos, nasceu em Forquilhinha, em Santa Catarina, berço natal de Dom Paulo Evaristo Arns e de sua irmã Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança e que está em vias de ser beatificada pela Igreja.

Quando o chefe de Estado do Vaticano e Pontífice Máximo da Igreja Católica Apostólica de Roma nomeia um Cardeal de Manaus, deixando de lado Fortaleza e Porto Alegre, tradicionais sedes cardinalícias, ele evidencia o quão a Mater Eclesia está preocupada com a condição de “Pária Ambiental” que o Brasil assumiu há três anos.

Para o novo Cardeal, a escolha de não-europeus revela o rosto católico da Igreja. É o desejo do Papa de uma igreja sempre mais inserida, mais colorida, que assuma as sementes da presença do Deus encarnado nas diversas culturas.

A bússola para que a humanidade se conduza saudável e racionalmente nestes tempos plúmbeos é o Evangelho. Antídoto contra as ideologias fechadas, combativas e não dialogantes.

Em Manaus desde 2020, enxerga questões gritantes como garimpo criminoso, violência, extermínio da biodiversidade, saúde e poluição. “O garimpo é a agressão do meio ambiente e, por isso, da casa dos povos indígenas, da nossa casa comum. O garimpo está destruindo as águas. O mercúrio é uma maldição! Para os donos do garimpo, não importa a vida dos outros, as pessoas, os povos. O que importa é o ouro, o dinheiro. Nada mais interessa”.

Dom Leonardo Steiner vê a nefasta colaboração do governo na destruição, pois deveria proteger, mas não fiscaliza, ataca as instituições. Tudo incentiva o garimpo e deixa as comunidades indígenas desprotegidas. “Perdeu-se o horizonte da ética nas relações e, por isso, a justiça”.

A participação do cristão na política é um dever evangélico. Fazer a boa política, não a política profissional, que hoje é sinônimo de corrupção e de conchavo. Quando a Democracia funciona, os lucros serão maiores. “A política deve voltar a ser assunto nos bares, nas escolas, na universidade, na pastoral”.

O fato de a República Federativa do Brasil ser um Estado leigo não implica em decreto de silêncio da Igreja. Os políticos profissionais são membros vinculados às suas Igrejas, notadamente cristãs. Se no tempo da ditadura a Igreja era o espaço onde existia liberdade de discutir política, se a Igreja foi acusada de se imiscuir na política, ela nunca elegeu bancada católica, assim como hoje existem bancadas de outras confissões.

Antes de ser Cardeal, Dom Leonardo Steiner esteve no Supremo Tribunal Federal para externar, em nome da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a importância do órgão de cúpula do Poder Judiciário brasileiro. Ele enxerga com pesar a tentativa de destituir as instituições de seu valor. O mesmo em relação ao Congresso: “Se o Congresso deixa de ser a Casa do Povo para ser a casa de interesses de bancadas, onde os pobres encontrarão guarida e serão participantes da ação política?”.

Também é inadmissível deslegitimar a Justiça Eleitoral, que sempre garantiu eleições limpas e preservadoras da Democracia.

Um Príncipe da Igreja na Amazônia pode equivaler a um exorcismo que livre a região de criminosos dendroclastas, garimpeiros, grileiros e matadores de indígenas. Que seja assim!


Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão
Em 28 06 2022



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