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QUEM APROVOU?
Acadêmico: Roberto Duailibi
“Não sou contra o carnaval, muito pelo contrário, sou um dos poucos sobreviventes entre os fundadores da Banda de Ipanema (eu, o Ziraldo, o Jaguar e o Carlos Leonam),”

Quem aprovou?

É revoltante ver como o funk e o rap se impõem na base de alto-falantes de extrema potência. Quando desfilou o Simpatia, eles subiram o som para abafar o trio elétrico.

O Rio de Janeiro é, sem dúvida, a mais rara combinação do talento humano com a beleza natural. Bairros como Ipanema e Leblon estão entre as coisas boas que foram criadas. As avenidas Vieira Souto e Delfim Moreira, largas, arborizadas, ladeadas de praias, como não se encontra em nenhum outro lugar do mundo, constituem um patrimônio incalculável. Tudo emoldurado pela natureza impecável. Mas o sonho dos que viram nesses bairros um lugar tranquilo — e que permitisse todos os dias trabalho e um lugar digno para descansar, viver e criar suas famílias — está ameaçado. A cena da senhora que foi comprar pão recebendo uma gravata, ou mata-leão, e sendo assaltada por quatro homens é emblemática do fim dos tempos.

O que mais me espanta em tudo isso é a falta de autoridade, de respeito. Vejam, por exemplo, a apropriação do espaço público na praia para uso comercial. Pois no último réveillon e, agora, no carnaval, os dois bairros foram contaminados por estranhos que, em conluio com alguém na prefeitura, se apoderaram de três hectares nas areias do Leblon, ao lado do Jardim de Alah (bem no meio entre Ipanema e Leblon e com um corredor para a Lagoa) e ali instalou o mais odioso dos pancadões.

Como se tivessem instalado centenas de caminhões diesel poluindo os bairros com uma fumaça intoxicante, o som insuportável invadiu casas, apartamentos, hotéis, escolas, igrejas, clínicas do Leblon, do Vidigal, da Cruzada São Sebastião, da Lagoa, de Ipanema, do Arpoador — das 14h às 22h, oito horas de gritaria, de pancadas, funk, rap e axé. A tortura começou no dia 10 de fevereiro e vai até o dia 18. Vi vários moradores indo ao pancadão reclamar do som. Duas senhoras, tratadas de forma indiferente, foram rodeadas por seguranças, que apenas repetiam “licença da prefeitura”.

Isso é falta de respeito com a vizinhança e a cidade. A praia é pública, não se pode cobrar entrada em nenhuma parte dela, ainda mais em três hectares. Quem deu a licença? Quem assinou sabia que a “festa” era uma agressão aos que pagam IPTU? O hotel em frente, Praia Ipanema, esvaziou. Vizinhos tiveram que viajar. O som era tão alto que ensurdecia.

Não sou contra o carnaval, muito pelo contrário, sou um dos poucos sobreviventes entre os fundadores da Banda de Ipanema (eu, o Ziraldo, o Jaguar e o Carlos Leonam), mas me revolta ver como o funk e o rap se impõem na base de alto-falantes de extrema potência. Quando desfilou o bloco Simpatia É Quase Amor, eles aumentaram o volume dos alto-falantes para abafar o trio elétrico.

Alguns cartazes informavam que a esbórnia era promovida por uma agência de nome FAÇA, por ironia localizada na Rua do Ouvidor. Não há uma referência a que órgãos da prefeitura ou de preservação do meio ambiente tal licença foi pedida. Aparentemente, o evento não tem patrocinadores, mas em troca de R$100 você podia entrar no cercado da praia e receber um balde com oito garrafas de cerveja. Conversando com um grupo de cariocas apaixonados pelo Rio, dedicados agora a agir no sentido de recuperar a imagem da cidade — um dos grandes patrimônios turísticos do mundo —, soube que Marcelo Alves, presi dente da Riotur, achou um absurdo e, em pleno carnaval, conseguiu cassar a licença. Mas, na Quarta-Feira de Cinzas tudo voltou como antes. Afinal, quem aprovou a tal licença? Tem nome? Tem cargo? Sabia que estava cometendo uma violência contra a população?




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