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REVOLUÇÕES PAULISTAS
Acadêmico: José Renato Nalini
Tão importante para os brios bandeirantes foi a Revolução de 1932, que ela obscurece três outras, que também merecem atenção.

Revoluções paulistas

Tão importante para os brios bandeirantes foi a Revolução de 1932, que ela obscurece três outras, que também merecem atenção. A Bernarda de Francisco Inácio, em 1821, a Revolução Liberal de 1842 e a Revolução de 1924.

Sigamos a ordem. Nove anos depois da Independência, tropas e povo do Rio de Janeiro estavam descontentes com as arbitrariedades do Imperador Pedro I. O filho e sucessor, Pedro II, tinha apenas cinco anos e a regência trina, se teve situação tranquila em São Paulo, Minas e Rio, enfrentou surtos de separatismo em Pernambuco, Pará e Maranhão, além do Rio Grande do Sul.

Em 1841, os liberais paulistas e mineiros começam a se indispor com o regime conservador, ao qual se voltara Pedro II, após a maioridade aos quinze anos. Em 1º de janeiro de 1842, Feijó comunicou a Assembleia Provincial que três leis recentes indicavam absolutismo e escárnio à Constituição. A Assembleia peitou o Imperador. Comunicou que adiaria a vigência das leis, até que fossem declaradas inconstitucionais. Tão agressiva a manifestação, que a delegação que a levava sequer foi recebida e Nicolau Vergueiro, que a integrava, foi demitido da diretoria das Arcadas.

O governo imperial manteve-se firme e os liberais sentiram-se perseguidos. Uma prevenção contra São Paulo, que se manteve desde então e até agora. O Presidente da Província era Rafael Tobias de Aguiar e o governo o substituiu por um conservador, Miguel de Souza Melo e Alvim. Como este fosse muito conciliador, por sua vez também foi substituído por José da Costa Carvalho, antigo bernardista e diretor de "O Farol Paulistano".

Os liberais começaram a se armar, sob a liderança de Feijó, Vergueiro e Tobias Aguiar. Este era homem honesto, condescendente, generoso, rico em razão do comércio de gado em Sorocaba. Fazia concessões. Dissuadia os mais revoltados, que já estavam prontos para a luta.

Mesmo assim, o governo central ordenou sua prisão. Ele conseguiu escapar e foi para Itu a 13 de maio. Entretanto, os insurretos já haviam tomado Sorocaba três dias antes. Foi para Sorocaba, onde Câmara, povo e tropas o aclamaram presidente. Conclamou-se todo paulista a aderir à Revolução. Dia 20 de maio de 1842, Feijó chegou de Campinas, claudicando, fisicamente combalido, mas muito irado. Entre 27 de maio e 16 de junho, publicou quatro números do jornal agressivo "O Paulista".

Formou-se a "Coluna Liberadora", com mais de mil homens, com a intenção de tomar São Paulo. Mas o Barão de Caxias chegara a Santos em 21 de maio, com um Exército Pacificador. Encontrou seu amigo Monte Alegre e a Igreja, muito solícita. Em Sorocaba, Tobias de Aguiar encobria o seu desalento. A 2 de junho, os rebeldes se eclipsaram dos arredores da capital. Embora Tobias de Aguiar tenha entrado pessoalmente em campo, as forças estavam desbaratadas e desmoralizadas perto de Campinas. Caxias entrou galhardamente em Sorocaba, sem resistência. De uma janela, o velho Feijó, cambaleante em suas muletas, gritava aos que fugiam: "Correi, ó fracos e poltrões! Eu aqui fico para defender-vos!".

Comparada com a Bernarda de Francisco Inácio de 1821, a Revolução de 1842 guarda a identidade de deflagração contra a autoridade provincial constituída. Na Bernarda, a autoridade estava sem apoio. A oposição retirou-se para o interior. Em 1842, os representantes do Imperador estavam muito fortes. Foram os revoltosos e não os governistas que fugiram para o interior.

Em 1844, o Imperador anistiou todos os que participaram da Revolução. Dois anos depois, viajou pelas Províncias do Sul com a Imperatriz. A 26 de fevereiro de 1846, foram entusiasticamente aclamados em São Paulo, onde permaneceram, ressalvadas viagens ao Interior, at´12 de abril. Tobias de Aguiar fez parte do comitê de recepção e compareceu a todas as festas. D. Pedro distribuiu títulos honoríficos, assistia a conferências e defesas de teses na Academia, representações dramáticas de estudantes, bailes em sua honra, nos quais dançava com as filhas dos vereadores.

São Paulo começava a adquirir os seus novos valores: grandeza imperial, europeização, festas dispendiosas, romance, refinamento, curiosidade científica, bem-estar material, cultura cosmopolita, código de urbanidade, educação cavalheiresca. Revoluções, só haveria mais duas: 1924 e 1932. Mas estas, merecem outra reflexão.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão
Em 03 05 2023



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