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DINHEIRO MUDA ATÉ CONSCIÊNCIA
Acadêmico: José Renato Nalini
Dinheiro faz milagre: é capaz até de mudar a consciência mais empedernida, para torná-la ecológica.

Dinheiro muda até consciência

A questão ambiental, a mais grave ameaça que recai sobre a humanidade, tem sido negligenciada porque o mercado a rotulou como algo antípoda ao lucro. Só que a situação está mudando. Se ela não for tratada com seriedade e urgência, causará é muito prejuízo. Para todos.

Por isso é que a economia passou a considerar a ecologia com a devida consideração. Os impactos econômicos da devastação florestal, – que é a maior causa do aquecimento global -, são reais e superiores aos prognósticos. Os eventos recentes, quais a seca na Europa e na Ásia, o escaldante verão sentido em Paris e Londres, o Reno impedido de ser navegado, tudo isso alertou a economia global.

Aqui, inimaginável que o Pantanal se incendiasse e que o Amazonas, que tem o maior rio do mundo, vivenciasse uma seca. Para remediar os males já sofridos pelo planeta, diz o PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, serão necessários de trezentos a quinhentos bilhões por ano. Diante de tais cifras, a apreensão faz com que insensíveis passem a pensar em ecologia.

O risco socioambiental entrou também no radar dos Bancos Centrais e eles cobrarão postura compatível do sistema financeiro. Risco empresarial e risco país serão afetados pelo risco ambiental e climático. Mas a crise, ao se agravar, favorece o Brasil. A despeito da destruição orquestrada de todos os biomas, da entrega de áreas indígenas para a exploração criminosa do garimpo de ouro, da tendência à desertificação resultante do ciclo – derrubada, incêndio, plantio de soja, pasto e, finalmente, deserto – nosso país ainda pode oferecer atrativo para o investidor estrangeiro.

Há setenta trilhões de dólares à espera de segurança jurídica para aquisição de crédito de carbono. Os Compromissos Nacionais Determinados de todos os quase duzentos países signatários do Acordo do Clima, deverão ser revistos com o intuito de aumentar os índices necessários a coibir o perigoso aquecimento. Não se está cumprindo o avençado e a situação piora expressivamente. Isso obrigará revisão de metas. Elas foram modestas. Precisam ganhar em ambição. O mundo exige.

Antes mesmo de regulamentação governamental, o mercado voluntário de crédito de carbono se move. Em 2021 atingiu dois bilhões de dólares, enquanto em 2020 o movimento era de quinhentos milhões. Mas isso é só o início. Calcula-se que até 2030, ele possa alcançar mais de cento e vinte bilhões de dólares. E o Brasil, que figura com módicos 12 da demanda global de créditos de carbono, poderia se aproximar dos 50.

Não se pensa naquilo que o nosso país poderia oferecer ao planeta em termos de agricultura familiar, em exploração da exuberante biodiversidade, uma das mais copiosas da Terra, a atender a objetivos alimentares, farmacêuticos e estéticos. O turismo é uma indústria potente e o Brasil teria tudo para torná-lo parte importante da economia tupiniquim, houvera preservação ambiental, investimento na qualidade de serviços e na segurança, hoje tão precária.

Sem falar que novas profissões devem ser estimuladas, como engenheiro florestal, cientistas silvícolas, especialistas em regeneração da terra exaurida, técnicas de multiplicação de sementes, mudas, formação de viveiros, além do pessoal que cuidará do plantio e cuidado da terra.

O Brasil tem ativos ambientais importantes. Toda cidade brasileira tem condições de desenvolver projetos que levem a um trato mais amigo da cobertura vegetal e da terra. O replantio é uma obrigação de todos os brasileiros. O país perdeu um bilhão de árvores. Que município brasileiro é incapaz de dar o exemplo de cidade inteligente e ecológica? Chamar a sociedade, o empresariado, a juventude, as escolas e as ONGs. Todos podem fazer algo para tornar melhor o ambiente maltratado e desprezado.

Não é preciso esperar que tudo venha do governo federal. O município é também uma entidade da Federação. Tem de valer essa verdadeira “promoção” que lhe conferiu o constituinte. Se não for por amor à natureza, que seja pelo amor ao dinheiro, este já bem conhecido. Dinheiro faz milagre: é capaz até de mudar a consciência mais empedernida, para torná-la ecológica. E com isso, ganha o planeta, ganha a humanidade, ganham as futuras gerações.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão/Opinião
Em 13 11 2022



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